Agendas de leitura para 2022 de escritores, críticos e jornalistas

29 dezembro 2021 às 23h20

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Edival Lourenço, Miguel Jorge, Ademir Luiz, Bento Fleury, entre outros, comentam sobre a programação de leitura para 2022
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Edival Lourenço
Membro da Academia Goiana de Letras e ex-presidente da UBE-GO
Em 2022, ao contrário de 2021, pretendo me dedicar mais à escrita do que à leitura. Tenho uma pilha de livros para ler, principalmente reler, e pretendo esgotá-la até o final do ano.
1 — “O cativeiro da Terra”, de José de Sousa Martins, um estudo aprofundado e agudo sobre o capitalismo brasileiro, que se estabeleceu de maneira sui generis. Primeiramente com a mão de obra escrava e ao liberar a mão de obra, escravizou a propriedade da terra. Um sistema perverso onde o pobre é explorado à exaustão.
2 — “Pedro Páramo” e “Chão em Chamas”, do mexicano Juan Rulfo, um romance e uma coletânea de contos, respectivamente. É um livro que sempre releio e que, pela sutileza e o refinamento de estilo, sempre descubro algo novo e surpreendente, assim como o livro
3 — “Ficções”, de Borges, que, desde 1977, não passo 15 dias sem ler um de seus contos.
4 — “Em Busca do Coração no Sábado à Noite”, de Miguel Jorge, em que dois jovens pintores, deslumbrados pelas cores e luzes da cidade (Goiânia) vão adentrando um mundo novo e expondo suas mazelas e exageros dos endinheirados, sanguessugas de uma sociedade miserável.
5 — “Submissão”, de Michel Houellebecq, em que narra o momento de transição da França de uma sociedade aberta, laica, de religiosidade cristã, para uma sociedade teológica, em que o islã domina todos os aspectos da vida francesa. Uma distopia verossímil que, pensando bem, não está longe de acontecer.
6 — “A Fé que Perdi nos Cães”, de Marcelo Mirisola, uma coletânea de pequenos textos desse autor rebelde e quase maldito, que acaba sendo uma amostra de sua verve sarcástica e corrosiva.
7 — “A Hora dos Ruminantes”, de José J. Veiga, um romance que foi lançado como literatura absurda, mas que se tornou trivial diante dos caminhos absurdos que a vida trilhou nos últimos anos. Parece uma metáfora premonitória. Neste romance, representativo da obra do autor, o gado toma conta, ocupando todo o território.
8 — “Tratado do Desespero e da Beatitude”, de André Comte-Sponville, em que o filósofo francês postula por uma filosofia de menos esperança (que acaba virando desespero), por um posicionamento de beatitude. Acho que ele bebeu nas fontes budistas.
9 — “Meridiano de Sangue”, de Cormac McCarthy, reler, pela quarta vez, uma história brutal e ao mesmo tempo lírica, sobre a ocupação do Oeste americano. É bom não perder o contato com esta obra para não esquecer a densidade da vida, que deve ser transposta para a literatura.
10 — “O Deserto dos Tártaros”, de Dino Buzzati, considerado pela crítica como um dos melhores romance europeu do século 20, uma metáfora da vida, em que um tenente busca o sentido da vida num forte de fronteira, onde nada de relevante acontece e a vida vai se passando, sem que se descubra a verdadeira razão de viver.
11 — “A Refrega”, de André Biancchi Arantes, quando Goiás era o tradicional refúgio dos fugitivos da lei de Minas Gerais, seu personagem resolve se alongar por aqui. O romance é a epopeia de uma caçada insana. Andre vem se revelando um grande contador de história.
12) “Flores para Algernon”, de Daniel Keyes, um clássico da literatura norte americana, em que uma cirurgia revolucionária promete aumentar o QI de Charlie Gordon, um homem com deficiência cognitiva grave.
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Myrian Clark
Jornalista do Canal My News no Youtube
O ano de 2021 foi estranho e terrível em vários aspectos. Ter usado boa parte do meu tempo com livros talvez tenha sido uma das minhas melhores decisões. Não foi muito planejado. Quanto mais subia o placar de mortes no noticiário, mais me socorria no papel.
Sim, desejo um 2022 com saúde e menos sobressaltos. Mas o próximo ano promete novas variantes do vírus da covid 19, eleições, violência e intolerância. Para enfrentar estes males organizei uma “farmacinha literária”. Livros precisam exercer uma função? Não! Mas nesse ano foi assim comigo, alento. E agora já organizei um estoque de refúgio para 2022. Compartilho aqui quatro destes livros:
Em janeiro estarei de férias com Boris Fausto e sua obra mais recente: “Vida, Morte e Outros Detalhes”, da Companhia das Letras. Fausto é autor também de “O Brilho do Bronze”, uma das obras que mais me marcaram. Este último lançamento de Boris Fausto promete ser um conjunto de tocantes reminiscências e reflexões sobre relações familiares, as rivalidades do afeto, o envelhecimento e a finitude. Fausto fala de tudo que realmente importa, por isso quero estar com ele na praia.
Também pretendo ler em 2022 “A Vegetariana”, da escritora sul-coreana Han Kang, lançado pela Editora Todavia e vencedor do Man Booker International Prize. Uma ficção sobre rebelião, tabu, violência e erotismo. A decisão de não comer carne da personagem é o ponto de partida para a transformação na vida dela.
“Escute as Feras”, de Nastassja Matin, lançamento da Editora 34. Não é ficção. A obra conta a inacreditável história da antropóloga francesa que é transformada por um terrível encontro com um urso. No incidente, Nastassja tem o rosto deformado e faz uma reflexão sobre o humano e a natureza, identidade e fronteira.
A Carambaia, uma das minhas editoras favoritas, publicou “Murambi, o Livro das Ossadas”, de Boubacar Boris Diop. O romance fala sobre o genocídio de Ruanda. Toni Morrison, escritora norte-americana ganhadora do prêmio Nobel de literatura, considera esta obra “um milagre”. Como se não bastasse essa recomendação, a edição da Carambaia tem capa dura e projeto gráfico primoroso. O pacote que eles fazem com os livros é muito caprichado, delicado. Abrir a embalagem passou a ser parte da experiência de leitura.
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Miguel Jorge
Escritor e membro da Academia Goiana de Letras
Segue a lista de livros que pretendo ler ou reler em 2022. São os de maior interesse para o meu entendimento ou alargamento cultural, muita coisa deixada para trás e que agora tento botar em ordem. São eles: obra completa de Proust, “Em Busca do Tempo Perdido”, obra completa de João Cabral de Melo Neto. Poemas de John Keats, rever “Viagem Vaga Música”, de Cecília Meireles, “Documenta Poética”, de Antônio Franco Alexandre, aprofundar mais na leitura de: Jorge Luis Borges, “A Cor e a Forma da Literatura Russa na Irlanda: “Refrações”, de Munira H. Mutran, no romance de Chimamanda Ngozi Adichie e “O sol Se põe em São Paulo”, de Bernardo Carvalho.
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Solemar Oliveira
Escritor e membro do Conselho de Cultura do Estado de Goiás
Em seu livro “Prosas Apátridas”, Júlio Ramon Ribeyro diz: Quantos livros, meu Deus, e quão pouco tempo e às vezes quão pouca vontade de lê-los! Minha própria biblioteca, onde antes cada livro que entrava era previamente lido e digerido, vai ficando infestada de livros parasitas, que chegam lá muitas vezes não se sabe como, e que por um fenômeno de imantação de aglutinação contribuem para cimentar a montanha do ilegível…
Comigo, é quase assim. Menos pelo fato de que normalmente eu sinto vontade de ler. De todas as coisas que gosto, a que não tenho dúvida é sobre ler. Não é como ficar indeciso entre uísque ou conhaque, malbec ou shiraz ou, ainda, praia ou cidade, ou seja, entre tantas indecisões que o múltiplo sentido do gosto nos proporciona. Disto, eu tenho certeza. Gosto, sobretudo, de ler. E são tantos livros que eu precisaria de mais algumas vidas para completá-los todos, de capa a capa. Para 2022, pretendo ler numa ordem mais ou menos rigorosa. É uma matemática, não tão precisa como eu gostaria, mas, entre outras coisas, ajuda a criar a lista que apresentarei a seguir. Os livros compõem uma relação mínima. No percurso, outros surgirão, sem dúvida. Provavelmente quebrarei o rigor que, ingenuamente, pretendo estabelecer. Afinal de contas, os livros são muitos e a vontade de lê-los é muito maior. Eis a lista:
Obrigatórios
1 — “A aranha negra”, de Jeremias Gotthelf. Meu interesse foi aguçado pela surpreendente biografia do autor e, também, pelo maravilhoso título;
2 — “Contos de Kolimá”, de Varlam Chalámov. Os seis volumes sempre me instigaram e a literatura russa é uma das minhas preferidas;
3 — “A Menina Morta”, de Cornélio Penna. Um livro que ainda não sei como esperei tanto para ler;
4 — “Nos Ombros do Cão”, de Miguel Jorge. Estou em dívida com este livro há algum tempo. O título, atraente, e o autor, um gigante;
5 — “Doutor Pasavento”, de Enrique Vila-Matas. Para continuar a busca pela obra completa do Catalão.
Curiosidade
1 — “Viagem Com um Burro pelas Cevenas”, de Robert Louis Stevenson. Essa coleção da Carambaia conta com ótimos títulos de autores consagrados. Este, em particular, me interessa mais amiúde. Tenho pessoal simpatia pela obra de Stevenson;
2 — “O Mapa e o Território”, de Michel Houellebecq – Houellebecq tornou-se importante com temas controversos. Esse livro não é diferente. Poderia estar em leituras obrigatórias, mas lerei como um curioso;
3 — “O Mundo Não Vai Acabar”, de Tatiana Salem Levy. Figurinha repetida em listas dos melhores livros, uma aposta na surpresa.
Entretenimento
1 — “Deus em Pessoa”, de Marc-Antoine Mathieu. Uma belíssima HQ com um título instigante;
2 — “As histórias de Pat Hobby”, de F. Scott Fitzgerald. Quase sem compromisso, o objetivo desta leitura é diversão com uma pitada (grande) de pesquisa.
Pesquisa
1 — “O Estrangeiro”, de Albert Camus. Livro de cabeceira. Esta será a quinta leitura. Com o passar dos anos e com mais experiência, espero que Camus possa me ensinar e inspirar coisas novas;
2 — “Para Ler Como um Escritor”, de Francine Prose. Para os exercícios de escrita;
3 — “O Olho Mais Azul”, de Toni Morrison. Para compreender os elementos de um mundo que pretendo criar em um novo livro.
4 — “Os Diários de Emilio Renzi — Os Anos Felizes e Os Anos de Formação” de Ricardo Piglia. O argentino foi um colosso. Sua literatura está entre as mais bem-sucedidas da América do Sul. Conhecer seu processo criativo e suas experiências, suas influências e aptidões, é como ter acesso ao manual de literatura e possuir a chave para desvendá-lo.
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Bento Fleury
Presidente do Instituto Bernardo Élis
As pretensões de leitura para 2022 são variadas, conforme as intercorrências de assuntos históricos e sociais, os meus preferidos; bem como os romances brasileiros, dos quais sou um grande admirador, inclusive daqueles antigos e esquecidos do cânone literário atual. Detesto literatura estrangeira, seja de qual for o país. Sei que é uma atitude infinitamente pequena e mesquinha, mas aprecio, sim, quanto mais longe dos emaranhados das redes sociais e das imposições do presente, mergulhar naquela literatura bem nacional, com toques brasileiros e interioranos, que me levam a um mundo hoje extinto, de descrições doces e líricas de pedaços sutis do nosso país, sob a ótica de autores que jamais retornarão ao sucesso, daí um sentimento deles pertencerem só a mim, num sentimento de dono, como se só eu tivesse, agora, o prazer de apreciar uma receita antiga e desusada.
Coisas e prazeres secretos e solitários de bibliófilos…
Assim quero ler/reler as narrativas “Presença de Anita”, de Mário Donato. “O Amanuense Belmiro”, de Cyro dos Anjos. “Chama e Cinzas”, de Carolina Nabuco. “Cabocla”, de Ribeiro Couto. “O Coronel e o Lobisomem”, de José Cândido de Carvalho. “A Imaginária”, de Adalgisa Nery. “A Estrela Sobe”, de Marques Rebelo. “Os Elos da Corrente”, de Laura Oliveira Rodrigo Otávio. “Gina”, de Maria José Duprè. “Por Onde Andou Meu Coração”, de Maria Helena Cardoso. “Bugrinha”, de Afrânio Peixoto. “A Família Medeiros”, de Julia Lopes de Almeida, esses para lembrar apenas.
Histórias simples, singelas, de gente pequena, esquecida e desaparecida na voragem do mundo de agora…
Esses doces livros, com suas histórias avoengas, doces, sentimentais, líricas, esquecidas, mortas no agora, são para mim, as mais belas páginas de nossas letras, definitivamente apagadas para todos e muito vivas, incandescentes, dentro do meu sentimento de amor àquilo que não está aparente ou velado para sempre e que eu descubro, com olhos novos, em pungentes pedaços d’alma.
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Enzo de Lisita
Jornalista e apresentador da TBC
Com a devida vênia concedida pelo editor, o meu depoimento é mais de reverências ao que li em 2021 do que dar referências sobre o que pretendo encontrar a partir de 1º de janeiro. Adianto que, para desespero dos saudosistas, sou um entusiasta da leitura via e-book. É mais barata e funcional, cabe no bolso, permite a leitura a qualquer hora, além de outras vantagens.
Comecei 2021 lendo “Lawfare”, obra dos advogados Cristiano Zanin et ali e de fácil entendimento para os leigos. Explica como as leis e o sistema judiciário podem ser usados para criminalizar e prender um adversário político.
Da literatura goiana — ou de goianos, como queira —, li “Tropas e Boiadas”. Demorou, mas valeu a pena. Outro conterrâneo merecedor da minha atenção foi Stepan Nercessian com “Garimpo das Almas”. Sai-se do regionalismo do jovem Hugo de Carvalho Ramos e entra-se na visão contemporânea e urbana de um sexagenário.
Li dois clássicos, inéditos para mim, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, e “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis. Não são aclamados atoa! Mas nem só de clássicos vive e sobrevive a literatura brasileira. Conheci “A Biblioteca Elementar”, do carioca Alberto Mussa, e caminhei por “Torto Arado”, do premiado baiano Itamar Vieira Júnior. Este último, na ficção, e Laurentino Gomes, com a investigação jornalística de “Escravidão Vol. II”, ajudam-nos a não esquecer a vergonha dos 350 anos de escravidão.
Em se tratando de publicações em outros idiomas, o e-book oferece um menu mais abrangente e com preços acessíveis. Li aquele que é para mim o maior escritor latino-americano, Gabriel García Márquez com “El General em su Laberinto”, obra que narra os últimos dias de Simón Bolivar. Teve ainda Isabel Allende com “El Plan Infinito”, uma história que acontece nos EUA, mas de DNA de latinoamerica. Para manter a compreensão do italiano reencontrei “Il Príncipe” (Maquiavel) e “Storia Della Letteratura Italiana”, uma obra extensa e profunda de De Sanctis sobre a literatura italiana.
Para encerrar 2021 menciono “O Jogo Vermelho”, do ex-deputado, ex-ministro e ex-comunista Aldo Rebelo. A obra descreve como palmeirenses e corinthianos se mobilizaram em um match que tinha o propósito de arrecadar fundos para a campanha do PCB nas eleições de 1945. Em tempo: o Palestra venceu a partida por 3×1.
Ah! Ia me esquecendo de 2022. Devo iniciar concluindo a (re)leitura de “Viagem ao Centro da Terra” (Júlio Verne). Já comprado, com início de leitura em breve “O Dia em que Voltamos de Marte”, da matemática e filósofa Tatiana Roque. Tomando carona em um presente que a minha mulher ganhou, está na mira Yuval Noah Harari, com “Homo Deus”. A expectativa, para quem já leu “Sapiens”, é boa. Pretendo ainda conhecer a obra do chileno e cidadão do mundo Roberto Bolaño, livro também já comprado. E assim vai.
Bom, já escrevi demais. Se não tivesse limites de linhas e de páginas, seria perigoso eu concorrer com James Joyce; aliás, vou parando porque, pretendo reencontrar-me com “Ulysses”. Só fui até a metade do caminho, antes da página 500.
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Eliézer Cardoso de Oliveira
Historiador, doutor em Sociologia e professor da UEG
Professor é realmente um bicho esquisito. Enquanto a maioria das pessoas planeja frequentar regularmente a academia, fazer uma dieta, comprar um carro novo ou trocar o celular, o professor, além disso tudo, está preocupado com os livros que ele pretende comprar e ler. Afinal, livros são a maneira mais eficaz de transformar dinheiro em capital simbólico, ao menos essa era a opinião de Pierre Bourdieu, ele próprio um leitor voraz.
Infelizmente (ou felizmente?), a tarefa docente torna obrigatória determinadas leituras, já que é muito difícil ser um bom professor sem ser um bom leitor. Então, o desafio é equilibrar o interesse nos “livros que preciso ler” e nos que “eu gostaria de ler”. Como diria, talvez, Guimarães Rosa, o professor não lê só por boniteza, mas principalmente por precisão.
Neste ano, estou ministrando a disciplina de História Contemporânea, e por isso, logo em janeiro, vou reler “Os Dez Dias que Abalaram o Mundo”, o imprescindível (e cansativo) relato de John Reed sobre a Revolução Bolchevique. Pretendo ler em seguida o “Diário de Helga”, o relato da ocupação nazista na Tchecoslováquia. Planejo também a leitura de “A Corrida para o Século XXI: no Loop da Montanha-Russa”, de Nicolau Sevcenko, um autor cuja prosa me fascina. Por falar em boa prosa, relerei o “Fascismo Eterno”, a relevante reflexão de Umberto Eco.
Já em relação à disciplina de Teoria da História, deverei ler os seguintes livros: “Grandes Nomes da História Intelectual”, uma portentosa coletânea organizada por Marcos Antônio Lopes sobre os grandes nomes da teoria da história; a biografia “Paul Ricoeur — Um Filósofo em Seu Século”, do historiador francês François Dosse; o livro de Friedrich Schiller “Objetos Trágicos, Objetos Estéticos”; e “O Grotesco”, de Wolfgang Kayser.
Depois dos livros obrigatórios, os livros de livre escolha. Espero que, em 2022, eu tenha condições de ler a “Reviravolta”, de Jared Diamond (quero ver se ele mantém o mesmo nível de “Armas, Germes e Aço”). Quero ler também o “Senhor das Moscas” (um livro que todo mundo leu, menos eu), de William Golding, e “Outliers”, de Malcolm Gladwell.
Todos estes livros já estão sob a minha posse. Se a próxima visita na página de livros da Amazon não desviar minha atenção (o que é bem provável), são esses os livros que pretendo ler em 2022.
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Rafael Fleury
Escritor e presidente do Gabinete Literário Goyano
Entre velhas e novas leituras — se é que valem tais qualificações —, preciso concluir minhas leituras ora velhas, em se mirando o ano novo, e já embalar novas, pelas quais já anseio cupidamente.
Entre as leituras velhas, digamos assim — mas em tom bonito, que, aliás, muito do antanho me agrada e fascina —, a mim legadas pelo ano que ora se epiloga, estou concluindo estes livros: “Meditações”, de Marco Aurélio; “Poesias”, de Félix de Bulhões, e “O Diário de Anne Frank”.
Ainda nas priscas, destes estou a meio caminho: “Quando Fui Outro”, de Fernando Pessoa; “As moradas do castelo interior”, de Santa Teresa d’Ávila e “O Dom do Crime”, de Marco Lucchesi.
A propósito, explico-me porque citei todos os livros acima: é que, deveras, estou lendo-os todos. É que leio cerca de cinco livros ao mesmo tempo, numa espécie de rodízio, inserindo um novo à medida que vou terminando cada qual, num modo — que a mim calha bem — de satisfazer meus gostos anímicos conforme o dia e o momento, apetites literários da minha hora e idiossincrasias outras, já que dias há em que estou em clima de poesia, outros, em clima de romance, outros ainda, em que quero contos ou crônicas ou livro de história pura.
Então vamos às novas leituras, da agenda que a mim propus para o nascente 2022. Pois bem, tirante as leituras puramente técnico-jurídicas, em livros, principalmente, de Direito de Família e Sucessões, Civil e Processual Civil — aliás, de leitura quase diária no meu mister de advogado —, tenho que minha agenda de leitura está, como de costume, recheada, preponderantemente, de literatura, para alimentar a alma e o coração e instigá-los e enlevá-los no sendeiro de viver.
Eis, pois, os livros que pretendo às minhas leituras novas, para 2022 — sem ordem definida, a depender do apelo do espírito —, pelos quais nutro já um apetite — senão quase, totalmente — voluptuoso, ávido de devorá-los, sereno de degustá-los, deglutindo-os e saboreando-os os mundos que me estão a descortinar: “Dom Quixote”, de Cervantes; “Quincas Borba”, de Machado de Assis; “Metamorfose”, de Franz Kafka; “Revolução dos Bichos” e “1984”, de George Orwell; “Como os Advogados Salvaram o Mundo”, de José Roberto de Castro Neves; “Teoria Pura do Direito”, de Hans Kelsen; “Teoria da Norma Jurídica”, de Norberto Bobbio; “Conceito e Validade do Direito”, de Robert Alexy; “Hirudo Medicinallis”, de Ademir Luiz; “Cem Anos de Solidão” e “Memória de Minhas Putas Tristes”, de Gabriel García Márquez; “É Isto um Homem?”, de Primo Levi; “A Rebelião das Massas”, de José Ortega y Gasset; “O Tradutor Cleptomaníaco: e Outras Histórias de Kornél Esti”, de Dezsö Kosztolányi; “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera; “Como a Igreja Católica construiu a Civilização Ocidental”, de Thomas Woods; “A Arte de Viver”, de Epicteto; “Confissões”, de Santo Agostinho; “Elos da Mesma Corrente”, de Rosarita Fleury; “A Cidade e as Serras”, de Eça de Queiroz; “Os Miseráveis”, de Victor Hugo; “Livro da Vida”, de Santa Teresa d’Ávila; “Da Vida Feliz”, de Sêneca; “Idade Média — O Que Não Nos Ensinaram” e “Luz Sobre a Idade Média”, de Régine Pernoud; “Fátima”, de Berthaldo Soares e Kenya Camerotte Soares; “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévski; “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles; “La Sociedad de la Nieve”, de Pablo Vierci; “Os Fios da Escrita”, de Adalberto de Queiroz; “Travessia Para a Eternidade”, de Lêda Selma; “Joana e os Três Pecados”, de Maria Helena Chein; “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri; e “Ilíada” e “Odisseia”, de Homero.
Essa é a minha meta de leitura para 2022, meu anelo para o vindouro no singrar apaixonante das páginas, das palavras, dos mundos da memória, dos tesouros criativos da alma dos escritores… De tudo, enfim, eu conseguindo a mercê de realizá-la, lerei e relerei também — se assim me permitir o fado — mais contos de Machado e mais alguns livros de Shakespeare, de Cora, de Drummond e de Neruda, que muito me abraçam e deleitam.
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Ademir Luiz
professor da UEG e presidente da UBE-GO
2022 será o centenário da Semana de Arte Moderna de 22. Certamente, tanto por diversão quanto por dever de ofício, devo ler ou reler autores da tradição literária modernista brasileira. Filas e filas de eventos acadêmicos e culturais vão acontecer e é preciso estar afiado para as inevitáveis palestras, cafezinhos e conversas de corredor sobre o tema.
Para além da aventura modernista, pretendo fechar pelo menos duas obras completas. Destaco “Augustus”, último livro do americano John Willians que ainda não li, e “Cabeça de Negro”, única obra de ficção de Paulo Francis que ainda não enfrentei. John Willians é quase um gênio, faltou pouco para chegar ao Olimpo da literatura. Ficou na antessala, o que já é ótimo. Francis, por outro lado, foi o maior escritor que o Brasil não teve. Trata-se de uma lenda do jornalismo, mas, embora esteja longe de ser um escritor medíocre, poderia ter sido grande na literatura. Foi barrado no baile. Infelizmente, o jornalista Francis contaminou e sequestrou o prosador Francis, impedindo voos de imaginação e de estilo que só aparecem aqui e ali, de maneira esparsa. Faço votos de que “Cabeça de Negro” me faça mudar de ideia.
Em 2022 planejo voltar a duas trilogias que possuem, tangencialmente, alguns pontos de conexão. Lerei “História do Dinheiro”, terceira e última parte da trilogia de Alan Pauls sobre a Argentina pós-ditadura, e “Pontos de Fuga”, segunda parte da trilogia “O Lugar Mais Sombrio”, onde Milton Hatoum enfoca a ditadura militar brasileira em um registro de inspiração autobiográfica. Um Brasil e Argentina que tem tudo para render.
Esses são projetos de leitura em andamento. Outros, de caráter independente, também estão no horizonte além do Réveillon. O primeiro da lista foi um presente de amigo secreto: “Contos Morais”, do sul-africano J. M. Coetzee, vencedor do Prêmio Nobel e autor do clássico moderno “Desonra”. Em seguida “A Virgem dos Sicários”, do colombiano desterrado Fernando Vallejo, obra indicada por pessoas de fino gosto literário. Preciso ler para discutir com elas. “A Questão Humana”, do francês François Emmanuel, me ganhou pela sinopse. Mesmo caso de “Últimas Tardes com Teresa”, do espanhol Juan Marsé, e “Quem matou Roland Barthes”, do também francês Laurent Binet.
Entre os brasileiros, pretendo descobrir um autor do qual escuto muito falar e ainda não li: Paulo Scott. Separei dois livros: “Habitante Irreal” e “O Ano em Que Vivi de Literatura”.
Finalizando, para não dizerem que não falei das flores nem de clássicos, 2022 será o ano em que lerei os dois volumes de “Ilusões Perdidas”, do mestre Balzac. Um autor sempre moderno, não importa se tenham se passado 100, 200 ou 300 anos.
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Nilson Jayme
Escritor, crítico literário e doutor em Agronomia
1 — “História da Alimentação no Brasil” (Global, 972 páginas), de Luís da Câmara Cascudo. Vou usar como pesquisa para uma série de artigos sobre Alimentação, música e etnografia. O primeiro deles será sobre a mandioca, usando como pano de fundo a música “Farinhada”, de Djavan.
2 — “Antologia da Alimentação no Brasil” (Global, 320 páginas), de Luís da Câmara Cascudo. A motivação é a mesma acima.
3 — “Prelúdio da Cachaça” (Itatiaia), de Luís da Câmara Cascudo. Idem.
4 — “A Trama da Vida — Como os Fungos Constroem o Mundo”, de Merlin Sheldrake. Presente de um amigo.
5 — “Gilberto Freyre de A a Z — Referências Essenciais à Sua Vida e Obra”, de Edson Nery da Fonseca.
6 — “História da Música Popular Brasileira — Sem Preconceitos” de Rodrigo Faour.
7 — “Escravidão”, volume 3, de Laurentino Gomes (aguardando lançamento).
8 — “Copacabana — A Trajetória do Samba Canção (1929-1958)”, de Zuza Homem de Melo
9 — “Relatos Sertanistas”, de Afonso E. Taunay.
10 — “A grande História da Evolução”, de Richard Dawkins.
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Hélverton Baiano
Jornalista e poeta
Lista de leitura é aquela que a gente nunca cumpre adequadamente ou porque leu fora dela, outros livros de caíram à mão, ou era menor ou maior do que sua disponibilidade de leitura. Vezes há em que outros livros aparecem no seu radar. Mas é sempre muito bom você ter uma meta, pelo menos parte de alguma coisa e pode chegar até a lugar nenhum. Não vai aqui qualquer ironia com Neil Gaiman. Outras vezes a leitura é tão enfadonha e chata, que você resolve abandoná-la pelo meio ou nem tanto. Acontece. Então, olhos à leitura.
Eu que nunca conheci os homens – de Jacqueline Honpman
Plataforma – de Michel Houellebecq
Sonhos em tempo de guerra – de Ngugi wa Thiongo
A vida pela frente – de Émile Ajar
Solução de dois estados – de Michel Laub
Estação Atocha – de Ben Lerner
Tommy Wieringa – de Joe Speedboat
No final da tarde – de Kent Haruf
A vida em espiral – de Abasse Ndione
Neve – de Orhan Pamuk
Medo e delírio em Las Vegas – de Hunter S. Thompson
Viver é prejudicial à saúde – de Jamil Snege
Nêmesis – de Philip Roth
A marca humana – de Philip Roth
Se um viajante numa noite de inverno – de Italo Calvino
A estrada – de Cormac McCarthy
Zen e a arte da manutenção de motocicletas – de Robert Pirsig
Para o meu coração num domingo –de Wisława Szymborska
Divórcio – de Ricardo Lísias
A imortalidade – Milan Kundera
O imitador de homens – de Walter Tevis
O morro dos ventos uivantes – Emile Brontë
Oráculo da água – de Mazaro Emoto
Lavra dos goiases III – Leodegária de Jesus – de Darcy França Denófrio
Lugar nenhum – de Neil Gaiman
Tempo e contratempo – Millôr Fernandes
Minha querida Beirute – Miguel Jorge
Tirza – de Arnon Grunberg
Artigo 353 do Código Penal – de Tanguy Viel
Quando tinha cinco anos me matei – de Moward Buten
Um amor incômodo – de Elena Ferrante
Poesia Completa – João Cabral de Melo Neto
Os Condenados – Oswald de Andrade
Poesias reunidas – Oswald de Andrade.
O deus das pequenas coisas – Arundhati Roy
Minotauro – Benjamin Tammuz
A vegetariana – Han Kang
Toda Poesia – Ferreira Goulart
Amargos como os frutos – Paula Tavares
Memórias do subsolo – Dostoiévski
Édipo Rei – Sófocles
O filho eterno Cristovão Tezza
Sonhos em tempo de guerra – Ngugi Wa Thiong’o
Invenção de Orfeu – Jorge de Lima
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Maria Helena Chein
Escritora e membro da Academia Goiana de Letras
Na minha lista, incluo livros de diversos gêneros literários, sendo uma relação do momento.
Box com livros de Maria de Fátima Gonçalves Lima
— A Poesia da Literatura Brasileira: do Barroco ao Modernismo
— Arte e Poesia em Goiás
— O Signo de Eros na Poesia de Gilberto Mendonça Teles e outros ensaios
— O Discurso do Rio em João Cabral
Box com os livros de Ademir Luiz
— Brasil 17.1
— O Beatle Palestino
— Fogo de Junho
— Hirudo Medicinallis
Outros livros
— Anjo Noturno, de Sérgio Sant´Anna, contos
— Poemas Concebidos sem Pecado, Manoel de Barros
— As Três Quedas do Pássaro, Maria Geralda do Amaral Melo, contos (releitura)
— Poemas 2006-2014, Louise Gluck, Nobel de Literatura 2020
— O Idiota, Fiódor Dostoiévski, romance (releitura)
— A Descoberta do Mundo, Clarice Lispector, 468 crônicas
— Nos Ombros dos Gigantes, Umberto Eco, palestras.