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Livro mostra que um latino-americano é o melhor explicador do mais celebrado romance de Flaubert

Esqueça o filósofo Jean-Paul Sartre, autor de um “calhamaço menor” sobre Gustave Flaubert. Um dos melhores livros sobre Flaubert e sua obra-prima, o romance “Ma­dame Bovary”, foi escrito por um peruano, Mario Vargas Llosa, Nobel de Lite­ratura. “A Orgia Perpétua — Flaubert e Madame Bovary” já havia sido publicado em português, mas só pode ser encontrado em sebos. A Alfaguara lança nova edição, com tradução precisa de José Rubens Siqueira.

Em meras 280 páginas, Vargas Llo­sa escreve uma crítica brilhante sobre um dos romances mais emblemáticos da história da literatura. O escritor e crítico leu, releu e virou de ponta-cabeça o polêmico livro de Flaubert, esticando o cérebro do leitor para um entendimento mais amplo de uma história que se tornou, por assim dizer, patrimônio de todos nós. Emma Bovary “era” Flaubert, como ele disse, e todos nós — um verdadeiro poço de contradições e desejos reprimidos e, às vezes, liberados.

O que o autor de “Travessuras da Menina Má” — quem sabe, uma Bovary menor — diz ao leitor, com palavras candentes e claras, é que o romance tem muito mais a dizer que o mero adultério de Emma, motivo da fama da história. A delícia do texto, e como Flaubert o elabora e conta a história, é exibida de maneira exemplar por Vargas Llosa.
Consta que franceses sentem ciúme de um de seus maiores escritores — talvez o maior, ao lado de Marcel Proust — ter sido analisado de modo tão percuciente por um crítico estrangeiro (muitos franceses se acham “o” povo, não “um” povo). É provável que ninguém fez tanto por um romance — transformando-o numa catedral de arquitetura bela e sólida — quanto Vargas Llosa.