Numa rede social, o poeta palestino Refaat Alareer escreveu um poema com o título de “Caso eu morra”: “Caso eu morra, que traga esperança, que seja um conto”. PhD em literatura inglesa e professor de literatura inglesa na Universidade Islâmica de Gaza, o bardo morreu na quinta-feira, 7, aos 44 anos. Um bombardeio de Israel, na Faixa de Gaza, o matou.

Refaat Alareer escreveu vários textos em inglês sobre o cotidiano dos palestinos em Gaza. Era considerado um dos escritores mais emblemáticos de sua geração.

No X, Ahmed Alnaoq, amigo do poeta, escreveu: “O assassinato é trágico, doloroso e escandaloso. É uma perda imensa”. O poeta Mosab Abu Toha disse, no Facebook: “Meu coração está partido. Meu amigo e meu colega Refaat Alareer foi assassinado com sua família”.

Refaat Alareer criou o projeto Nós Não Somos Números, com a participação de escritores de Gaza com contatos no exterior. Eles escreviam em inglês sobre a realidade de Gaza. O objetivo do grupo era ser mais bem compreendido em outros países, já que o inglês se tornou uma língua quase franca.

“Gaza Writes Back” é um livro de crônicas a respeito da vida em Gaza. A obra é de autoria coletiva, com a participação de autores palestinos jovens. Foi editado por Refaat Alareer, que também lançou “Gaza Unsilenced”.

Quando começou a ofensiva terrestre de Israel, Refaat Alareer não quis sair o norte da Faixa de Gaza, o que acarretou a sua morte, quase anunciada.

Por ser bem-informado e por escrever e falar em inglês, Refaat Alareer era uma fonte segura da Al Jazeera, BBC e “New York Times”. No Brasil, falava com repórteres da “Folha de S, Paulo”.

De acordo com reportagem publicada na “Folha”, Refaat Alareer disse, em maio de 2021: “Quando estamos sob bombas, sentimos que é o pior dia das nossas vidas, mas daí vem o dia seguinte e é ainda pior”. Em 7 de outubro, ouvido pelo jornal paulista, ele declarou: “Podemos ser mortos a qualquer momento”.

Guerra injusta contra um povo

A morte do poeta Refaat Alareer sugere o seguinte: Israel está, de fato, caçando membros do Hamas, mas, na sua busca implacável, está matando palestinos de maneira indiscriminada. Seus ataques nada têm de cirúrgicos.

A morte de milhares de inocentes — para exemplar os palestinos —, possivelmente sem que a maioria esteja envolvida com o Hamas, indica que a batalha de Israel — não mais contra uma organização terrorista, e sim contra um povo —, não pode figurar entre as chamadas guerras justas.

Os israelenses estão punindo os palestinos por aquilo que o Hamas, e não eles, fez. Nós estamos assistindo, paralisados, um massacre em massa. Não devemos esperar que a história o condene. O mundo precisa operar agora para que Israel pare a mortandade dos palestinos e saia da Faixa de Gaza — cada vez mais ex-Faixa de Gaza, e sim Cemitério de Gaza.