11 livros que Portugal já editou e que o Brasil deveria editar. Dicas pra Record, Cia das Letras etc.
02 outubro 2022 às 00h00
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1
O Estranhíssimo Colosso — De António Cândido Franco
O título completo é: “O Estranhíssimo Colosso — Uma Biografia de Agostinho da Silva” (Quetzal, 735 páginas), de António Cândido Franco.
O português Agostinho da Silva (1906-1994) era tudo e mais um pouco. Filósofo, poeta, tradutor, poliglota, ogã de terreiro baiano, o intelectual português deu aulas na Bahia e, convidado por Darcy Ribeiro, na Universidade de Brasília (UnB). A rigor, é um dos fundadores da UnB (para a qual atraiu o grande Eudoro de Sousa), onde criou o Centro Brasileiro de Estudos Portugueses.
No aniversário da Universidade Federal de Goiás (UFG), em 1962, Agostinho da Silva deu uma palestra, que foi assistida pela historiadora Lena Castello Branco e pelo crítico literário Gilberto Mendonça Teles, que é citado no livro, às páginas 517 e 518. “As nossas universidades ensinam de tudo, mas nada do que seja especificamente brasileiro”, disse. Um funcionário da UnB, Teodoro Freire (homem simples), disse sobre o scholar luso: “Professor Agostinho era um homem que trabalhava. Se pudesse trabalhar de dia e de noite, era melhor para ele. Ele se alimentava pouco. O prazer dele era escrever, ler e atender as pessoas. Tinha um grande interesse em conversar principalmente com os mais humildes da Universidade de Brasília, e de outros lugares, que o procuravam”.
Perseguido pela ditadura de António Salazar, Agostinho da Silva veio para o Brasil e deu uma grande contribuição ao seu novo país.
A biografia é exaustiva, mas seu autor, professor da Universidade de Évora, sugere que é preciso escavar um pouco mais a vida e a obra de George Agostinho Baptista da Silva de tão ricas que são. Não se trata nem de supervalorizá-lo, e sim de dimensionar um intelectual tão ativo e produtivo. No Brasil, além de Darcy Ribeiro e Gilberto Mendonça Teles, Caetano Veloso está entre seus admiradores. O diretor de cinema Glauber Rocha tinha paixão pelo scholar português.
2
Integrado Marginal — De Bruno Vieira Amaral
O português José Cardoso Pires é autor de romances de qualidade, como “O Delfim” (Civilização Brasileira, 183 páginas), “Balada da Praia dos Cães” (Bertrand Brasil, 364 páginas) e “Alexandre Alpha” (Companhia das Letras, 364 páginas), e do livro de não-ficção “De Profundis — Valsa Lenta” (Bertrand Brasil, 80 páginas). Ao resenhar “Alexandre Alpha”, lançado no Brasil em 1988, o crítico Leo Gilson Ribeiro escreveu que Cardoso Pires era, “possivelmente, o maior escritor português em um país de revigorante efervescência literária atual”. João Moura Jr., crítico e tradutor, frisou que “muitos” o “consideram o maior ficcionista português contemporâneo”.
A obra de Cardoso Pires fala por si. Mas faltava examinar o homem e o escritor (o tradutor, o editor de livros, o jornalista, o polemista) — os livros estão devidamente escrutinados pela crítica de jornal e acadêmica. Morto há 24 anos, em 1998, aos 73 anos, ganhou, em 2021, um estudo de sua vida e, também, de sua obra de rara excelência. “Integrado Marginal — Biografia de Cardoso Pires” (Contraponto, 599 páginas; uma lacuna é não ter fotografias), do escritor Bruno Vieira Amaral, explica o homem e seus livros de maneira competente. Chega a ser ousado na interpretação da obra — com alto espírito de síntese —, às vezes discordando das críticas mais convencionais, e ampliando seu entendimento (avulta um Cardoso Pires mais modernista e inventivo). É, pois, um portento — a obra que faltava sobre o autor de “O Anjo Ancorado” e “O Hóspede de Job”.
Dois capítulos tratam do período em que, fugindo da ditadura de Salazar, veio para o Brasil, onde se tornou amigo dos escritores Fernando Sabino e Otto Lara Resende.
3
O Poço e a Estrada — De Isabel Rio Novo
“O Poço e a Estrada — Biografia de Agustina Bessa-Luís” (Contraponto, 503 páginas), de Isabel Rio Novo, resulta de uma pesquisa exaustiva sobre a vida e a obra de uma das mais importantes escritoras portuguesas (um par de José Saramago, Lídia Jorge, Lobo Antunes e José Cardoso Pires). Ela escreveu “A Sibila” (um belo romance; digamos, feminista, ao seu modo) e, entre outros, “Vale Abraão”, romance que dialoga, em pé de igualdade, com “Madame Bovary”, de Flaubert. Altamente produtiva (e de alta qualidade média), Agustina Bessa-Luís escreveu vários romances e biografias (de Florbela Espanca e do Marquês de Pombal). O livro relata que era uma escritora obstinada, obcecada com a qualidade de seu trabalho.
Olhando de longe, parecia uma dona de casa; quando se punha a escrever, era uma fera… criativa. O livro conta que seu pai morou no Brasil.
Quando menina, Agustina “comprou um livro intitulado ‘O Guarani’, de José de Alencar, e pôs-se a lê-lo, ficando a cismar ‘naquelas terras onde bramiam os rios e aconteciam inundações pavorosas; e os coqueiros do rei eram tão altos como catedrais’”. A biografia menciona que uma brasileira trabalhou como empregada doméstica para a escritora.
Há um Fla x Flu em Portugal: entre António Lobo Antunes e José Saramago? Talvez menos hoje, dada a morte de Saramago. Mas a literatura de Portugal é de excelente qualidade e, além dos citados entre parênteses acima, há tantos outros, como Maria Gabriela Llansol (cuja literatura é belamente estranha, e não sei como explicá-la), José Luís Peixoto, Valter Hugo Mãe, Margarida Rebelo Pinto, Teresa Martins Marques (autora de “A Mulher Que Venceu Don Juan”; a autora é pesquisadora, professora universitária e crítica literária), Gonçalo M. Tavares, Isabel Rio Novo, Inés Pedrosa, Filipa Martins.
4
Nazis Que Triunfaram — De Éric Branca
O livro “Nazis Que Triunfaram — As Carreiras Fulgurantes dos Cúmplices de Hitler Depois da Segunda Guerra Mundial” (Casa das Letras, 384 páginas), do jornalista e historiador frances Éric Branca, conta o tipo de história que nem sempre agrada os (países) Aliados — aqueles que derrotaram o nazismo, em 1945. Vários nazistas serviram às democracias, às vezes em postos chaves.
Em 1968, o chanceler da Alemanha Ocidental, a capitalista, era Kurt Georg Kiesinger, um nazista notório. O filósofo Karl Jaspers se insurgiu contra o político que havia servido a Hitler. Os caçadores de nazistas Bete Klarsfeld e Serge Klarsfeld (a história está contada no livro “Memorias”, Edhasa, 718 páginas; trata-se de uma edição espanhola, daí a falta de acento em memórias) escreveram artigos a seu respeito. Bete, uma mulher de coragem, estapeou-o publicamente, cavando a sua queda.
Mas, se Kiesinger deu-se mal, depois de se ter dado bem, outros nazistas foram beneficiados pelos Aliados. Otto Skorzeny (considerado altamente perigoso) trabalhou como espião para Israel. O criminoso de guerra Reinhard Gehlen, chefe da inteligência militar na frente leste, foi contratado para montar e dirigir os serviços secretos da Alemanha capitalista. Mesmo tendo sido chefe de Operações no alto comando das forças armadas de Hitler, Adolf Heusinger foi indicado para a presidência do comitê militar da Otan. Saqueador da França, Ernst Achenbach dirigiu a comissão dos Negócios Estrangeiros do parlamento alemão. A CIA contratou o primeiro chefe da Gestapo, Rudolf Diels, para “caçar” comunistas.
5
A Porta da Europa — De Serhii Plokhy
“A Porta da Europa — Uma História da Ucrânia” (Ideias de Ler, 520 páginas), do historiador Serhii Plokhy, professor de Harvard, é uma obra crucial para entender a história da Ucrânia — sua identidade forte e poderosa, com história específica (e não uma história-apêndice da Rússia ou da União Soviética) — e, também, o que está acontecendo hoje com o país, parcialmente invadido e bombardeado pelas tropas da Rússia do presidente Vladimir Putin (espécie de micro-Stálin).
Sinopse da editora informa que, “situada entre a Europa Central, a Rússia e o Oriente Médio, a Ucrânia tem sido moldada por diversos impérios ao longo da História —dos romanos e otomano até o Terceiro Reich e à União Soviética —, que exploraram a nação como uma porta de passagem entre o Ocidente e o Oriente. Talvez por isso, para os ucranianos não será de estranhar a ambição da Rússia contra a integridade territorial de seu país. Para eles, é mais uma página numa longa história de busca pela liberdade”.
Serhii Plokhy frisa que a Ucrânia de Nikolai Gógol, de Mikhail Bulgákov e Liev Trótski está sempre lutando por sua cidadania, como agora contra o czar Putin.
O historiador Simon Sebag Montefiore, especializado na história da Rússia e da União Soviética, escreveu sobre a obra de Serhii Plokhy: “Uma leitura essencial para todos os que quiserem entender a Rússia e a Ucrânia atuais”.
Frise-se que, entre as décadas de 1920 e 1930, mais de 3,5 milhões de ucranianos morreram de fome. Uma fome induzida pelo governo comunista de Ióssif Stálin. Há um livro excepcional sobre o assunto: “A Fome Vermelha — A Guerra de Stálin na Ucrânia” (Record, 584 páginas, tradução de Joubert de Oliveira Brizida), da historiadora Anne Applebaum.
6
O Abismo — A Crise dos Mísseis de Cuba 1962, de Max Hastings
Max Hastings é mais conhecido como um notável historiador da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) — também escreveu sobre a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) — e, recentemente, publicou um livro excelente sobre a Guerra do Vietnã. “O Abismo — A Crise dos Mísseis de Cuba 1962” (Dom Quixote, 648 páginas) mostra que o pesquisador britânico decidiu pesquisar um tema mais recente.
Em 1962, a Rússia de Nikita Khrushchev e os Estados Unidos de John Kennedy quase explodiram o mundo em uma guerra nuclear. Porém, o bom senso — e, certamente, o medo da morte coletiva — prevaleceu.
Leia a sinopse da editora: “A Crise dos Mísseis de Cuba foi o acontecimento mais perigoso da história, quando a humanidade se deparou com o iminente confronto nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética. Durante esses dias, o mundo poderia ter acabado. O historiador britânico Max Hastings conta com verve e talento ímpares o que aconteceu a partir das perspectivas dos protagonistas — desde os líderes políticos e militares diretamente envolvidos, até aos camponeses cubanos e aos apologistas britânicos do desarmamento nuclear. Recorre a testemunhas oculares, arquivos, documentos e diários, gravações da Casa Branca, e à análise da intricada teia geopolítica gerada, para descrever o ambiente da Guerra Fria naquele início da década de 1960 protagonizada pela Cuba de Fidel Castro, pela Rússia de Nikita Khrushchev e pela América de Kennedy; depois, para retratar os angustiantes Treze Dias em que o Armagedom, mais que possível, foi provável”.
Recomendo “Um Minuto Para a Meia-Noite — Kennedy, Kruschev e Castro à Beira da Guerra Nuclear” (Rocco, 447 páginas, tradução de Jussara Simões e Marcos Santarrita). É uma narrativa extraordinária.
7
Personalidades e Poder — De Ian Kershaw
“Personalidades e Poder — Construtores e Demolidores da Europa Moderna” (Dom Quixote, 512 páginas), do historiador britânico Ian Kershaw (o grande biógrafo de Hitler).
Kershaw exibe os grupos de políticos — democratas e nazifascistas — que atuaram na história para construir e destruir.
Entre os demolidores, que tiveram grande apelo popular, estão Lênin, Stálin, Hitler, Mussolini, Tito e Franco (falta arrolar o português Salazar e Mao Tsé-tung). A sinopse frisa:”Que tinham estes líderes, e que tempos foram aqueles em que viveram, que lhes permitiu terem um poder irrestrito e mortífero? E o que suscitou o fim dessa era?”
No grupo de construtores, Kershaw arrola Churchill, De Gaulle, Adenauer, Gorbachev, Thatcher e Kohl. Enquanto a outra “equipe” destruía, a “de” Churchill — e é preciso acrescentar Franklin D. Roosevelt, o grande presidente americano — e os demais construíam sociedades democráticas e, ao mesmo tempo, combateram aqueles que planejavam levar a humanidade para a escuridão. O maior de todos talvez seja o britânico, mas o americano, que foi quatro vezes presidente dos Estados Unidos, merece ser considerado como um dos grandes estadistas do século 20.
8
Cesária Évora — de Elzbieta Sieradzinska
A cantora Cesária Évora encantou o mundo, com sua bela voz (de um frescor que lembra as boas memórias da infância, o tempo mais “vivo” de um indivíduo), às vezes vibrante nas coladeras e às vezes nem tanto nas mornas (o que mostra uma versatilidade ativa). Pode-se dizer que a artista africana tornou seu pequeno país conhecido internacionalmente. No Brasil, durante determinado período, ela se tornou uma cantora cult, que cantou, por exemplo, com Caetano Veloso e Marisa Monte. A canção “São Vicente Di Longe” é de uma beleza rara. Li (e comentei) uma pequena biografia da artista, que, morta em 2011, teve uma vida dura, de pobre. Chegou a se trancar em casa, por longo período, com depressão. Mas, amparada por um empresário perspicaz, passou a cantar em Portugal e na França (que se apaixonou por ela).
A cantora precisava, porém, de uma biografia alentada, que chegou com “Cesária Évora” (Rosa de Porcelona, 440 páginas), de Elzbieta Sieradzinska. A autora é romanista, tradutora do francês, bibliotecária, cantora, compositora e letrista, ou seja, entende do ramo. Ao conhecer a música de Cesária, Elzbieta quedou-se mesmerizada e decidiu-se: não ficaria quieta até escrever a história de sua vida. Publicou também um guia de Cabo Verde em polonês e traduziu as canções da notável artista para sua língua. Editou o blog “Toward Cabo Verde”, “o primeiro website polaco dedicado à África (www.afrika.org)”.
9
Sobrevivi ao Gulag Chinês — De Gulbahar Haitiwaji e Rozeen Morgat
A China comunista é uma ditadura cruenta. Porém, por ser a segunda maior potência global, parceira comercial de vários países — o maior importador de produtos brasileiros, como soja —, é, por assim dizer, “perdoada”. Mas há histórias terríveis, que, aos poucos, vão sendo contadas. E vale sublinhar: não são apenas crueldades dos tempos de Mao Tsé-tung. São histórias recentes de brutalidade, de perseguições implacáveis. A China atual deveria ser considerada, como a Rússia, uma pária internacional. Mas quem há de enfrentá-la? O risco de uma guerra nuclear assusta todos nós e tem um efeito paralisante nas potências mundiais.
Sinopse da editora: “Em 2006, Gulbahar Haitiwaji, mulher uigur originária da província de Xinjiang, na China, decide fugir do país com a família. Dez anos depois, a viver em França com o estatuto de refugiada política, é chamada pelo governo chinês para resolver uma questão administrativa. Ao chegar ao aeroporto, é imediatamente detida sob a acusação — falsa — de terrorismo e separatismo islâmico e enviada para um «campo de reeducação», onde, ao longo de quase três anos, é interrogada, torturada, privada de alimento, manipulada, esterilizada, brutalizada.
“Em 2019, o ‘New York Times’ tornou públicos os The Xinjiang Papers, que descrevem a repressão sistemática desta minoria étnica muçulmana de origem turcomena através da sua detenção e deportação massiva para campos de concentração. Por detrás desta que muitos não hesitam em classificar de limpeza étnica, estará, também, o interesse do governo de Xi Jinping em Xinjiang, região por onde passará a nova ligação entre a Ásia e a Europa. Salva pela persistência da família e pela pressão da diplomacia internacional, Gulbahar recorda uma experiência aterradora, a que poucos resistem para contar a história. Este é o primeiro testemunho de uma mulher que sobreviveu e rejeitou o silêncio. A sua história é um apelo ao Ocidente, para que não feche os olhos a esta barbárie humanitária em curso”.
10
Doce Amargura — De Paul Lapperre
A indústria açucareira do Brasil (que explorou, de maneira brutal, escravos africanos — num genocídio quiçá planejado) e de Cuba são mais conhecidas. No Brasil, gerou uma literatura, histórica, sociológica (o brilhante Gilberto Freyre) e literária mesmo (por exemplo, a obra de José Lins do Rego). Mas há outra indústria açucareira, relata Paul Lapperre, doutor em ciência pela Eindhoven University of Technology .
“Doce Amargura — Vida e Morte do Império Açucareiro Hornung na Zambésia, 1888-1988” (Casa das Letras, 568 páginas), de Paul Lapperre, lembra a crise da indústria açucareira no Brasil, que devastou sobretudo o Nordeste, como Pernambuco do bardo João Cabral de Melo Neto.
Sinopse da editora: “‘Doce Amargura — Vida e Morte do Império Açucareiro Hornung na Zambézia, 1888–1988’ é a história da Sena Sugar Estates e da aliança anglo-‑portuguesa entre John Peter Hornung (Pitt) e Laura de Paiva Raposo que lhe deu origem.
“John Peter Hornung, um ousado jovem inglês de origem húngara, introduziu, no final do século XIX, o cultivo comercial da cana-de-açúcar no Baixo Delta do Rio Zambeze, numa aventura pioneira de criação de várias plantações de açúcar, que se pautou pela introdução de maquinaria industrial, novas técnicas, investigação e modernização das práticas agrícolas, lançando as bases para aquela que acabou por se tornar não apenas na maior empresa açucareira de Moçambique, mas também numa das maiores do mundo.
“Numa história que cobre 100 anos da história de África e da Europa, a Sena Sugar Estates evoluiu ao longo de décadas alcançando vitórias e sofrendo contrariedades; e convivendo com as políticas económicas e sociais de Portugal e Moçambique que mediaram os finais do século xix e a I Guerra Mundial; com o Estado Novo e as políticas mercantilistas e coloniais desenvolvidas por António de Oliveira Salazar; a Grande Depressão; a Segunda Guerra Mundial; a Guerra Colonial e o alvorecer da liberdade na África Portuguesa; e o conflito Renamo-Frelimo, até à destruição do sonho de Pitt Hornung”.
11
Pessoa — Uma Biografia — De Richard Zenith
O poeta português — e cada vez mais do mundo, dadas a pluralidade e a universalidade de sua poética — Fernando Pessoa é uma mina de ouro inesgotável. Quanto mais escavam mais se descobrem coisas novas (e o que não é novo, se bem explorado por novos “mineiros”, se torna novíssimo — diamantes para o cérebro e para a alma). Sua poesia e sua imagem icônica reverberam pelo mundo (a internet o transformou em uma espécie de deus — até frases que não são suas aparecem atribuídas ao bardo). Há várias biografias do poeta, cada uma tributária da outra, a mais recente, bebendo em todas e acrescentando alguns pontos — porque Pessoa renasce a cada ano, a cada dia, com novas pesquisas —, considerada, pelo autor e pela crítica, como a “melhor”, o que, claro, não é inteiramente crível. E há sempre os leitores — espécies de membros de legiões de aficionados — que têm sua biografia de estimação.
O americano Richard Zenith resolveu escavar a mina, estudando meticulosamente as coisas velhas e levantando fatos ditos novos, e publicou “Pessoa — Uma Biografia” (Quetzal, 1184 páginas).
Sinopse da editora: “Fernando Pessoa é, a par de Luís de Camões, o maior poeta português. E é uma das figuras proeminentes do modernismo europeu, juntamente com escritores como Kafka, Joyce e Proust. O seu vastíssimo legado – da poesia, drama e ficção ao artigo de opinião e escrita mediúnica, cruzando e aprofundando inúmeros domínios do conhecimento (da literatura à religião, passando pela história, a filosofia, a astrologia e tantos outros) — tem vindo a ser progressivamente conhecido pelos leitores portugueses e de todo o mundo”.
“Porém, o homem por detrás da extraordinária multiplicidade de vozes (os heterónimos e dezenas de outros autores ficcionais), e de uma das obras literárias mais complexas e ricas de todos os tempos, é quase um desconhecido.
“João Gaspar Simões, com a publicação da sua biografia em 1950, teve o grande mérito de reconhecer a importância de Fernando Pessoa numa altura em que o poeta ainda não era justamente apreciado. Mas a obra não se baseou numa pesquisa mais aprofundada e desde há muitos anos que se sentia a falta de uma obra biográfica de referência. ‘Pessoa — A Biography’, do autor norte-americano naturalizado português Richard Zenith, publicado nos EUA e na Grã-Bretanha em 2021 e que agora se publica em Portugal, vem suprir definitivamente essa lacuna.”