4 goianos são citados no livro bomba do ex-deputado Eduardo Cunha. Confira as revelações
02 abril 2021 às 12h49
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Jovair Arantes, Sandro Mabel, Joesley Batista e Henrique Meirelles são listados. Quem sai muito mal é Michel Temer. Lula aparece criticando Dilma Rousseff
Quatro goianos são citados no livro-bomba “Tchau, Querida — O Diário do Impeachment” (Matrix, 808 páginas), do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, com apoio da filha Danielle Cunha. Jovair Arantes é goiano de Buriti Alegre. Henrique Meirelles é goiano de Anápolis. Joesley Batista é goiano de Formosa. Sandro Mabel, embora nascido em Ribeirão Preto (SP), é o mais goiano dos paulistas, pois mora no Estado há vários anos e aqui desenvolveu os negócios que o transformaram em milionário.
O livro de Eduardo Cunha, verdadeira bomba — que vai explodir aos poucos, na medida que as informações forem processadas, o que deverá gerar novos processos judiciais —, começa a circular no dia 17 de abril, quando fará cinco anos do impeachment de Dilma Rousseff, a ex-presidente eleita pelo PT. Mas já pode ser pedido nos sites das livrarias Cultura, Travessa e Amazon. Custa 99 reais.
O repórter Gabriel Mascarenhas, da “Veja”, teve acesso antecipado ao livro de Eduardo Cunha e publicou uma longa reportagem sobre o assunto. A revista resume alguns capítulos da obra e ouve alguns dos “atacados” pelo ex-deputado federal. “É inegável o valor do documento”, frisa a publicação da Editora Abril. O problema é que, como livro-vingança, o leitor há de se perguntar: “É tudo verdade?”. A resposta talvez deva ser: “Quase tudo. Mas, evidentemente, é a verdade como a percebe Eduardo Cunha”. É provável que o ex-parlamentar tenha provas, inclusive gravadas, de muito do que diz. É bem possível que, antes de publicar as histórias, ele, um sujeito meticuloso, tenha consultado um advogado qualificado. As provas, se não são apresentadas no cartapácio, podem ser arroladas em processos judiciais. Vale sublinhar que alguns dos críticos atuais do ex-líder emedebista o convidavam para frequentar suas casas. Claro, era um “amor por interesse”. Afinal, como disse Nelson Rodrigues, “dinheiro compra até amor verdadeiro”.
Lula da Silva e Dilma Rousseff
O ex-presidente Lula da Silva, do PT, concedeu entrevista recentemente ao brilhante jornalista Reinaldo Azevedo. Parecia um santo-apaziguador, ante um repórter com cara de pavão-parvo — uma espécie de Gerson do jornalismo (levantando a bola para o centroavante golear). O realista absoluto não aparece na entrevista, e sim o melhor sujeito do mundo. O retrato do petista feito por Eduardo Cunha é o de um político que negociou diretamente para evitar a queda de Dilma Rousseff.
Numa reunião secreta, na casa de Joesley Batista, em São Paulo, Lula, na versão do ex-deputado, “confessou arrependimento por ter patrocinado a reeleição de sua pupila e prometeu a Cunha tentar interferir no STF para ajudá-lo”, frisa a “Veja”. O petista-chefe teria dito, segundo a narrativa de Eduardo Cunha: “Então, o ex-presidente fez um desabafo surpreendente. Contendo o choro, Lula disse que o maior erro que ele havia cometido na vida foi ter permitido que Dilma se candidatasse à reeleição”.
Por que Eduardo Cunha “traiu” o aliado PT e articulou o impeachment? Para o ex-deputado, na síntese da “Veja”, “além da vingança pela falta de apoio em sua eleição à presidência da Câmara, foi um ato de preservação. Na sua visão, o avanço da Lava Jato contra ele era um complô liderado por Dilma, apoiada por grão-petistas como o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o procurador-geral da República à época, Rodrigo Janot”.
“Todo mundo iria atirar. Todo mundo iria morrer”, sublinha, com razão, Eduardo Cunha. Dilma Rousseff caiu e, logo depois, o deputado foi cassado e preso.
O impeachment de Dilma Rousseff poderia ter sido evitado? Eduardo Cunha avalia que sim. “Se o PT não tivesse tentado derrotá-lo na Câmara, ele jura que jamais teria detonado o impeachment. Por sua vez, Cunha também faz um mea-culpa, afirmando que o rompimento por parte dele foi um erro que o obrigaria a administrar as consequências”, destaca “Veja”. O ex-deputado atirou no pé esquerdo de Dilma Rousseff, o tiro resvalou e atingiu seu pé direito e ambos caíram.
“Quem com o golpe fere, com golpe será ferido”, assinala Eduardo Cunha.
Jovair Arantes foi assessorado por advogado de Cunha
O então deputado federal Jovair Arantes, do batalhão de choque de Eduardo Cunha, foi convocado para ser o relator do impeachment de Dilma Rousseff. Mas agora o ex-presidente da Câmara faz uma revelação: um advogado de sua confiança contribuiu, de maneira decisiva, para a elaboração do relatório “de” Jovair Arantes. “Com isso, [Eduardo Cunha] garantia que o parecer teria consistência técnica e seria favorável ao afastamento.” O político goiano teria sido, portanto, uma espécie de “preposto”.
Michel Temer, articulador-mor do impeachment
No momento, Michel Temer está constituindo a narrativa de que, como presidente da República, reorganizou a economia. Ao mesmo tempo, cultiva a pose de estadista, incluindo orientando o presidente Jair Bolsonaro. Eduardo Cunha relata que o emedebista foi o principal articulador do impeachment de Dilma Rousseff, de quem era vice-presidente.
“Temer não só desejava o impeachment como lutou por ele de todas as maneiras — ao contrário do que ele quer ver divulgado sobre o assunto”, afirma Eduardo Cunha. É uma das verdades ditas pelo ex-deputado. “Jamais esse processo de impeachment teria sido aprovado sem que Temer negociasse cada espaço a ser dado a cada partido ou deputado que iria votar a favor da abertura dos trâmites”, pontua o ex-presidente da Câmara. “Temer avalizava praticamente tudo”, registra “Veja”, a partir da versão do ex-líder emedebista.
Joesley Batista e Henrique Meirelles
A JBS dos irmãos Joesley e Wesley Batista é uma das campeãs nacionais incentivadas, fartamente, pelos governos do PT — com dinheiro do BNDES, quer dizer, público. Entretanto, ao perceber que Dilma Rousseff estava “madura”, quase caindo, Joesley decidiu dar uma força extra para derrubá-la.
Joesley Batista, na versão de Eduardo Cunha, teria sido fundamental para o impeachment. Antes, ao se propor a convocação da CPI do BNDES, o ex-deputado perguntou ao empresário se não haveria problema. O poderoso chefão da JBS deu sinal verde, sem perceber que a investigação poderia acossar a empresa, o que a acabou acontecendo.
“Joesley confidenciou a Cunha que o governo petista havia lhe pedido dinheiro vivo para comprar deputados dispostos a votar para tirar Dilma do Planalto. ‘Ele me disse que, como já tinha escolhido o lado favorável ao impeachment, iria enrolar os interlocutores para não dar nada para eles’.” À Lava Jato, o dirigente da JBS contou ter dado dinheiro a cinco deputados para tentar impedir a queda de Dilma Rousseff.
Segundo Eduardo Cunha, Joesley Batista tinha “acesso ultrapreferencial ao ministro do STF Edson Fachin, chegando a trabalhar para emplacá-lo no Supremo em 2015. O empresário teria prometido interceder junto a Fachin a favor do ex-deputado, que enfrentava um pedido de afastamento da presidência da Câmara. “Eu queria uma chance. Joesley combinaria com Fachin que ele julgaria em agosto a ação em plenário.” Não deu certo. Fachin não atendeu o pedido, o que evidencia sua decência.
O engenheiro Henrique Meirelles se tornou ministro da Fazenda, segundo Eduardo Cunha, devido ao lobby de Joesley Batista.
Joesley Batista sugeriu que Michel Temer, como presidente, acalmasse o mercado. “Ele estava particularmente preocupado com as suas posições do mercado de dólar futuro. Para evitar o aumento do prejuízo, ele gostaria de uma sinalização de Temer ao mercado — de que a política cambial não iria sofrer qualquer mudança.” O presidente seguiu a orientação, sustenta Eduardo Cunha.
Jaques Wagner e José Eduardo Cardozo
Joesley Batista abriu sua casa de Brasília para um encontro entre Eduardo Cunha e o então ministro Jaques Wagner. Este teria prometido a indicação de Michel Temer para ministro da Justiça em troca de o ex-presidente da Câmara blindar Dilma Rousseff.
O ministro da Justiça do governo Dilma, José Eduardo Cardozo, teria prometido que Eduardo Cardozo poderia indicar um ministro do Supremo Tribunal Federal. Seria para a vaga de Marco Aurélio Mello, que se aposentará em julho deste ano. Eduardo Cunha teria de segurar a PEC da Bengala, que garantia aposentadoria aos 75 anos. Se segurasse, o que não aconteceu, Dilma Rousseff indicaria cinco ministros do Supremo — o que lhe daria uma força substancial. Ouvido pela “Veja”, Jaques Wagner sugere que Eduardo Cunha tentou chantagear o governo. Cardozo nega as conversas. Rodrigo Janot é sucinto: “Não converso com criminoso”.
José Carlos Araújo e Sandro Mabel
Eduardo Cunha relata que ex-integrantes do Conselho de Ética da Câmara tentaram extorqui-lo. A história resumida por “Veja”: “Cunha acusa o então presidente do colegiado, o ex-deputado José Carlos Araújo, de lhe pedir 3 milhões de reais para a campanha seguinte, por meio do também ex-deputado Sandro Mabel. Se topassem, poderia interferir na escolha do relator de seu processo no colegiado”.
José Carlos Araújo rebate: “Essa história é mentirosa. Nunca conversei com o Mabel sobre isso”. O político de Goiás não foi ouvido por “Veja”.
General Villas Bôas e Dilma Rousseff
Eduardo Cunha e o general Eduardo Villas Bôas, então comandante do Exército, fizeram uma viagem para a Amazônia. “Ele [Villas Bôas] demonstrava conhecer a rotina do palácio com uma desenvoltura que não seria possível sem fontes internas. A conclusão a que eu cheguei era que Dilma não sabia, mas era vigiada o tempo todo dentro do palácio. Até visitas que recebia, telefonemas a que atendia, tudo era do conhecimento dos militares”. O general, que tem a doença ELA, não foi ouvido pela revista.
Recentemente, Jair Bolonaro disse que deve muito ao general Eduardo Villas Bôas, apontado como uma das reservas morais das Forças Armadas, por ter se tornado presidente da República. Os dois teriam um “segredo”.
Eduardo Cunha, condenado em dois processos, responde a mais oito processos. Chegou a ficar preso três anos e cinco meses num penitenciária e está sob prisão domiciliar. E revela: está escrevendo um segundo livro. A tendência é que se torne best-seller, como o primeiro se tornará, possivelmente.