Matheus Ribeiro e Larissa Pereira puderam apresentar reportagens de qualidade sobre Goiás e Paraíba

Matheus Ribeiro e Larissa Pereira com William Bonner e Ana Paula Araújo | Foto: Reprodução

Ao comemorar 50 anos do “Jornal Nacional”, a cúpula da rede abriu espaço para jornalistas das afiliadas apresentarem o carro-chefe do jornalismo da TV Globo, aos sábados. O que parecia uma coisa simples, acabou se tornando um sucesso no país.

Primeiro, porque ficou patente que as afiliadas têm profissionais competentes que, mais tarde, poderão ser contratados pela Globo. A direção da CNN Brasil, que ainda não foi ao ar, saiu na frente e, rapidamente, contratou Tais Lopes, apresentadora da TV Verdes Mares, afiliada da Globo em Fortaleza. Ela brilhou na apresentação do “Jornal Nacional” — parecia em casa. A CNN fez uma contratação certeira.

Matheus Ribeiro, da TV Anhanguera, e Larissa Pereira, da Paraíba, fizeram dupla no sábado, 9. Os dois foram muito bem, como se estivessem apresentando o “Jornal Nacional” há anos. Dada a responsabilidade, Matheus Ribeiro começou um pouco tenso — o que é natural. Mas engatou e não comprometeu. Pelo contrário, apresentou as notícias com o máximo de clareza e elegância. Pode-se dizer que foi preciso.

Matheus Ribeiro, de Goiás, e Larissa Pereira, da Paraíba, foram muito bem na apresentação do “Jornal Nacional” | Foto: Reprodução

Segundo, além da importância dos apresentadores regionais, há outro acerto. Os jornalistas puderam exibir reportagens sobre seus Estados. Larissa Pereira mostrou a indústria têxtil da Paraíba — inclusive com a produção de algodão colorido. A Paraíba que se depreende do noticiário, quando se dignam a mostrá-la, parece uma região abandonada. A matéria prova que não é bem assim. A indústria têxtil do Estado é moderna e emprega centenas de trabalhadores e coloca produtos de qualidade no mercado nacional.

A TV Anhanguera exibiu uma excelente reportagem mostrando a qualidade da arquitetura de Goiânia — desde edifícios art déco, alguns bem preservados — como o Teatro Goiânia — até edifícios contemporâneos (um deles é, entre construções comerciais, o mais alto do Brasil. Trata-se do Orion). Eventualmente, Goiás é apresentado como um Estado “caipira”, mas a reportagem — muito bem-feita por Honório Jacometto — demonstra que é tão moderno quanto outros Estados.

Tais Lopes foi contratada pela CNN | Foto: Reprodução

A Globo, assim como outras redes de televisão, pressupõe que seu jornalismo deve cobrir, de maneira ostensiva, tão-somente o que acontece em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. É o seu “Triângulo das Bermudas”. Os demais Estados são tratados como patinhos feios. Por isso só merecem espaço quando acontece algum escândalo — tipo o do médium João de Deus.

Talvez não tenha sido a intenção — o objetivo deve ter sido apenas comemorar os 50 anos da Globo —, mas foi uma das poucas vezes que a Globo, ao incorporar apresentadores de outros Estados, mostrou o “outro” Brasil, aquele que é solenemente ignorado pelo jornalismo dito “nacional” (que, na verdade, é meramente paulista ou carioca).

A Globo, portanto, criou uma espécie de integração nacional ao atrair para a bancada do “JN” apresentadores de outros Estados. Deveria fazer isto ao menos uma vez por mês.

Para conhecer o universal, disseram os russos Púchkin e Tolstói, é preciso conhecer, antes, a aldeia. No caso do Brasil, um país continental, suas várias aldeias, quer dizer, Estados. De repente, num tempo de crise do jornalismo, a redescoberta do país — para além do jornalismo-escândalo — pode se tornar um diferencial da Globo.