O Brasil é um país que impressiona pelo desleixo e desfaçatez com que trata seus grandes escritores. Carlos Drummond de Andrade, seu maior poeta, deveria ter pelo menos umas dez biografias, para que uma fosse incorporando as pesquisas e interpretações das outras, o que permitiria uma compreensão mais adequada tanto de sua vida quanto de sua obra (mais bem analisada, o que é positivo, do que sua vida). “Os Sapatos de Orfeu — A Biografia de Drummond” (Biblioteca Azul, 338 páginas), de José Maria Cançado, não é ruim. Pelo contrário, é, até certo, um trabalho exaustivo, pioneiro, pois não contou com trabalhos anteriores de envergadura, ou mesmo de envergadura. O que se pode desta pesquisa, sem desmerecê-la — e o próximo biógrafo não pode desconsiderá-la —, é que é lacunar.

No sábado, 27, “O Estado de S. Paulo” publicou a notícia de que o jornalista Humberto Werneck, que entende como poucos as coisas de Minas Gerais, iniciou uma pesquisa para escrever uma biografia alentada de Drummond, encomendada pela Companhia das Letras. O biógrafo e a editora são referências de qualidade.

A biografia de Drummond será lançada em 2017. “Drummond é meu poeta. Ele fala por mim as coisas que não dou conta de falar. Quero juntar os cacos e ver que xícara dá”, disse Werneck ao “Estadão”.

O “Estadão” informa que Werneck pretende Manuel Graña Etcheverry, de 98 anos, que foi casado com Maria Julieta Drummond de Andrade, única filha do poeta. O poeta Graña Etcheverry traduziu poemas do bardo mineiro para o espanhol.