A culpa da desclassificação da Seleção Brasileira no Sul-Americano é do técnico, mas também é da CBF e dos clubes, que cuidam mal de suas categorias de base

Rogério Micale, ex-treinador da Seleção Brasileira sub-20 | Foto de: Celso Junior/Getty Images)

Os clubes brasileiros e a própria seleção tratam treinadores como mágicos — seres de outro mundo — quase infalíveis. Muitas vezes, eles pegam times desarranjados e são obrigados a tentar ajustá-los em pouco tempo, o que raramente é possível. Quando há muitos craques, como no Barcelona, é mais fácil montar um time vencedor. Quando se tem uma equipe com jogadores medianos, é preciso dar mais tempo aos técnicos. No caso da Seleção Brasileira, sobretudo nas categorias de base, há um complicador. Os clubes em geral tratam mal seus jogadores jovens, principalmente se não forem craques indiscutíveis — “commodities” para mercadejar na Itália, na Espanha, na Inglaterra e na Alemanha — e o técnico da Seleção não tem, por certo, condições de transformá-los, em curtos períodos, em atletas de primeira linha.

A imprensa noticia secamente a demissão do técnico Rogério Micale, da seleção sub-20. “O Globo” publica, endossando a versão da CBF: “Ele foi demitido nesta segunda-feira pela CBF após a péssima campanha da seleção brasileira no Sul-Americano da categoria. O Brasil ficou apenas no quinto lugar na fase final e consequentemente fora do Campeonato Mundial Sub-20, que será disputado ainda este ano”. A irritação do texto sugere que o Grupo Globo — que transmite jogos de futebol e ganha dinheiro com publicidade — aprovou a demissão de Rogério Micale, o “único” culpado pela desclassificação da seleção. Para proteger a aliada CBF e ignorar o “escravagismo” de alguns clubes, é mais adequado culpar Rogério Micale, o bode expiatório da hora.

Em 2016, com uma equipe de qualidade, Rogério Micale ajudou a Seleção Brasileira a ganhar a medalha de ouro nas Olimpíadas.