Aulas de Ricardo Piglia sobre Jorge Luis Borges saem em livro na Argentina
27 outubro 2024 às 00h00
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Qual é o maior escritor argentino: Oliverio Girondo, Julio Cortázar ou Jorge Luis Borges? Poeta, ao menos para mim, é o primeiro. Cortázar é um prosador e crítico extraordinário. Mas, dos três, só um é lendário — do tipo “o” representante da literatura argentina: Borges — o Púchkin portenho, por assim dizer.
Há outros prosadores e críticos muito bons, como Ricardo Piglia, Ernesto Sabato, Silvina Ocampo, Alfonsina Storni, Mariana Enriquez, Bioy Casares, Aurora Venturini (Candice Marques de Lima, minha parça, afirma que “As Primas” é uma obra-prima), Cesar Aira, Samanta Schweblin e Alejandra Pizarnik. Mas o autor de “Aleph” é a voz dos deuses da literatura argentina — ele que, de alguma maneira, é meio britânico (“primo” de Samuel Johnson). Talvez um grego nos trópicos (“neto” de Homero, inclusive nos olhos).
Em 2013, na TV pública da Argentina, Piglia deu aulas — conferências, digamos — sobre a obra de Borges.
Como o paulista Mário de Andrade, Borges não era um nem dois: era trezentos e cincoenta. Grande na poesia. Gigante no conto. Monstro na crítica. Uma enormidade na tradução.
Como o autor de “Pauliceia Desvairada”, Borges serviu de referência para dezenas de escritores, ainda que nenhum tenha conseguido “imitá-lo” à perfeição (talvez nem tenham tentado, dada a impossibilidade de superá-lo ou ao menos de chegar aos seus joelhos). Sabe quem é um filho menor de Borges? Nada mais nada menos do que Alberto Manguel.
Mas talvez seja possível sugerir que todos são “filhos” de Borges, em menor ou maior proporção.
Entrevista inédita de Jorge Luis Borges
Agora, as aulas de Piglia sobre Borges serão publicadas em livro, sob patrocínio da Editora Eterna Cadencia (também uma das melhores, em termos de acervo, livrarias de Buenos Aires).
O livro, com o título de “Borges Por Piglia” (224 páginas), está saindo, como se dizia nos tempos de antanho, do prelo. Além das aulas, a obra contém materiais inéditos — de acordo com a editora, de valor inestimável. Há inclusive uma entrevista inédita concedida por Borges a Piglia e Mario Szichman.
Edgardo Dieleke (autor do epílogo) e Beba Eguia organizaram e selecionaram o material publicado no livro. Como se dizia nos tempos de Flaubert e Proust, imperdível.