Atacantes-tanques seguram zaga da Croácia e abrem espaço para craques como Neymar e Oscar

12 junho 2014 às 21h21
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Felipão terá de mexer, no próximo jogo, na dupla de volantes. Paulinho e Luiz Gustavo são peixes fora d’água seleção de Neymar e Oscar
A Seleção Brasileira fez quatro gols contra a Croácia e venceu por 3 a 1. Confuso? De algum modo. Marcelo, Neymar (2) e Oscar fizeram quatro gols. Ah, sim, o patropi Marcelo fez o gol da Croácia. O Brasil estava com tanta fome de gol que não hesitou em fazer o gol do time adversário. Brincadeira à parte, pode-se dizer que o selecionado dirigido por Felipão não fez uma partida genial, mas jogou bem e soube se recuperar, após começar perdendo por 1 a 0. Marcelo, depois do abalo inicial, jogou bem – muito melhor do que Daniel Alves, o melhor jogador “da” Croácia. O gol contra “deveria” ter sido marcado pelo ás do Barcelona.
Dupla de pesos-pesados liberou Neymar e Oscar
Mesmo contra jogadores fortes, como os da Croácia, a dupla de atacantes-tanques – Hulk (Roy Nelson da seleção brasileira) e Fred – não funcionou. Mas, de algum modo, abriu espaço para atletas mais talentosos, como Neymar e Oscar, jogarem. Eles prenderam os defensores, que ficavam amarrados nas proximidades da grande área, e deixaram o campo quase livre para as entradas às vezes fulminantes de Neymar e Oscar. Talvez seja o caso, no próximo jogo, de manter apenas um tanque em campo, Hulk ou Fred – este é mais habilidoso – e escalar um jogador mais ativo para conectar jogadores do meio-campo com atacantes e alas.
Colocar Hulk e Fred em campo para liberar Neymar e Oscar foi uma decisão tática? Não se sabe. Se foi, o poeta Carlos Willian e o jornalista Elder Dias poderão sugerir que Felipão é o James Joyce do futebol.
Obsessão da Croácia com Neymar liberou Oscar
Oscar é craque, mas numa dimensão abaixo de Neymar (ao lado deste, no futebol atual, só Messi e, aqui e ali, Cristiano Ronaldo, o Rambo do Real Madri). Entretanto, um time não pode viver apenas das ações – às vezes, lampejos – de uma estrela como Neymar. Se o craque – aquele que comanda o jogo – for bem marcado, o time eventualmente tende a naufragar. No jogo contra a Croácia, com Neymar jogando bem, mas não em seus melhores dias, brilhou a estrela de Oscar.
O jogador do Chelsea driblou com facilidade, lançou com relativa precisão e, no final, fez um belo e merecido gol. Inicialmente, começou jogando apenas num lado do campo, como se estivesse ali para abrir espaço para Neymar no meio e no ataque. Depois, mais envolvido – inclusive defendendo com efetividade, dada a inoperância do quase sempre muito bom Daniel Alves (é possível sugerir que Oscar atuou como atacante, volante e ala) –, começou a buscar jogo noutros fronts. Tomou conta do jogo. O Brasil e a Croácia dançaram a valsa do mestre Oscar.
Oscar jogou bem por dois motivos. Primeiro, porque é mesmo bom jogador, de rara habilidade e ousadia (ex-jogador de futebol de salão, atua bem em espaços curtos e é veloz e objetivo, o que, por certo, aprendeu no futebol inglês). Segundo, porque, como Neymar mais assediado pelos croatas, ficou livre para criar, lançar e atacar. Talvez seja possível dizer, então, que Neymar liberou Oscar para brilhar.
Neymar atuando como jogador livre, pressionando a Croácia do meio-campo para o ataque – o que liberou uma avenida para Oscar –, foi uma decisão tática de Felipão? Se foi, os críticos Carlos Augusto Silva, Ademir Luiz e Iúri Rincon Godinho poderão dizer, a partir de agora, que Felipão é o Guimarães Rosa do futebol globalizado.
Volantes não conectaram ataque e zaga
A incensada zaga brasileira, com Thiago Silva e David Luiz, merece um lugar no Céu, ao lado de Deus e São Pedro? Não há dúvida de que são grandes jogadores, mas pareciam, ao menos na partida contra a Croácia, desconectados. Zagueiros e os alas Daniel Alves e Marcelo não comprometeram no geral, mas, aqui e ali, pareciam perdidos. O goleiro Júlio César, que não comprometeu em nada, demonstrando segurança, decerto não se sentiu tão protegido pelos defensores.
Os zagueiros podem alegar – com certa justiça, se o fizerem – que a turma do meio-campo, os volantes Paulinho e Luiz Gustavo, não lhe a devida proteção. No afã de apenas atacar – o que fizeram mal, diga-se –, deixaram David Luiz e Thiago Silva desguarnecidos. Felipão, técnico que é respeitado pelos jogadores – porque diz a verdade e não blefa nas conversas –, possivelmente vai fazer alguma mudança no meio. Hernanes, mais habilidoso e experiente, talvez deva começar jogando na próxima partida. Acrescente-se que Hernanes chuta, e bem.
Os jogadores que mais falharam, os mais débeis, foram exatamente os volantes Paulinho e Luiz Gustavo. Ocorre que suas falhas não foram percebidas com a devida atenção, tanto pelos narradores quanto pelos comentaristas, porque, se começavam no seu setor, “explodiam” na defesa. No ataque, dadas a genialidade de Neymar e a inteligência e habilidade de Oscar, as falhas dos volantes ficaram ainda menos evidentes. Resta concluir que Paulinho e Luiz Gustavo não foram produtivos para a seleção – ao falharem no apoio à defesa e ao ataque.
Pênalti saiu da imaginação do esperto Fred e do juiz
Se tivesse perdido apenas de 2 a 1, o time da Croácia poderia ter saído dizendo que foi roubada. O pênalti foi uma ficção criada por Fred, que se jogou, e pelo juiz, que não percebeu a malandragem do “Maradona” brasileiro.
O erro evidentemente não foi “culposo”. O juiz não tem a possibilidade de reprise e, num lance rápido, fica-se realmente com a impressão de que Fred foi calçado ou puxado. Com a possibilidade da reprise – a televisão persiste como o melhor e mais seguro estádio do mundo –, é possível verificar que Fred jogou-se.
Substitutos não tiveram tempo de mostrar grande coisa
Como a seleção brasileira venceu, de maneira relativamente convincente, sobretudo por não ter se deixado abater – no início, Marcelo desesperou-se, mas depois acalmou-se –, há a tendência de se dizer que Felipe fez três, ou pelo menos duas, substituições acertadas.
A substituição de Neymar foi adequada. O craque do Barcelona parecia cansado e já tinha um cartão amarelo. Hernanes não jogou mal e tentou ordenar o meio de campo, ligando-o com mais precisão ao ataque, mas não conseguiu corrigir a falta de apoio à defesa – o que sobrecarregou, em certos momentos, Oscar, que teve de voltar para marcar. Apesar da correria, Bernard não apresentou resultados objetivos. Ramires não teve tempo para mostrar seu futebol, se existe.
Neymar está passando mal a bola
O craque é diferente do bom e até do grande jogador. Ele é craque porque faz bem tudo ou quase. Neymar é a estrela da seleção porque é um jogador diferenciado. Ataca bem, dribla com facilidade – e, cada vez, de maneira mais objetiva, rumo ao gol –, chuta colocado e lança à perfeição. Contra a Croácia, atacou bem, driblou com relativa facilidade e fez dois gols, um de pênalti. Mas não fez um jogo “de” Neymar, ou jogo “neymarlista”. Sobretudo, raramente acertou passes, quase sempre enfiando bolas “atrasadas” e em lugares onde não havia jogadores brasileiros. Em alguns momentos, Neymar atrapalhou o ataque patropi.