Iuri Rincon Godinho, da @goiastemhistoria

A Segunda Guerra Mundial acabou em 1945, com a vitória dos Aliados sobre o nazismo de Adolf Hitler e o fascismo de italianos e japoneses. Foi a vitória do bem contra o mal. A vitória da democracia. O nazismo, dadas as batalhas, contribuiu para a morte de cerca de 80 milhões de pessoas — entre civis e militares.

Nos campos de extermínio e concentração foram assassinados 6 milhões de judeus, além de milhares de ciganos, testemunhas de Jeová, comunistas e democratas. O nazismo representa um dos principais horrores do século 20. Execrável, portanto.

O piloto-construtor Ewald Jansenn

Ewald Jansenn chegou a Goiânia em 1949, quatro anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Nascido em 1913, foi ginasta de 1928 a 1932. Em 1933, quando o Partido Nazista chegou ao poder, entrou para a polícia. Em seguida, foi comandante e instrutor de voo, entre 1934 e 1935.

Ewald Jansenn, piloto alemão que se radicou em Goiás | Foto: Reprodução

Em 1937 se alistou na temível Stukageschwader, os bombardeiros de mergulho enviados por Adolf Hitler para bombardear a Espanha em apoio ao ditador fascista Francisco Franco. Quando começou a Segunda Guerra Mundial, em 1939, ascendeu na hierarquia militar e integrou-se como piloto na Luftwaffe (a Força Aérea).

Traçado do Setor Pedro Ludovico | Foto: Reprodução

Em 1941, ganhou o posto de Oberleutnant (primeiro-tenente) e de Staffelkapitän (líder de esquadrão). Um ano depois já era capitão e recebeu um cálice de honra pelos seus feitos durante o conflito. Ainda foi laureado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro e a Cruz Germânica em ouro, por atos de bravura.

Documento de Ewald Jansenn | Foto: Reprodução

Batalha das Ardenas: malsucedido

Já como tenente-coronel, no final da guerra, em 31 de outubro de 1944, Ewald Jansenn recebeu uma condecoração pelos seus mais de 400 voos. Sua sorte mudaria em dezembro daquele ano. Foi considerado culpado por um ataque malsucedido na batalha das Ardenas, na Bélgica, a última grande tentativa de Hitler de ganhar a guerra.

Jansenn perdeu, então, a liderança do grupo que estava à frente.

Ewald Jansenn chegou a Goiânia em 1949. Era engenheiro topográfico e foi convidado para vir ao Brasil pelo governador do Estado de Goiás da época, Jerônymo Coimbra Bueno, em julho de 1948.

Provavelmente o convite foi mediado por outro alemão, Werner Sonnemberg, que trabalhava na empresa do governador, a Coimbra Bueno, uma das responsáveis pela construção da capital.

Como todos os imigrantes, Janssen, a mulher Elsbeth (aportuguesada para Elizabeth) e a filha Elke ficaram na penitenciária por um mês na Avenida Independência (atual hipermercado Açaí) e depois foram para o Abrigo Cristo Redentor, onde em 2023 é o Fórum, na Avenida Assis Chateubriand.

A primeira foto mostra Ewald Janseen e a família no primeiro Natal que passaram na capital, ainda no abrigo.

Contratado por Pedro Ludovico

Em agosto de 1951 foi contratado pelo governador Pedro Ludovico para o Departamento de Viação e Obras Públicas do Estado de Goiás, com a função de montar relatórios e memoriais descritivos sobre novos loteamentos.

Nas horas vagas, projetava um novo bairro que nasceria com a transferência do aeroporto da época, e que mais tarde se transformaria no Setor Aeroporto.

O trabalho e a disposição de Jansenn impressionaram o governador Pedro Ludovico. Tanto que em 14 de novembro de 1952, Ewald recebeu do governo de Goiás, pela Lei 681, dois lotes em doação no Setor Aeroporto, nas ruas 36-A e 27-A. O ato, assinado pelo governador Pedro Ludovico Teixeira, foi pelo técnico haver executado “em conjunto e em seus detalhes, com todos os cálculos necessários, o projeto de loteamento do aeroporto (Setor Aeroporto) desta capital, em menos de três meses de trabalho, sem nenhuma remuneração”.

Jardim Europa: um bairro “alemão”

Em maio de 1952 Jansenn criticou em relatório a expansão desordenada da cidade. Em abril de 1954, assinou o projeto de Plano Diretor de Goiânia. Mais ou menos nessa época também criou o Setor Pedro Ludovico. Morava em uma bela residência no Bosque dos Buritis e prestou serviço também nas cidades de Luziânia, Catalão, Quirinópolis e Araguaína.

Em 1956 conseguiu a aprovação de um empreendimento particular, o que significa que havia ascendido socialmente na sociedade goianiense. Chamado de Jardim Europa, foi desenhado como uma cidade alemã, aproveitando as subidas e descidas naturais do terreno. Para as ruas, Janssen escolheu os nomes de cidades europeias. E, como havia feito no Setor Aeroporto, nominou várias delas com um número e uma letra.

Iuri Rincon Godinho é jornalista e escritor. É colaborador do Jornal Opção.