Biografia da poeta Elizabeth Bishop sai em maio pela Companhia das Letras
24 março 2023 às 22h14
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Estive em Ouro Preto (MG), em novembro de 2021, e hospedei-me num hotel do qual podia ver a casa da poeta Elizabeth Bishop (1911-1979). A residência estava bem cuidada e, de acordo com o gerente da pousada (parecido com Edgar Allan Poe), à venda. Não havia sido vendida pelo alto valor que os herdeiros estariam pedindo. A construção é sólida, sóbria e, sem ser luxuosa, é imponente. Não pude verificar suas dependências. Nas proximidades do local, há minas abandonadas — a região era um grande garimpo — e escorre água o tempo inteiro.
Olhando a casa, fiquei a pensar: quantas poesias Elizabeth Bishop escreveu em (e sobre) Ouro Preto? (Há o belo “Pela janela: Ouro Preto”). Muitas, claro. Por que escreveu nesta cidade de mineiros, em tempos idos, e, mais tarde, de turistas? Uma explicação, por certo, aparece em sua poesia, diluída pela invenção artística.
Poetas são mais difíceis de apreender do que prosadores? Talvez não. Mas poemas oferecem mais dificuldades aos leitores, mesmo aos especialistas. Então, ao explicar os poetas, e tendo de entender a poesia, é difícil contar sua vida. As pistas poéticas são, por vezes, muito embaralhadas e, mesmo, enganadoras. Entre encontrar o ritmo apropriado, labutando com a dança das palavras, e a verdade como acreditam que exista, os poetas optam, em geral, pelo primeiro caminho. A expressão de um “fato” às vezes precisa de uma distorção, mínima que seja, e isto, no lugar de empobrecer, enriquece tanto a poesia quanto a vida. Porque, no fundo, não há vida exata, assim como não é possível descrever com precisão a vida de uma pessoa.
Elizabeth Bishop viveu anos no Brasil, país pelo qual se apaixonou (com reticências habituais) e onde se apaixonou pela urbanista Lota Macedo — e conviveu com jornalista, escritor e político Carlos Lacerda —, e isto deixou marcas na sua poesia e na sua vida (arte e vida se tornam, digamos, colagens).
Em maio, chega às livrarias brasileiras o livro “Elizabeth Bishop — Uma Biografia” (Companhia das Letras, 536 páginas, tradução de Luiz A. de Araújo), de Thomas Travisano.
Elizabeth Bishop e nós, leitores, temos sorte, muita sorte: no Brasil, sua poesia ganhou traduções precisas de Paulo Henriques Britto e edições caprichadas da Companhia das Letras.
Sinopse da Editora Companhia das Letras
“‘A arte de perder não é nenhum mistério’, vaticinou Elizabeth Bishop em ‘Uma Arte’, um dos mais célebres poemas do século XX. Nesta biografia fascinante, Thomas Travisano joga luz sobre a trajetória da escritora que se especializou na arte de perder desde a infância — o pai morreu quando a filha tinha oito meses, e a mãe foi internada em um hospital psiquiátrico quando a poeta tinha cinco anos.
“Depois de mais de três décadas dedicadas a percorrer os passos da vencedora do prêmio Pulitzer, Travisano nos apresenta a uma mulher que sempre se enxergou à margem dos padrões e que viria a se transformar em uma das vozes mais cultuadas da literatura norte-americana.
“Autora de uma obra concisa, com pouco mais de cem poemas publicados em vida, Elizabeth Bishop se consagrou pela notável capacidade de observação. Avessa ao tom sentimental, sua poesia alia o rigor da forma a um impressionante engenho para a descrição, sem nunca perder de vista o autocontrole. A análise de Travisano revela que a obra da escritora ilustra uma vida complexa e atribulada, feita de inúmeros percalços e desvios de percurso.”
Trecho de uma crítica do jornal americano “Washington Post”: “Nunca faltaram bons biógrafos para Bishop, mas Travisano escreveu algo novo, envolvente e delicioso. Ler este livro é tão prazeroso quanto ler os estranhos e maravilhosos poemas de Bishop”.
Quem é Thomas Travisano
“Thomas Travisano é fundador da Elizabeth Bishop Society e há décadas se dedica a pesquisar a vida e a obra da poeta. Autor e editor de livros sobre poesia norte-americana moderna e contemporânea, é também professor na Universidade Hartwick.”