Antes da internet, tínhamos jornais e revistas internacionais (“New York Times”, “The Guardian”, “El País”, “Time”, “The Economist”, entre outros. Era possível adquirir “El País”, “Times”, “Newsweek” e “Time” nas bancas de São Paulo e Rio de Janeiro. Cheguei a comprar “The Economist” e “Time” em Goiânia), nacionais (“O Estado de S. Paulo”, “Folha de S. Paulo”, “O Globo”, “Veja”, “CartaCapital” e “IstoÉ”) e locais (Jornal Opção, “O Popular”, “Diário da Manhã”). Com a internet, o quadro mudou.

A rigor, todos os jornais se tornaram nacionais e, mesmo, internacionais. O Jornal Opção, por exemplo, é lido em vários países, como Alemanha, Inglaterra, França, Estados Unidos, Espanha e Portugal. Recentemente, um grupo de diretores de cinema da Alemanha esteve em Goiânia em busca de informações sobre o judeu Stanislaw Smajszner, um dos participantes da revolta do campo de extermínio de Sobibor, na Polônia, na década de 1940. O jornalista alemão Martin Kaul, que trabalha com os cineastas, havia lido no Jornal Opção reportagens sobre Szmajzner (morou no Rio de Janeiro e em Goiânia) e por isso buscou apoio do jornal.

Quando relatou que uma brasileira foi decisiva na publicação do primeiro livro do britânico George Orwell, a redação recebeu mensagens do Rio Grande do Sul e da Inglaterra (uma delas, de um especialista inglês, fazia correção num trecho do texto).

Os jornais, todos eles, se tornaram “do” mundo — sem exceção. É claro que jornais como “The Guardian”, “New York Times” e revistas como “Economist” e “Time” continuarão a ser mais lidas, até porque o inglês se tornou uma espécie de esperanto (com o devido perdão aos estudiosos do idioma). Mas qualquer jornal, de todos os países, pode ser lido em qualquer parte do planeta. Nem a língua é uma barreira. Mesmo quem não domina um idioma menos estudado pode usar mecanismos de tradução imediata.

Daniele Salvador: psicóloga assassinada por dois homens em Catalão | Foto: Reprodução

Em Goiás, os jornais da capital eram (e ainda são) mais lidos. Os jornais do interior eram menos conhecidos e pouco lidos. Hoje, os jornais do interior — há blogs que são verdadeiros jornais — têm qualidade e sua audiência é, por vezes, alta. E têm, no geral, forte conexão com suas comunidades (jornais de Goiânia não cobrem de maneira adequada o que acontece no interior).

Veja-se o caso de Catalão, município do Sudeste de Goiás. Recentemente, ao buscar informações sobre o assassinato da psicóloga Daniele Salvador, ocorrido no município, verifiquei a precisão dos jornais e blogs (que, a rigor, são jornais) locais. Usei, para elaborar a reportagem do Jornal Opção, informações do “Zap Catalão” e do “Blog do Badiinho”. Os dois são bem escritos e suas reportagens são bem apuradas e cuidadosas. E sem sensacionalismo. Foram cuidadosos ao apresentar os fatos e ao evitar a publicação dos boatos a respeito dos motivos da morte da jovem. Não deixaram de falar sobre a possibilidade de “crime passional”, mas sem mencionar nomes, ou seja, não excederam. E apresentaram os responsáveis pelo assassinato como “suspeitos”, o que é o correto.

Marcelo da Silva Martins e Tiago Rosário Marques: os suspeitos do assassinato da psicóloga Daniele Salvador | Foto: Reprodução

Na cobertura do assassinato de Daniele Salvador, estavam, sempre, um passo à frente dos jornais de Goiânia. Enquanto “O Popular” informava que não havia conseguido entrevistar a delegada responsável, a imprensa de Catalão divulgava uma entrevista (com vídeo e texto) com a policial civil. Em seguida, o “Zap Catalão” e o “Blog do Badiinho” publicaram reportagens sobre a prisão de dois suspeitos do crime, com nomes, fotografias e vídeo. No mesmo dia, o “Pop” mantinha a reportagem a respeito de apenas uma prisão. (O Zap Catalão mantém entre seus colunistas o economista Luís Estevam, doutor pela Unicamp. Trata-se simplesmente de um dos maiores conhecedores da história e da economia de Goiás. E é autor de um romance excepcional, “Fuero”.)

O caso revela como a comunicação mudou. Os blogs de Catalão fizeram uma cobertura jornalística muito superior à dos jornais da capital e, confiáveis, se tornaram fontes das reportagens dos veículos tradicionais.

O fenômeno se repete em várias outras cidades, como Rio Verde, Caldas Novas, Itumbiara, Anápolis e Uruaçu. Em Rio Verde, uma fonte de informação segura é o programa do radialista Costa Filho, sempre preciso na cobertura de política. No Sudoeste, dada sua credibilidade, é um dos campeões. Em Uruaçu, há dois jornalistas de primeira linha — Jota Marcelo e Lázaro Gomes (sua televisão na internet incomoda políticos, por exemplo, porque o repórter-apresentador é incisivo. Ele faz questão de frisar que o espaço está sempre aberto para o contraditório). Em Itumbiara, o jornal de Erivaldo Máximo faz o maior sucesso. Em Rialma, o craque é o radialista Beto Mendes, responsável por entrevistas polêmicas que eventualmente balançam a política estadual.