“O Bêbado e o Equilibrista” e “O Mestre-Sala do Mares” garantem: Aldir Blanc tem um lugar cativo na história da música brasileira

Aldir Blanc, compositor, escritor e psiquiatra, em sua biblioteca | Foto: Reprodução

Quem compôs “O Bêbado e o Equilibrista” (“A lua, tal qual a dona de um bordel / Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel”) e “Construção” ficarão para sempre no Céu da música brasileira. Aldir Blanc, pela primeira, e Chico Buarque, pela segunda, figuram entre os maiores compositores do país. Chico Buarque, 76 anos em junho, está vivo, vivíssimo. Aldir Blanc morreu na segunda-feira, 4, aos 73 anos, de Covid-19. Ele estava internado no Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro.

Aldir Blanc se foi. O que fica? Sua arte maravilhosa, tão bem interpretada por João Bosco, seu grande parceiro, e por Elis Regina. Depois que Elis Regina cantou “O Bêbado e o Equilibrista” se tornou uma espécie de sócia da música. Talvez até dona desta bela história alternativa da ditadura. De alguma maneira, nesta e noutras músicas, como “Mestre-Sala dos Mares” (que Elis Regina também cantou), Aldir Blanc conta a história do Brasil, mas não de maneira didática, com o objetivo de puramente “fazer cabeças” e, às vezes, instruir. É o grau de elaboração das músicas, o que mostra um esteta altamente refinado, que faz suas músicas se tornarem, quem sabe, eternas.

Ao receber a notícia da morte de Aldir Blanc, seus admiradores certamente se lembrarão do final de “O Bêbado e o Equilibrista”: “Azar!/A esperança equilibrista/Sabe que o show de todo artista/Tem que continuar”.

Portanto, cria-se o paradoxo muito do bem: Aldir Blanc morreu, mas sua música, a alma, continua. O que significa que, no fundo, está vivo. Vivíssimo, como Chico Buarque, Gilberto Gil, Jorge Ben, Milton Nascimento e Caetano Veloso.

Quem acha que o Brasil não deu certo talvez não saiba extrair prazer da música dos citados — além de tantos outros, como Noel Rosa, Mário Reis, Bidu Sayão, Guiomar Novaes, Carmen Miranda, Villa-Lobos, Ernest Nazareth, Dolores Duran, Garoto, Luiz Gonzaga, Silvio Caldas, Dorival Caymmi, Ataulfo Alves, Elizeth Cardoso, Elza Soares, João Gilberto, Tom Jobim, Paulinho da Viola, João Bosco, Alceu Valença, Zé Ramalho, Tetê Espindola, Marisa Monte, Marina de Riva, Fernanda Takay, Fernando Perillo, Cláudia Vieira, Renato Russo, Cazuza, Raphael Rabello, Yamandu Costa, Hamilton de Holanda…