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Carlos César Higa tem rosto de garoto e é garoto. Mas, acima de tudo, Higa é um intelectual. Não um intelectual qualquer. Trata-se, isto sim, de um intelectual público, quer dizer, daqueles que avaliam que é preciso comunicar as ideias sofisticadas e, às vezes, complexas e problemáticas do meio acadêmico. Outra característica do pesquisador infatigável é sua capacidade de produzir textos de qualidade e, sobretudo, numa linguagem acessível, mas sem simplificar as ideias. O jornalista liga e pede, já cobrando: “Preciso de um texto de 50 linhas sobre tal assunto”. Higa estuda a pauta, faz pesquisas e conexões, e, em seguida, envia um texto impecável e quase sempre surpreendente. Aliás, deveria reunir seus textos esparsos e publicá-los em livro.

Nos últimos anos, Higa dedicou-se a uma pesquisa exaustiva sobre Carlos Lacerda, um dos mais notáveis políticos e jornalistas do Brasil. Ele sempre soube que não estou entre os admiradores de Lacerda, mas, como muitos, tenho uma curiosidade insaciável pelo período em que viveu e, mesmo, por suas ideias, estapafúrdias ou não. Lacerda é desses homens aos quais ninguém, conhecendo seu pensamento e ações, fica indiferente. Tanto que é difícil ficar em cima do muro. Quase sempre se é pró ou contra.

Na semana passada, Higa defendeu sua dissertação de mestrado — “Exilado em Seu Próprio País: A Narrativa Lacerdiana Sobre a Política Pós-1964” —, que, se levada ao formato livro, pode ganhar destaque nacional. A dissertação pode ser consultada na Biblioteca da Universidade Federal de Goiás. Lacerda é um dos temas espinhosos da história recente do país e examiná-lo sem parti pris ideológico é sempre muito difícil. Unindo paixão e rigor — fica-se com a impressão de que leu (e entendeu) tudo sobre o seu personagem —, Higa enfrentou e decifrou o mito, ou parte dele, tornando-o, certamente, mais humano, mais próximo de nós. O objetivo do pesquisador não é “aumentar” ou “diminuir” o tamanho de Lacerda, e sim compreendê-lo, situá-lo no jogo político de seu tempo.

Higa foi orientado pela professora-doutora Fabiana de Souza Fredrigo, da Universidade Federal de Goiás, um centro de excelência em pesquisa histórica.