As edições dos noticiários podem utilizar o recurso visual, mas é preciso que ele venha como acessório da reportagem, e não o contrário

Imagens de circuito interno passaram a ser “febre” nas edições de telejornais | Foto: Reprodução

Tente assistir a um telejornal local inteiro sem que haja um áudio ou vídeo enviado por espectadores ou imagens internas ou externas de circuitos de segurança. Aposta? Dificilmente vai conseguir passar “invicto”.

Claro que a interatividade torna o jornal mais interessante e até mesmo mais informativo. No sábado, o Jornal Anhanguera – Edição do Almoço, também chamado de JA1, foi encerrado com o alerta de que o trânsito na BR-153, no trecho urbano de Goiânia, estava muito lento naquele momento. Uma prestação de serviços sem dúvida, muito pertinente, e incrementada com um vídeo enviado por uma motorista que estava presa no engarrafamento da via.

A facilidade de comunicação como nunca antes havia ocorrido faz com que quem era apenas “cliente” dos veículos informativos tornem-se eventuais (ou até mesmo contumazes) colaboradores deles, como foi o caso acima e ocorre em várias outras situações.

O problema está no uso excessivo de áudios, fotos e vídeos para atrair e prender a atenção da audiência. De algo inovador e até mesmo necessário para o mundo atual, extremamente conectado – e com “viés de alta” para esse aspecto, é preciso dizer –, essa dinâmica, que serviria para incrementar uma matéria, passou a condicioná-la. Assim, um banal acidente de trânsito ganha espaço no noticiário por conta de uma câmera de vídeo de uma residência que flagrou o acidente.

Ou seja: muitas vezes “caem” matérias que atingiriam (ou informariam) mais pessoas, ainda que de uma forma menos instigante, para mostrar que um motorista foi imprudente e invadiu a preferencial. Obviamente, se for o caso de uma recorrência de acidentes naquele cruzamento, a situação muda de figura. E, mais do que ser o mote principal, as imagens vão corroborar um fato que levará a questionamentos à autoridade pública de trânsito. Assim, o vídeo volta a ser um importante acessório e não a razão principal daquele tempo do telejornal.

De outra forma fica, para a audiência mais atenta, uma sensação de que a edição está preguiçosa, se escorando no que é mais fácil e mais atraente, embora, por vezes, sem qualidade de informação.