Caso Chico Pinheiro sugere que Globo quer criar eunucos mentais
10 abril 2018 às 17h25
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O jornalista-apesentador do Bom Dia Brasil tem o direito de ter opinião positiva sobre Lula e negativa sobre quem quiser
Não dá mais para segurar a opinião de ninguém — nem mesmo da turma do muro de Berlim chamado TV Globo. Jornalistas, como os demais mortais, têm o direito de expor suas opiniões, mesmo quando diferentes das opiniões dos donos e editores dos meios de comunicação nos quais trabalham. O debate do momento é sobre um áudio no qual Chico Pinheiro, um dos mais qualificados apresentadores da Globo, faz comentários sobre a prisão do ex-presidente Lula da Silva. O profissional afirma: “Ele [Lula] precisa sair, sim, mas vai sair na hora que for a hora. Que Lula tenha calma, sabedoria, inspiração divina, para ficar quieto ali um tempo, onde está. A direita não tem o que fazer. Os coxinhas estão perdidos. Precisam de outro caminho agora. Como ele disse [sobre o discurso de Lula no sindicato, antes da prisão], não sou mais um ser humano, sou uma ideia. Ideia não se prende, a gente tá solto”.
As opiniões de Chico Pinheiro podem não agradar “A” ou “B” — sobretudo a direção da TV Globo, que posa de independente (quando ninguém é independente e imparcial neste sertão composto de veredas) —, mas por que não pode tê-las? Na verdade, pode e deve tê-las. Não há nada de absurdo no que diz — trata-se de opinião. Penso diferente do apresentador, mas não posso negar-lhe o direito de exprimir o que pensa. O diretor de Jornalismo da TV Globo, o competente e sério Ali Kamel, não pode se comportar como uma espécie de “policial da opinião” ou como chefe de “eunucos mentais”. O fato de Chico Pinheiro defender Lula não significa necessariamente que não terá credibilidade para entrevistar Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro ou Marina Silva. Talvez, por defender Lula, se comporte até com mais isenção. Mas o que importa mesmo é que seja um entrevistador firme e qualificado com todos os candidatos.