Memórias, autobiografias e estudos biográficos em Goiás
05 agosto 2023 às 15h09
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Os estudos biográficos sempre fizeram parte da historiografia literária brasileira. Desde o século XIX, esses estudos propiciaram uma forma de conhecer a história, por meio da particularidade de seus vultos. Diversos autores se dedicaram a compreender os fatos, os acontecimentos, por meio de biografias ou autobiografias, numa tentativa de recompor o múltiplo, no particular.
Escrita por familiares, admiradores, a própria pessoa, desconhecidos, ou mesmo inimigos, em biografias não autorizadas, essas produções caíram no gosto do público, na busca de sucesso, ao rememorar fatos interessantes (alguns conflitantes e escandalosos), bons ou ruins, de personalidades da história brasileira e, também, a mundial. O gênero por muito tempo esteve no topo dos livros mais vendidos ou procurados, dada a curiosidade, característica do ser humano em escrafunchar a vida alheia; arrancar a casca das perebas dos outros…
Compreende-se que por meio das biografias é possível conhecer minúcias dos acontecimentos, que a história oficial não revela. Detalhes pequenos, coisas miúdas, que, positivas ou negativas, destacam, sincronicamente, flashes da história, que passam despercebidos nos livros de histórias gerais.
Relatam a vida de pessoas importantes ou não, suas principais ações, experiências, legados. Tem uma estrutura que apresenta, primeiramente, a apresentação do biografado, os relatos cronológicos e a conclusão sobre o legado da pessoa para a história. A personalidade biografada deve, em geral, ter uma relevância coletiva. Hoje, com a ascensão das minorias, muitas pessoas simples, humildes, que também construíram a história, passaram a ser lembradas e biografadas.
O texto do gênero biográfico é narrativo, em terceira pessoa do singular ou quando autobiográfico, em primeira pessoa do singular. Por tratar com um único personagem central usa, de forma recorrente, os pronomes e substantivos. Os tempos verbais mais usados são o pretérito perfeito do indicativo ou o presente histórico. Também, os adjuntos adverbiais modais e espaciais, com freqüência. Tudo compõe o cenário, os fatos e acontecimentos ligados ao tempo em que a figura histórica esteve em atividade.
Diferente da genealogia, que busca as raízes familiares num estudo bem científico, as memórias e biografias são mais livres, algumas até romanceadas, mas que configuram importantes leituras em nosso tempo, para compreensão da própria identidade de determinado povo.
Autobiografias famosas
Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, Por onde andou meu coração, de Maria Helena Cardoso; Oito décadas, de Carolina Nabuco; Minha vida de menina, de Helena Morley, Rita Lee, uma autobiografia, de Rita Lee; Prólogo, ato, epílogo, de Fernanda Montenegro; A queda para o alto, Sandra Mara Herzer; Baú de ossos, Balão cativo, Beira mar, de Pedro Nava; Infância e Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos; Meus verdes anos, de José Lins do Rego, Autobiografia literária, de Moacyr Scliar, Minha vida, de Suzana Flag, Livro de Jô, de Jô Soares; Como e porque sou romancista, de José de Alencar; Solo de clarineta, de Érico Veríssimo; Itinerário de Pasárgada, de Manuel Bandeira; Um homem sem profissão, de Oswald de Andrade; A idade do serrote, de Murilo Mendes; Viagem no tempo e no espaço, de Cassiano Ricardo; A menina do sobrado, de Cyro dos Anjos; Boitempo, de Carlos Drummond de Andrade; Memórias inventadas, de Manuel de Barros; História da minha infância, de Gilberto Amado; Memórias improvisadas, de Tristão de Athayde; O falso mentiroso, de Silvino Santiago; Memórias, de Nelson Rodrigues, Os anos 40, Cheiros e ruídos, de Rachel Jardim; O menino maluquinho, de Ziraldo, Memórias de um menino de negócios, de Wilson Martins. Memórias de um colono no Brasil, de Thomas Davatz, Porque construí Brasília, de JK; Memórias da rua do Ouvidor, de Joaquim Manuel de Macedo; Memórias do fogo, de Eduardo Galeano; Diário íntimo, de Lima Barreto; Anarquistas, graças a Deus, de Zélia Gattai, Minha formação, de Joaquim Nabuco, dentre muitos outros.
No século XIX grandes nomes da literatura brasileira escreveram biografias como Visconde de Taunay, que escreveu a biografia de Augusto Leverger, o Barão de Melgaço, importante na história de Mato Grosso; Carolina Nabuco, que escreveu a biografia do pai, o notável Joaquim Nabuco; Chatô, o rei do Brasil, Lula e Olga, de Fernando Moraes, Mauá, empresário do Império, de Jorge Caldeira; A vida de Lima Barreto, de Francisco de Assis Barbosa; Estrela solitária- Um brasileiro chamado Garrincha, O anjo pornográfico, Carmem, Os perigos do Imperador, de Ruy Castro; Dona Bêja, a feiticeira de Araxá, de Thomas Leonardos, Castro Alves, de Alberto da Costa e Silva; Jorge Amado, uma biografia, de Josélia Aguiar; Matar para não morrer, de Mary Del Priore; Biografia de Mário de Andrade, de Jason Tércio; Monteiro Lobato, de Nereida Schilaro Santa Rosa, também com inúmeras outras obras de biografias de celebridades em todos os campos da atividade humana.
Biografias romanceadas são famosas com Agripa Vasconcelos, na série “Saga do país das gerais” com os romances históricos Chica que manda, Gongo sôco, A vida em flor de Dona Bêja, Sinhá braba. Também Zélia Gattai com Um chapéu para viagem; O meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos; São Jorge dos Ilhéus, de Jorge Amado, dentre outros famosos, hoje esquecidos, infelizmente.
Em Goiás, as produções em biografia e autobiografias também foram relevantes e vastas, desde os primórdios. Livros de memórias e episódios de celebridades de diferentes áreas sempre nortearam o fazer intelectual em nosso estado.
Admiráveis são as obras Reminiscências, de Ondina de Bastos Albernaz (1906-1994); Reminiscência, de Emília Perillo Argenta (1902-1991), em forma poética; Relicário de reminiscências, de Gilcélia Martins de Carvalho (1929-2019); Tempo de ontem, de Nelly Alves de Almeida (1916-1999); Gente, de Lêda Xavier de Almeida (1927- 2021); Terra branca, terra vermelha, de Maria Adélia Mendonça Arantes (1906-1991); Um filho de Macaúbas, de Almir Turisco de Araújo (1916-2018); O tronco e outras memórias, de João Asmar (1922-2020); Entre sertanejos e índios do Norte, de Frei José Maria Aldrin; Terra distante, de Pedro Cordolino Ferreira deAzevedo (1884-1958); Atrás da porta do meio, de Elza Baiocchi (1927-2002); O país da minha infância, de Geraldo de Queiroz Barreto (1933-2019); Rememórias, de Carmo Bernardes (1916-1998); Dobras do tempo e Samburá, de Venerando de Freitas Borges (1907-1994), Samburá de sonhos, de Zanoni de Goiaz Pinheiro (1926-2004); Retalhos, de Ana Braga (1923-2023); Minha terra, minha gente, de Francisco Braga Sobrinho (1913-2002); Memórias de um botocudo, de Genesco Ferreira Bretas (1911-2007); Caminhos de minha vida, de Ana de Britto Miranda; Memórias de outros tempos, de Francisco de Britto (1907-1994); Memórias de um peão de boiadeiro, de Glicério Coelho (1897-1997); Fragmentos biográficos, de Luis Augusto Sampaio (1937); Passando dos 80, de Anna Chrissylla de Siqueira e Silva (1896-1991); As reminiscências de um juiz, de Eduardo Henrique de Souza Filho (1907-2004); Memórias, de Pedro Ludovico Teixeira (1891-1979); Histórias da menina de Pirenópolis e Minha vida de casada, de Celuta Mendonça Teles (1911-1995); Gotejos de passado, de José Sêneca Lobo (1907-2006); Lembranças em conta gotas, de Maria Leal Lúcio (1921-2008); Emoções da vida, de João Batista Machado (1913-1989); Minha estrela companheira, de Ida ArtiagaMoreno (1915-2008); Memorial Itaberino, de Hélio Caldas Pinheiro (1929-2017); Tempo de sonhos, de Nair Perillo Richter (1915-2000); Um lutador, de Licardino de Oliveira Ney (1888-1979); Um homem debruçado no tempo, de José Frauzino Pereira (1918-2007); Lembranças em quatro tempos, Revoada, Caminhos e Velhos portais, de Nice Monteiro Daher (1915-2011); Minha luta contra o câncer, de Milonda da Costa Fonseca; Reminiscências de um sertanejo, de Antero Batista de Abreu Cordeiro (1907-2007); Reminiscências maçônicas de um vilaboense, de Luís Alberto Di Lorenzzodo Couto (1933-2014); Um cheiro de saudade, de Heloísa Helena de Freitas; Do meu tempo, de Albatênio Caiado de Godoi (1893-1973); Fragmentos do passado, de Claro Augusto de Godoy (1896-1986); Memórias da Campininha, de Horieste Gomes (1933); Memórias de um imigrante, de Bourhan Helou (1883-1972); Revoada de sonhos, de Jacira Brandão Veiga Jardim (Gito 1918-2019), dentre outros.
No gênero de biografias e perfis biográficos muitas são as produções como Uma família na história e Poder e paixão, de Lena Castello Branco Ferreira Freitas (1931); Cinco vultos meiapontenses e famílias pirenopolinas, de Jarbas Jayme (1895-1968); Imune a tempestades: A conturbada vida do primeiro prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas Borges, de Iúri Rincon Godinho (1964); Família Jayme/Jaime,Frederico Jayme Filho: 50 anos de vida pública,de Nilson Gomes Jaime (1963); Araxá, de maloca a palácio, de Waldir Luiz Costa (1917-1982); Claudino Silveira: 50 anos de rádio, de Ladislau Couto (1952); Fleurys e Curados, de Mariana Augusta Fleury Curado (1897-1982); A origem dos Fleurys no Brasil, de Agnello Arlíngton Fleury Curado (1891-1966); A origem da família Fleury, de José Sizenando Jayme (1916-1994); Marechal Xavier Curado, criador do exército brasileiro e Enigmas de Bartolomeu Antonio Cordovil, de Bernardo Élis (1915-1997); Presença de Corumbá na vida e obra de Bernardo Élis, de Ramir Curado (1963); A poética de Zilda Diniz, de Nilza Diniz Silva (1925-2020); Xavier de Almeida, meu patrono, de Altamiro de Moura Pacheco (1897-1997); Veiga Valle – O ciclo criativo, de Elder Camargo de Passos (1942); Chica Machado, um mito goiano, de Adélia de Freitas ; Coelho Vaz: 40 anos de poesia, de Inácio José de Paula (1960); Realizações e projetos de Colemar Natal e Silva no campo da cultura de Goiás, de Moema de Castro e Silva Olival (1933-2022); Dona Gercina, a mãe dos pobres, Nelly Alves de Almeida e O imperador da cultura, de Esther Barbosa Oriente (1919-2004) Bernardo Sayão, meu pai, de Lea Sayão; Rosarita Fleury, minha mãe, de Maria Elizabeth Fleury Teixeira (1945); Tronco e vergônteas, de Antonio César Caldas Pinheiro e Zanoni de Goiaz Pinheiro; Peixoto da Silveira, o gentil homem e Conhecer Confaloni,de PX Silveira (1954); Um líder ausente, O velho cacique, Iris, um homem chamado carisma e Olímpio Jayme: Política e violência em tempos de chumbo, de Luís Alberto de Queiroz (1952); Evangelino Meirelles, de Gelmires Reis (1896-1986); Íris Rezende: de líder estudantil a Governador, de Cileide Alves; Os inquilinos da casa verde, Tu és Pedro e JK para a juventude, de Hélio Rocha (1940); Couto Magalhães: A vida de um homem, de Miguel Jorge (1933); Henrique Silva: o general das letras goianas, de Regina Lacerda (1919-1992); Coronel Falcett, a verdadeira história de Indiana Jones, de Francisco Leal; Octo Marques – a trajetória de um artista, de Elder Rocha Lima (1927); César Bastos, vida e obra, de Filadelpho Borges de Lima (1944); Patrono Jarbas Jayme, de José Júlio Guimarães Lima (1914-1987); Goianos ilustres, de José Lobo (1888-1948); A morte trágica de Americano do Brasil, de José Dillermando Meirelles (1929-1998); Ana Braga, a têmpera da mulher tocantinense, de Áurea Cordeiro de Menezes (1931-2019); Couto Magalhães, o último desbravador do Império, de Hélio Moreira (1937); Dicionário de escritores goianos, de Mário Ribeiro Martins (1944-2017); Páginas goianas, de Gastão de Deus Victor Rodrigues (1883-1917); De Totó Caiado a Pedro Ludovico e Por esse Goiás afora, de Joaquim Rosa (1901-1982); Vultos e fatos de Goiás, de Moisés Santana (1888-1922); Rui Barbosa, o pensamento em ação, de Alaor Barbosa (1940); Rui Barbosa e seu tempo, de Colemar Natal e Silva (1907-1986); Celeiro de saudades, de Rubens Vieira da Silva (1957); Augusto Rios, o poeta, de José Peixoto da Silveira (1913-1987); Perfis, de Amália Hermano Teixeira (1916-1991); A saga de Posse a álbum de famílias, de Emílio Vieira (1944); Antonio Americano do Brasil, de Ney Teles de Paula (1949); Lugares e pessoas, de José Trindade da Fonseca e Silva; Vultos catalanos, Aquino Porto e a industrialização em Goiás e Senador Canedo, vida e obra, de Geraldo Coelho Vaz (1940); Nazareno Confaloni, entre linhas, traços e cores, de Jaqueline Siqueira Vigário; General Curado, estudo biográfico, Vida e obra de Silva e Souza, No santuário de Cora Coralina, A vida de Pedro Ludovico, Dicionário do escritor goiano e Semeadores de futuros, de José Mendonça Teles (1936-2014) Americano do Brasil, vida e obra, de Humberto Crispim Borges 1918-206); Nelly Alves de Almeida, escritora e amiga, de Ana Braga (1923-2023); A cultura plural de Bariani Ortencio, de Elisabeth Abreu Caldeira Brito; A mulher, a história e Goiás, Nossos vestidos brancos e Estrangeiros em Vila Boa e outras terras de Goyaz(em parceria com Bento Fleury), de Célia Coutinho Seixo de Britto (1914-1994); Gente nossa, de Maria das Dores Campos (1913-1993); Biografia de Leopoldo de Bulhões, de Wagner Estelitta Campos (1910-1979); Vellasco, o paladino do Socialismo, de Luiz Contart (1925-2010); João d’Abreu, sua vida e obra e Baú de lembranças, de Maria Cavalcante Martinelli; O diário de Abílio Wolney, de Abílio Wolney Aires Neto (1963); Registro de uma obra, de Humberto Ludovico de Almeida (1914-1996); Câmara Filho: o revoltoso que promoveu Goiás e Oposição também governa: Alfredo Nasser na política estadual e nacional;de José Asmar (1924-2006); Eça de Queiroz, vida e obra, de Francisco Ayres da Silva (1903-1987); Rondon, uma glória nacional, de AllaricoVellasco de Azevedo (1916-2003); Pedro Ludovico e a mudança revolucionária, de Eurico Barbosa (1933); Heitor Fleury, Jarbas Jayme, Altamiro Pacheco e Eurydice Natal e Silva: evolução cultural e sociológica de uma vida, de Rosarita Fleury (1913-1993); Orlando Alves Carneiro: iluminado empreendedor, Carlos Dayrell, biografia, Heribaldo Egídio: vida e negócios, Faldo de Souza Santos: 50 anos dedicados à farmácia, José Asmar, biografia, Deputado José de Assis: a trajetória de um líder, Dr. Aldemar de Andrade Câmara: história de uma vida, Israel de Amorim: um homem que reluziu mais que diamante, Elpídio de Souza Santos: pensador político em Iporá, Jerônimo Rodrigues da Silva: Jerominho, Altanir de Mendonça: do empresário a político – o trabalho habita a vida desse homem, de Ubirajara Galli (1954); História de Luiz do Couto, o poeta das letras jurídicas, Lupicínio de Araújo: o Rui Barbosa do Cerrado, de Rogério Arédio Ferreira (1932-2021); De Goyaz a Goiás – biografias vilaboenses, em vários volumes, Victor e Hugo de Carvalho Ramos, Mariana Augusta Fleury Curado, de Ademir Hamu (1950); Perfis vilaboenses, de Antonio Celso Ramos Jubé; Hélio de Britto e Célia Coutinho: duas vidas, uma história; A sempre viva Amália, de Bento Fleury (1969); Do Barro Preto ao planalto: caminhos e lembranças, de Lúcio Arantes (1918-2013) e Bento Fleury, Americano do Brasil: de Goyaz para a eternidade, Goiás do Couto: Memórias e belezas da cidade de Goiás e outros escritos, Eli Brasiliense Ribeiro, a grande porta da vida, de Bento Fleury (1969) e Rogério Arantes (1932-2021), Depois da tempestade e outras lembranças, de Raynerita de Queiroz (organizado por Bento Fleury), Erenry Fonseca de Araújo, o centenário em páginas de saudades, de Bento Fleury e Rosa Maria Fonseca de Araújo (1945), DJ Olvieira: operário da arte, de Amaury Menezes (1930), Poteiro: o popular e o público, de Leno Veras, Literatura e sentimento, de Nelly Alves de Almeida (1916-1999), Sebastião Fleury Curado, Im Memoriam de Ewerton Fleury Curado e Pai do ensino farmacêutico em Goiás, de Mariana Augusta Fleury Curado (19897-1986), Aimurê, de Maria Paula Fleury de Godoy, Cartas para Willian, de Terezy Fleuri de Godoy, Reflexões e pesquisas de Alcione Guimarães sobre Honestino Guimarães, dentre outros.
Assim, em Goiás, as figuras mais biografadas foram Pedro Ludovico Teixeira, Antonio Ramos Caiado, Hugo de Carvalho Ramos,
Assim, em memórias, fragmentos de lembranças ou biografias de muitos, pedaços sutis da história, em divagações e entrelaçamentos do coração.