Aliados de Bolsonaro, e não a imprensa, são culpados por seu possível fracasso político

19 dezembro 2021 às 00h01

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No lugar de fazer a crítica dos equívocos do presidente, jornalistas e intelectuais da direita erram ao dizer que ele está sempre certo e colaboram para seu naufrágio
O presidente Jair Bolsonaro briga com a China, maior parceiro comercial do Brasil, e não tem apreço pelos Estados Unidos do presidente Joe Biden (é tiete do ex-presidente Donald Trump). O governo vacina a maioria dos brasileiros, inclusive com a segunda dose — e já está vacinando com a terceira. Mesmo assim, Bolsonaro não capitaliza; pelo contrário, sua imagem persiste como a de um gestor que é contrário à vacinação. Se sua imagem de irredutível caubói de Marlboro, o típico machão latino-americano que põe chapelão mas não máscara, continua agradando aos bolsonaristas radicais, ele perde apoio popular de maneira acentuada.
Se o governo vacina, mas Bolsonaro continua com o discurso anti-vacina, qual é a inteligência que permeia seu discurso? Se a crítica à segurança da vacina — que, mostrando eficiência, está reduzindo as mortes no país e diminuindo os custos do governo com saúde — estivesse dando certo, a popularidade do gestor nacional estaria se elevando, e não caindo. Portanto, qual é a lógica do político que, em 2018, derrotou o candidato do PT e que, em 2022, poderá ter como algoz um petista, Lula da Silva? Nenhuma, aparentemente. Seu eleitorado, longe de crescer, está caindo, e de maneira, tudo indica, incontrolável. A possibilidade de o petista ser eleito no primeiro turno é cada vez mais factível.
Há quem acredite que a imprensa tenha sido decisiva para desgastar a imagem de Bolsonaro. De fato, colabora. Mas quem destrói a própria imagem, numa espécie de suicídio político, é o presidente. A imprensa excede? Pode até ser. Porém, no geral, tão-somente registra o que o gestor federal faz, como se fosse, não um presidente, e sim nefelibata.

Jornalistas e intelectuais que acompanham Bolsonaro costumam sugerir que, excedendo, a imprensa — associada a alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso — seria a principal responsável pela queda do presidente nas pesquisas de intenção de voto e de popularidade. Estariam certo? É provável que não.
Os aliados de Bolsonaro — fala-se dos que pensam, e há gente inteligente apoiando o presidente — deveriam criticá-lo, apontando suas falhas e sugerindo caminhos para reduzir a corrosão de sua imagem.
Porém, no lugar de aconselhá-lo criticamente, os aliados intelectualizados se tornaram militantes bolsonaristas e, por isso, defendem o governo de maneira radical e irracional. Eles deveriam fornecer alternativas a Bolsonaro, apontando caminhos para contornar a crise de imagem. A imagem de que se trata de um presidente ruim — de que não se preocupa com a vida e não é confiável — está sedimentada. Ainda assim, apoiadores inteligentes, com experiência, se mantêm ao lado do chefe do Executivo, repetindo o que ele diz, quando deveriam apontar os problemas e sugerir outras rotas.
De Eduardo, Carlos e Flávio Bolsonaro, não se deve esperar análises luminosas, até porque são filhos de Bolsonaro e não têm experiência e formação suficientes para avaliar, com amplitude, o que está acontecendo. Acreditam que há uma conspiração global contra o pai, que certamente não há, e, quando acordarem, em 2023, certamente não o verão na Presidência da República. Mas esperava-se mais de jornalistas e intelectuais experimentados que se associaram ao presidente, até para combater o PT e Lula da Silva, quer dizer, a esquerda.
Os que querem ajudar Bolsonaro (ou o país), e se isto ainda for possível — talvez não seja —, terão de retirar as roupas do bolsonarismo, voltarem a pensar criticamente, e apontar os equívocos que estão sendo cometidos pelo líder de uma direita que, é provável, está inteiramente perdida, acomodada e dormindo no ponto. Ao aplaudir Bolsonaro hoje, a direita certamente terá de lhe dar pêsames políticos em 2023.
Ao contrário dos jornalistas e intelectuais bolsonaristas, os políticos do Centrão trabalharam para moderar o presidente. Disseram-lhe que só ficariam ao seu lado se parasse com a história de golpe de Estado. A turma do Centrão pode até ser fisiológica, mas é democrática e moderada, o que tem sido positivo para o país. Experientes, seus políticos vão ficar no governo, sugando toda a “carne” das estruturas do poder, e, quando chegar 2023, saltarão para a gestão do próximo presidentes. Os centrãozistas são inteligentes, realistas, experientes e pragmáticos. Portanto, não dão murro em ponta de faca. Se o governo é melhor do que Bolsonaro, que piora o governo até quando fala, isto tem a ver com as figuras de proa do Centrão, que, com razão, não apreciam presidentes-Titanics.