Bolsonaro deve agir com urgência para o Brasil não ser transformado num imenso cemitério

10 março 2021 às 12h27

COMPARTILHAR
Sinto-me incomodado com o silêncio dos Conselhos de Medicina. Não só eu. Drauzio Varella também tem falado sobre a omissão do Conselho Federal de Medicina
Antônio Martins de Macedo
Especial para o Jornal Opção
É da competência de um presidente da República indicar tratamento médico, propagar medicamentos e estimular a automedicação? E o agravante é que reiteradamente a comunidade científica desaconselhou o uso de Cloroquina e Ivermectina para combater a Covid-19 porque não há comprovação de benefícios contra a doença. O que se esperava e ainda se espera do presidente Jair Bolsonaro é que assuma de fato o seu papel de líder maior do país e use todos os meios de comunicação, com frequência, pedindo à população pra usar máscara e evitar aglomerações. Entretanto, o gestor nacional agiu e age exatamente contra a racionalidade e o bom senso. Para piorar, nas suas entrevistas vulgariza piadinhas, por vezes ofensivas, referindo-se aos que buscam os meios de prevenção preconizados, num total desapreço às famílias enlutadas do país.

Bolsonaro foi crítico das vacinas e ainda é. Por isso, a sua posição paralisante em relação às mesmas. Preferiu continuar na “gafe mundial” do tratamento precoce, embora seus dois primeiros ministros da Saúde, ambos médicos, tenham manifestado posições contrária à sua — daí terem saído do governo. O ministro atual, Eduardo Pazuello, é leigo e, como é apegado ao cargo — general, estaria esperando uma promoção —, obedece cegamente às loucuras do presidente. Depois da cloroquina, o governo Bolsonaro agora discute o uso de spray nasal. Mas os cientistas postulam que ainda se sabe qual é sua eficácia contra a Covid. Ora, é melhor recuperar o tempo perdido e conseguir vacinas para imunizar o maior número de pessoas. Comprar vacinas e vacinar os brasileiros é o caminho lógico, racional. Não há outra solução, digamos, mágica.

Falo como médico e, por isso, avalio que, neste momento, o debate ideológico entre esquerda e direita não têm relevância. As pessoas que estão doentes e suas famílias não se interessam pelo debate entre grupos políticos radicais. O que todos querem é sobreviver. Quase 270 mil indivíduos já morreram por causa da Covid. Muitos deles, se o governo fosse eficiente e minimamente preocupado com a vida, estariam vivos, com suas famílias. Os cemitérios estão lotados e a superlotação vai avançar, infelizmente.
Sinto-me incomodado e decepcionado com o silêncio dos Conselhos Regionais e Federal de Medicina. Não só eu. Drauzio Varella também tem falado sobre a “omissão” do Conselho Federal de Medicina.
Lutemos pelo Brasil. Lutemos pelos brasileiros. A nossa guerra é uma busca da paz, em prol da vida. Só isso.
Antônio Martins de Macedo é médico.