Blogs de Catalão cobrem assassinato de psicóloga com precisão e sem sensacionalismo
07 agosto 2022 às 00h01
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Antes da internet, tínhamos jornais e revistas internacionais (“New York Times”, “The Guardian”, “El País”, “Time”, “The Economist”, entre outros. Era possível adquirir “El País”, “Times”, “Newsweek” e “Time” nas bancas de São Paulo e Rio de Janeiro. Cheguei a comprar “The Economist” e “Time” em Goiânia), nacionais (“O Estado de S. Paulo”, “Folha de S. Paulo”, “O Globo”, “Veja”, “CartaCapital” e “IstoÉ”) e locais (Jornal Opção, “O Popular”, “Diário da Manhã”). Com a internet, o quadro mudou.
A rigor, todos os jornais se tornaram nacionais e, mesmo, internacionais. O Jornal Opção, por exemplo, é lido em vários países, como Alemanha, Inglaterra, França, Estados Unidos, Espanha e Portugal. Recentemente, um grupo de diretores de cinema da Alemanha esteve em Goiânia em busca de informações sobre o judeu Stanislaw Smajszner, um dos participantes da revolta do campo de extermínio de Sobibor, na Polônia, na década de 1940. O jornalista alemão Martin Kaul, que trabalha com os cineastas, havia lido no Jornal Opção reportagens sobre Szmajzner (morou no Rio de Janeiro e em Goiânia) e por isso buscou apoio do jornal.
Quando relatou que uma brasileira foi decisiva na publicação do primeiro livro do britânico George Orwell, a redação recebeu mensagens do Rio Grande do Sul e da Inglaterra (uma delas, de um especialista inglês, fazia correção num trecho do texto).
Os jornais, todos eles, se tornaram “do” mundo — sem exceção. É claro que jornais como “The Guardian”, “New York Times” e revistas como “Economist” e “Time” continuarão a ser mais lidas, até porque o inglês se tornou uma espécie de esperanto (com o devido perdão aos estudiosos do idioma). Mas qualquer jornal, de todos os países, pode ser lido em qualquer parte do planeta. Nem a língua é uma barreira. Mesmo quem não domina um idioma menos estudado pode usar mecanismos de tradução imediata.
Em Goiás, os jornais da capital eram (e ainda são) mais lidos. Os jornais do interior eram menos conhecidos e pouco lidos. Hoje, os jornais do interior — há blogs que são verdadeiros jornais — têm qualidade e sua audiência é, por vezes, alta. E têm, no geral, forte conexão com suas comunidades (jornais de Goiânia não cobrem de maneira adequada o que acontece no interior).
Veja-se o caso de Catalão, município do Sudeste de Goiás. Recentemente, ao buscar informações sobre o assassinato da psicóloga Daniele Salvador, ocorrido no município, verifiquei a precisão dos jornais e blogs (que, a rigor, são jornais) locais. Usei, para elaborar a reportagem do Jornal Opção, informações do “Zap Catalão” e do “Blog do Badiinho”. Os dois são bem escritos e suas reportagens são bem apuradas e cuidadosas. E sem sensacionalismo. Foram cuidadosos ao apresentar os fatos e ao evitar a publicação dos boatos a respeito dos motivos da morte da jovem. Não deixaram de falar sobre a possibilidade de “crime passional”, mas sem mencionar nomes, ou seja, não excederam. E apresentaram os responsáveis pelo assassinato como “suspeitos”, o que é o correto.
Na cobertura do assassinato de Daniele Salvador, estavam, sempre, um passo à frente dos jornais de Goiânia. Enquanto “O Popular” informava que não havia conseguido entrevistar a delegada responsável, a imprensa de Catalão divulgava uma entrevista (com vídeo e texto) com a policial civil. Em seguida, o “Zap Catalão” e o “Blog do Badiinho” publicaram reportagens sobre a prisão de dois suspeitos do crime, com nomes, fotografias e vídeo. No mesmo dia, o “Pop” mantinha a reportagem a respeito de apenas uma prisão. (O Zap Catalão mantém entre seus colunistas o economista Luís Estevam, doutor pela Unicamp. Trata-se simplesmente de um dos maiores conhecedores da história e da economia de Goiás. E é autor de um romance excepcional, “Fuero”.)
O caso revela como a comunicação mudou. Os blogs de Catalão fizeram uma cobertura jornalística muito superior à dos jornais da capital e, confiáveis, se tornaram fontes das reportagens dos veículos tradicionais.
O fenômeno se repete em várias outras cidades, como Rio Verde, Caldas Novas, Itumbiara, Anápolis e Uruaçu. Em Rio Verde, uma fonte de informação segura é o programa do radialista Costa Filho, sempre preciso na cobertura de política. No Sudoeste, dada sua credibilidade, é um dos campeões. Em Uruaçu, há dois jornalistas de primeira linha — Jota Marcelo e Lázaro Gomes (sua televisão na internet incomoda políticos, por exemplo, porque o repórter-apresentador é incisivo. Ele faz questão de frisar que o espaço está sempre aberto para o contraditório). Em Itumbiara, o jornal de Erivaldo Máximo faz o maior sucesso. Em Rialma, o craque é o radialista Beto Mendes, responsável por entrevistas polêmicas que eventualmente balançam a política estadual.