O primeiro-ministro inglês, com a Inglaterra parcialmente destruída, reagiu e, a partir de um bunker, comandou a operação que colaborou para devastar o nazismo


Mais um livro imperdível chega às livrarias patropis: “O Bunker de Churchill — A História do Centro de Operações Que Garantiu a Vitória da Grã-Bretanha na Segunda Guerra Mundial” (Record, 238 páginas, tradução de Andrea Gottlieb de Castro Neves), de Richard Holmes. Fala-se tanto no bunker de Hitler, mas Churchill também tinha o seu e, de lá, comandou a derrocada do nazismo.

Leia sinopse da editora: “Biógrafo de Churchill, Richard Holmes narra aqui pela primeira vez como foi que, daqueles confins apertados, o grande estadista transformou uma provável derrota para os nazistas em retumbante vitória britânica. Adaptadas, em 1938, em refúgio temporário para o caso de bombardeios, estas salas secretas no coração de Londres viraram uma segunda casa para o primeiro-ministro e para um grande número de militares e civis. Os habitantes do Centro de Operações trabalharam 24 horas por dia em completo segredo, gradualmente levando a Grã-Bretanha à vitória. Com base em uma grande quantidade de documentos originais, incluindo depoimentos de pessoas que trabalharam no Centro de Operações, Holmes descreve os desconfortos, alegrias e peculiaridades da vida no bunker, além de traçar um quadro mais amplo da guerra. Esclarecedor e fascinante, O bunker de Churchill é uma exploração inédita de um dos locais mais importantes e estratégicos da história britânica”.

Trecho de um capítulo do livro de Richard Holmes

O Centro de Operações ganha forma

O Departamento de Construção Civil concluiu que as instalações mais adequadas de Whitehall ficavam no porão dos New Public Offices, na esquina da Great George Street com a Storey’s Gate, que possuía uma estrutura de aço. O CID concordou que essas instalações seriam apropriadas, Ismay foi colocado no comando do projeto e o trabalho para a conversão teve início. Os compartimentos desse porão, tema central deste livro, estavam destinados a se tornar o centro do comando nacional na Segunda Guerra Mundial, porém a sua conversão e sua fortificação não foram vistos na época como nada além de medidas temporárias e emergenciais, um improviso até que uma sede fosse especificamente construída em Londres para esse fim, que as cidadelas dos arredores ficassem prontas ou que uma evacuação completa da capital fosse devidamente planejada. Foi apenas em 1939 que a alternativa de se permanecer em Whitehall pelo tempo mais longo possível, mesmo sem abrigos definitivos, ganhou defensores. No final de 1938, o Departamento de Construção Civil recebeu ordens para equipar os departamentos de Whitehall com salas protegidas, amplas o bastante para que uma equipe básica de cem a 150 pessoas pudesse continuar trabalhando durante ataques aéreos; além do Centro de Operações do Gabinete Nacional, deveria haver salas reforçadas para o quartel-general das forças armadas e para o comitê de ARP, as quais seriam protegidas por placas de concreto e sacos de areia, bem como à prova de gás e capazes de resistir ao desmoronamento dos prédios que ficavam acima delas.

Uma transferência do Gabinete Nacional e dos principais departamentos de defesa para cidadelas nos subúrbios teria a vantagem de manter o governo em Londres, embora não na movimentada Whitehall, mas em locais dispersos que os bombardeiros teriam dificuldade de localizar. Contudo, havia também o temor de que os efeitos de um bombardeio pudessem levar à desordem civil e ao colapso da infraestrutura de Londres. Seriam os subúrbios realmente mais seguros? Além disso, será que as atividades ali realizadas para a fortificação de redutos poderiam alertar o inimigo para sua existência?

Apesar desses questionamentos, havia fortes argumentos para a evacuação e a dispersão. O Ministério da Força Aérea estava completamente pessimista em relação à possibilidade de o Gabinete Nacional, os chefes de Estado-Maior e os ministérios das forças armadas terem condições de continuar exercendo controle sobre uma cidade que se esperava ser devastada. Mesmo se continuassem seguros nos bunkers subterrâneos, eles poderiam ser isolados do restante do país. Por outro lado, a evacuação seria uma operação extremamente complexa; se fosse realizada antes do início da guerra, teria de ser feita com descrição, para não chamar a atenção de um inimigo e talvez até incitar um ataque preventivo, e assim não desmoralizar a população. Caso a evacuação e a dispersão fossem deixadas para ser realizadas apenas quando o conflito parecesse iminente, a própria ação poderia acelerar uma crise secundária e transformá-la numa guerra. Como a estratégia Rae de evacuação levaria ao menos sete dias para ser executada, sua implementação no início de uma guerra causaria confusão e prejudicaria a eficiência num momento crucial.

O plano “Garantia” era uma variação do plano Rae, recomendada por uma conferência interdepartamental, e de acordo com ele cada departamento essencial deveria estabelecer um “Núcleo Essencial de Operações”. Quando a guerra parecesse iminente, esses núcleos deixariam Londres e partiriam para lugares mais seguros: o núcleo naval seria transferido para Rosyth, enquanto o Exército, a RAF e o Departamento de ARP iriam para Bentley Priory, sede do Comando de Caças, perto de Harrow. Desses locais mais seguros, eles poderiam controlar as operações caso os departamentos principais fossem destruídos. Durante a Crise de Munique, uma versão desse plano foi testada quando a Marinha e a RAF enviaram núcleos operacionais para localidades fora de Londres. O plano não foi exatamente um sucesso: houve muita confusão, com funcionários de departamentos diferentes quase “trocando socos em suas tentativas de conseguir uma das faculdades [de Oxford]”. A atividade comprometeu a segurança, e descobriu-se que havia conflitos entre o plano e as providências para a evacuação civil. O plano Rae foi, portanto, mais uma vez modificado em outubro de 1938.

A equipe do Grupo A ficaria em Londres durante pelo menos dez dias, e o Grupo B seria removido primeiro. Os núcleos de garantia seriam transferidos para acomodações protegidas no noroeste de Londres, e os preparativos no sudoeste deveriam ser acelerados.

O Departamento de Construção Civil estava compreensivelmente confuso e irritado. Os planos mudavam o tempo todo, e o departamento tinha que localizar acomodações à prova de bombas nos subúrbios, bem como encontrar prédios para o governo e os funcionários públicos na área rural, enquanto ainda se debatiam propostas para novos prédios reforçados ou abrigos subterrâneos em Whitehall. O porão do centro de pesquisas do escritório-geral dos correios em Dollis Hill foi designado para o Quartel-General Emergencial de Guerra; ele deveria tornar-se uma “cidadela” para abrigar o Gabinete Nacional e os chefes de Estado-Maior. As salas localizadas sob os New Public Offices deveriam ser replicadas. Protegido por uma placa maciça de concreto, esperava-se que o porão estivesse pronto no início de 1940. Em agosto de 1939, o CID recebeu a informação de que o Almirantado e o Ministério da Força Aérea em Cricklewood e Harrow logo estariam concluídos.