5 lições de História que aprendemos com os antifas

29 junho 2020 às 18h27

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Quem venceu a Segunda Guerra Mundial? Os capitalistas. Ah, fascistas! E o filme “E… o Vento Levou”? Também fascista!
Ademir Luiz
Especial para o Jornal Opção
Quando começamos na escola, aprendemos que História é o “estudo do passado, para compreender o presente e mudar o futuro”. Definição básica e inocente. Básica e inocente demais para ser levada em consideração por expansionistas seriais como Napoleão e Hitler, que, mesmo sabendo que apenas os ingleses conquistaram a Inglaterra e que o inverno russo não é lá muito agradável, tentaram o impossível.
Um pouco mais velhos, lendo o romance “1984”, de George Orwell, somos avisados que “quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado”. Aviso bastante realista que está nas entrelinhas de infindáveis manifestos partidários e manuais de redação de jornais mundo afora.
Na faculdade, é bem provável que nos defrontemos com a ideia de que “os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo”, do bom e velho tio Karl (sim, o alemão Marx).
Esse mundo pode ser transformado com espadas ou com canetas. Como sabemos, a caneta é mais forte do que a espada, mas demora muito. Os apressados preferem espadadas mesmo. E se o próprio Jesus, que muitos enxergam como um proto-hippie pacifista, disse que veio trazer a espada, então a prática de distribuir golpes por aí só pode ser coisa boa. Hoje, os famigerados antifas, munidos de sua atribuição ética de combater fogo contra fogo, nos apresentam lições históricas fundamentais. Separamos cinco delas, para caber nos dedos de uma mão, pois na outra empunhamos uma espada. Não que os antifas defendam que todas as mãos precisem ter necessariamente cinco dedos. Essa estética biológica normativa deve ser combatida.
Lição número 1: Winston Churchill era fascista
É consenso entre os historiadores que Winston Churchill liderou o mundo livre contra os fascistas durante a Segunda Guerra Mundial? O que esses historiadores entendem de história? Todo mundo sabe que quem escreve a História são os vencedores. E quem venceu a Segunda Guerra Mundial foram os capitalistas imperialistas que, por definição, são fascistas. Portanto, a Segunda Guerra Mundial foi uma guerra entre diferentes tipos de fascismos. A URSS estava lá como convidada especial. Winston Churchill foi autor de muitas frases inegavelmente racistas. Isso é fato, não tem desculpa. Vai para a mesma lata de lixo da história onde jogamos Monteiro Lobato, “… E o Vento Levou” e o tio Karl… epa, o tio Karl não, ele falou sem querer querendo. Tá perdoado. Era comum em seu tempo. Vai estudar História antes de julgar alguém.
Lição número 2: “…E o Vento Levou” era racista
Como não pensei nisso antes? Macacos me mordam! É óbvio que “…E o Vento Levou” é racista e deve ser censurado. Claro que é melhor não usar a palavra censurado, pois é uma palavra fascista. Vamos usar a expressão “suspenso provisoriamente”. Talvez assim ninguém se lembre do fato de que a KKK, discretamente citada no filme, foi criada por membros do Partido Democrata para tentar derrubar governos republicanos dos Estados do Sul durante a Era da Reconstrução, após a Guerra de Secessão. Atacavam líderes afro-americanos. Mas eram democratas do passado, os democratas de hoje são bonzinhos. Erros passados de nossos aliados no presente devem ficar no passado, da mesma forma que o que aconteceu em Las Vegas fica em Las Vegas. E antes que algum espertinho lembre que “… E o Vento Levou” deu o primeiro Oscar a uma atriz negra, a lendária Hattie McDaniel, vamos logo avisando que essa conquista individual não é nada diante da luta coletiva. Individualidade é fascista! Todos juntos, unidos como um feixe de varas amarradas, é antifascista!
Lição número 3: torcidas de futebol com rivalidades históricas podem lutar juntas
O inimigo de meu dirigente é meu inimigo e, para combatê-lo, eu preciso me aliar momentaneamente com meu inimigo, visando produzir vídeos legais para serem postados nas redes sociais e passar no noticiário televisivo. Pelo menos até os campeonatos de futebol voltarem, quanto poderemos retomar a saudável prática de confrontos nos estádios, um esporte que precisa ser mais valorizado. Alguém trouxe uma pomba branca? Não! Tudo bem, então me passe o coquetel Molotov.
Lição número 4: A bandeira brasileira deve ser queimada por ser fascista
A bandeira brasileira é fascista. Seu desenho é uma adaptação da bandeira imperial. O campo verde representa a Casa de Bragança de D. Pedro I. O losango amarelo ouro representa a Casa de Habsburgo da imperatriz Leopoldina. Os monarquistas brasileiros são identificados como fascistas pelos antifas. O círculo azul com 27 estrelas brancas com cinco pontas, que substituiu o brasão de armas do Império, reproduz o céu do Rio de Janeiro em 15 de novembro de 1889, data da Proclamação da República. Como se sabe, a Proclamação da República foi um golpe militar. Golpes militares são fascistas por definição. A faixa branca com a inscrição Ordem e Progresso em verde é um lema positivista. O positivismo é fascista. O que fazer diante de um símbolo tão opressivo? Fogo nele! Esclarecemos que não há nenhuma referência as práticas da Inquisição, uma vez que a Inquisição era fascista.
Lição número 5: O vírus do fascismo é mais perigoso que outros vírus
Os antifas defendem a quarentena absoluta, salvo em casos de urgência democrática. Se a democracia estiver ameaçada é permitido realizar aglomerações de mascarados devidamente munidos de recipientes com álcool, não necessariamente álcool em gel (de difícil combustão). É conveniente que membros dos grupos de risco não participem dessas marchas pela paz e democracia. Eles correm devagar e não são produtivos em combate. Obviamente, não se trata de um modelo de quarentena vertical. Quarentenas verticais são fascistas.
Ademir Luiz, escritor, doutor em história e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), é colaborador do Jornal Opção.