Quer dizer que, apesar de ter mandado matar 6 milhões de judeus, Hitler, não sendo homossexual, era melhor do que os gays?

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O filósofo e crítico literário José Guilherme Merquior costumava dizer que no Brasil jornais e revistas convidavam pessoas de miolo mole para dar entrevistas sobre qualquer assunto. A crítica de Merquior — que faz mais falta do que Paulo Francis — é precisa, menos quando circunscreve o problema à terra de Machado de Assis. Em vários países, como Inglaterra, Estados Unidos e Filipinas, pessoas famosas, mesmo quando desprovidas de conhecimento amplo sobre determinado tema, são convidadas a opinar e o resultado são, por vezes, asneiras a granel. Agora, para não variar, é a vez do filipino Manny Pacquiao, um dos maiores lutadores de boxe de todos os tempos, e ainda em ação. Candidato para o Congresso das Filipinas, o boxeador deu “porco às pérolas”: “Casais gays são piores que animais”.

O católico Pacquiao, o Pacman, deu a entrevista polêmica à TV5. Ele quer ser senador e, como integra um partido conservador, adotou uma plataforma altamente conservadora, sobretudo retrógrada. As reações foram imediatas: “Ignorante”, “hipócrita” e “falso profeta”. O atleta, popular, tende a ser reeleito. Mas não precisa, para consagrar-se eleitoral e politicamente, de ideias tão reacionárias e bisonhas.

Pacquiao expôs sua “teoria”: “Você vê animais acasalando com o mesmo sexo? Animais são melhores porque eles distinguem macho de fêmea. Se um homem se relaciona com homem e mulher se relaciona com mulher, eles são piores que animais”. Fica-se com a impressão de o boxeador deprecia tanto os gays quanto os animais. Ele não diz que vital mesmo é saber se a pessoa é cidadã de bem ou não — a sexualidade não deve ser posta em questão, porque diz respeito a cada indivíduo. O nazista Adolf Hitler mandou matar cerca de 6 milhões de judeus, mas, se o político austríaco-alemão não era gay, era uma boa pessoa e melhor dos que os animais? Evidente que não. A “teoria” de Pacquiao é furada, uma bobagem.

Ante as reações negativas, Pacquiao contemporizou — “como cristão, ora por todos” —, mas não disse que estava errado.