Dentre as figuras exponenciais da cultura vialboense e goiana, o nome de Goiás do Couto desponta como um arrojado pioneiro nas letras, nas artes, na historiagrafia, na genealogia, na pesquisa histórica, no jornalismo, na política, nas lides jurídicas e no magistério. 

Polígrafo, destacou-se em todas as áreas com êxito e entusiasmo. Amava sua cidade tão bela, patrimônio da humanidade, mergulhada docemente na placenta verde das matas. Vivia para a Cidade de Goiás e para a família. Guardião de tantos patrimônios, também sofreu injustiças e dores, mas desapareceu desse mundo na mais completa dignidade. 

Talento nato desde a adolescência, trouxe, no sangue, por atavismo, o amor às artes e tradições, herdado de seus denodados pais. Derramou-se em encantos ao destacar as memórias, belezas, patrimônios e tradições da eterna Cidade de Goiás, “bela e fidalga” como escreveu; onde seu espírito imortal paira por vezes, com saudades de Vila Boa e retorna ao infinito de Deus, na grande honra de seu imensurável merecimento de descanso e paz.

Goiás do Couto foi um ícone cultural; um homem além de seu tempo e de sua história. Escreveu páginas de encantamento sobre a velha Cidade de Goiás, que trazia no nome e no coração. Trouxe, consigo, toda a tradição e erudição, advindas, por atavismo, de seus queridos pais, o poeta Luiz do Couto, de poesia e sensibilidade nos primórdios da vida cultural vilaboense e de Maria Ayres, artista do pincel, da têmpera e entusiasmo da força do povo nortense, hoje Estado do Tocantins. 

O livro organizado sobre a obra imortal de Goiás do Couto

Forjado entre a cultura e a sensibilidade, tomou-se um homem de notório saber nas artes, na cultura, no idealismo. Foi um profundo estudioso, silencioso, contínuo, constante e sem alarde.

Ainda mais, com seus notáveis irmãos, constituiu uma das famílias mais ricas culturalmente na antiga capital de Goiás, a se lembrar de suas horas felizes no encanto do mister de sua valiosa biblioteca. Trabalhou, lutou e conquistou. E seguiu para Deus na certeza do dever cumprido. 

Como uma grande árvore que derramava sombras e flores, assim foi ele. Uma árvore majestosa e sublime, cercada de paz, energia e bons sentimentos, destacando-se em meio à nudez da paisagem. Ele era um exemplo edificante de que a vida pode ser limpa e honesta, amalgamada na solidez do trabalho. 

Foi um lutador até o fim. Um homem forte, de energia concentrada. Resoluto e decidido. Era mesmo uma árvore frondosa, em cuja sombra, tantos se abrigaram na busca do conforto. 

Uma árvore que se prendia ao solo goiano em longas raízes e em temas essências que se revestiam de fortaleza e cooperação; lutou contra todas as adversidades e fez-se por si mesmo; fruto do próprio esforço, pois foi forjado na têmpera da luta como eram os homens de seu tempo. 

Homem de lutas e de labutas! E, apesar de tudo, viveu muito bem, com muita dignidade, porque soube amar um ideal superior em nome de Deus. Com a mais absoluta honradez ele caminhou seus passos nas estradas da vida. Esteve livre da futilidade, foi um homem útil – a árvore benfazeja- que derramou sombras pela estrada de tantas pessoas. 

Tombou a árvore depois de tantas estações da vida, foi levado a descansar nas brisas do céu, e, chamado suavemente por Deus. O Senhor o buscou entre muitas flores para que fosse perfumar outros jardins na essência sutil de sua grandeza. Ele viu o céu numa manhã goiana e com certeza encontrou os laços da história verdadeira do amor do Pai, na altura imensurável de seu infinito merecimento. 

Assim mesmo como as flores do cerrado, que aromatizam o cenário e, sem que percebamos, desaparecem para sempre de nosso convívio, assim foi ele, que partiu sem que se pudesse lhe dar um adeus de amigo, dentre tantos que teve. Sua presença física desapareceu para sempre de nós há mais de 40 anos e não há nada mais doído que esta certeza. Como uma flor que o vento levou para longe, para terras distantes, não vistas antes. Ele se derramou pelo Cerrado bonito e pela paisagem tão tocante da velha capital goiana. 

Ninguém pode imaginar a dor de uma saudade! Ninguém mede a extensão de uma lembrança… Ninguém pode medir a dor da separação compulsória e definitiva dos seres ternamente amados, que Deus nos presenteia e, um dia, os busca de volta, deixando-nos cheios de dúvidas e perguntas sem respostas. 

Esta dúvida é o nosso fadário e o peso que carregamos pela vida, em todos os dias. O tudo passa ser o nada. Em Deus apenas direi, esperança! Esperança de um dia nos reunirmos novamente numa nova pátria sem adeus, sem sofrimentos e medos, tais quais vivemos nessa experiência carnal. 

Uma amizade rompe o mistério e a cortina da morte! Vejo, hoje, que a alegria não é desse mundo, bem diz a Sagrada Escritura. Expiação e prova nos rodeiam incessantemente. Ninguém é feliz completamente …

Não há uma estrada para o encontro, nunca sabemos o lugar geográfico da eterna distância da morte. É preciso, porém, ter fé e esperança num novo tempo a nos surgir no horizonte, nas horas cálidas da vida. Refeito de qualquer dor ou sofrimento, marca ou ferimento, ele, o nosso amigo, aceitou a nova missão num mundo melhor, amparado por tantos que a receberam na Pátria Celeste. Ele conhecia a doutrina da eternidade.

E, ao certo, descansa só pelo tempo necessário. Balsamiza, com doçura, o coração dolorido de seus entes no mundo com a unção da prece, na aceitação sem mágoas do que Deus nos confere em forma de sofrimento, no ritual de passagem a um novo mundo, tão perto e tão distante. 

Goiás do Couto derramou flores suaves pelo seu limpo caminho de homem trabalhador, empreendedor e vencedor. Ele venceu as lutas materiais da vida, mas não se esqueceu da fé e do seu compromisso com o Eterno. Diante dele há, agora, uma estrada com seus novos passos e uma certeza de ter trilhado nesse mundo o caminho reto e seguro dos que buscam a Deus. 

Livro da Palestra de Goiás do Couto, publicado em 1958 | Foto: Acervo de Bento Fleury

O manto azul de Maria Santíssima esteja dando sombra ao entendimento do novo caminho, também orlado pela saudade e pela ausência. Deus, que tudo sabe, nos conforte no entendimento da efemeridade das coisas, pois “Só Deus vivo a palavra mantém e jamais Ele há de faltar”, assim cantam os fieis de nossas igrejas. Numa festa espiritual, ele encontrou tantos entes saudosos na nova pátria, felizes com o seu reencontro. E segue altivo, como sempre, na confiança e na força de suas palavras e ações. 

Ele haverá de trabalhar espiritualmente em alguma seara que precise de um espírito forte! Goiás do Couto foi figura que o tempo marcou e que a vida ceifou. Como ele, inesquecível, são as pessoas que, mesmo desaparecidas, são marcas de luzes, candeias de caminhos antigos. 

Ele cumpriu suas obrigações e quando Jesus passou, ele estava no seu lugar! No nome exemplar de Goiás do Couto agora, mais de 40 anos de sua passagem, evocamos estas páginas de recordações pungentes, na lembrança feliz de tantas pessoas que passaram por este mundo honrando seus compromissos e suas convicções.

 Notadamente, em Goiás, o nome de Goiás do Couto permanece na memória grata do povo por tudo que ele representou como pai, esposo, cidadão e benemérito pioneiro desta velha Vila Boa de tantas tradições.

Um vilaboense com o nome da cidade como emblema e unção!

 E o tempo vai passar e tudo vai se transformar porque a vida incessante, não para. É preciso, então, urna pausa para a saudade e para o que somos na vida dos outros. Foi ele casado com Ana Di Lorenzzo do Couto e teve apenas um filho, Luiz Alberto Di Lorenzzo do Couto, notável jurista, já falecido também, grande escritor e admirável intelectual, fundador da Academia Vilaboense de Letras, hoje extinta. Nesta coletânea, aparecem os escritos de Goiás do Couto em sua juventude, nos anos de 1930, no jornal Voz do Sul, de Anápolis, além de poucos escritos de seu jornal Antenas, na Cidade de Goiás, hoje desaparecidos. 

Também, a sua conferência sobre a Cidade de Goiás, intitulada Memórias e belezas da Cidade de Goiás, proferida na Assembleia Legislativa de Goiás, em 1957 e publicada pela Prefeitura Municipal de Goiás, gestão de Brasílio Caiado. 

Ainda, aparecem crônicas e estudos históricos feitos em sua madureza, fruto de suas perquirições históricas e filosóficas, bem como a fortuna crítica sobre o autor, por intelectuais goianos, por época de sua morte. Foi o que se conseguiu reunir sobre esse homem notável, cuja linhagem de família, desapareceu. Teve ele apenas um filho, que não deixou sucessão. 

Assim, cabe a nós, seus admiradores, divulgar sua vida para que seu legado não desapareça. Que sua história, força e dedicação perdurem para sempre nas dissonâncias desse mundo. 

Ele, o sábio, nasceu ele em 12 de junho de 1912, na cidade de São José do Duro, hoje Dianópolis. 

Era filho de Luíz Ramos de Oliveira Couto e Maria Ayres Cavalcante do Couto. Com apenas um ano de idade mudou-se para a Cidade de Goiás, tendo falecido em Goiânia, onde estava em tratamento de saúde em 03 de abril de 1976. Era casado com Ana Di Lorenzzo do Couto e, dessa união, nasceu em 15 de março de 1937, o su único filho, já falecido e sem sucessão.

O curso superior foi na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. Militou na política desde jovem até 1960, quando deixou essas atividades para ingressar na magistratura goiana, onde veio a se aposentar em 1963, como Juiz de Direito da comarca de Pedro Afonso, hoje pertencente ao estado de Tocantins. 

Goiás do Couto tomou parte efetiva em todos os movimentos literários de Vila Boa e do Estado de Goiás, desde 1930 até 1976, tendo pronunciado várias conferências não só na Cidade de Goiás, como na capital do estado. Colaborou assiduamente em jornais e revistas de Goiás e outros estados, até sua morte em 1976. Foi sócio fundador e membro da primeira diretoria da Associação Goiana de Imprensa, instalada em 10 de setembro de 1934 e, em todas as assembleias gerais da associação a que compareceu, como especial homenagem, lhe foi dada a presidência dos trabalhos.

 Fundou vários jornais como “Antenas” em 1º de maio de 1933; fundador e diretor do Jornal “O Combate” em 17 de julho de 1934; fundador e diretor do jornal “Voz Estudantil” em 06 de junho de 1938 e finalmente, foi fundador e diretor do Jornal “Cidade de Goiás” que circulou ininterruptamente de 1938 até 1960. 

Amava as palavras e dela fazia correto uso.

Editou, em parceria com o Desembargador. Hamilton de Barros Velasco, o livro “Marcha dos Processos e Questionário do Júri” em 1955. Sobre esse livro, recebeu ofício n° 343, de 15 de junho de 1955, em que a Assembleia Legislativa de Goiás, comunica a aprovação de requerimento por parte da maioria dos senhores deputados, de aplauso e elogios pela publicação do referido livro; editou em 1958 “Memórias e Belezas da Cidade de Goiás” que sempre é mencionado em livros, reportagens e crônicas sobre assuntos da história e sociologia de autores goianos e de outros estados.

Sobre esse livro, o jornalista e pesquisador Sebastião Póvoa, no diário Tribuna de Goiás, disse o seguinte: nunca ninguém escreveu algo tão belo e tão lindo sobre Goiás como o velho jornalista Goiás do Couto nas suas “Memórias e belezas da Cidade de Goiás. 

Em 25 de outubro de 1956, o então prefeito municipal de Goiás, Dr. Brasilio Ramos Caiado, dirigiu ofício altamente honroso à Câmara Municipal de Goiás, da qual se destaca o seguinte texto; “a ressonância dessa conferência nos meios intelectuais de Goiás, o aplauso incomum recebido tanto pela população da capital como as imprensa falada e escrita, cujos resultados são de maior monta e servem para manter o fogo sagrado em torno da terra anhanguerina, recomendam o apoio daquele pedido coletivo, ao qual como goiano e prefeito municipal me solidarizo integralmente, certo de estar assim contribuindo para focalizar eficientemente o nosso torrão natal, digno de zelo dos responsáveis pela sua administração”. 

Goiás do Couto foi, por muitos anos professor do Lyceu de Goiás, uma vez que possuía registro definitivo de várias matérias de curso secundário, no Ministério da Educação, para lecionar em qualquer parte do território nacional. Foi sócio fundador do Rotary Clube de Goiás, em 1941 e sócio do Lions Clube Internacional da Cidade de Goiás. 

Em 10 de janeiro de 1950, foi nomeado diretor do arquivo público do Estado de Goiás. Fez curso de arquivologista e serviço de documentação respectivamente, no arquivo público no Estado de São Paulo, seção de divisão histórica. Goiás do Couto tem verbete sobre sua pessoa na página 405, do Dicionário Literário Brasileiro. É portador do título de cidadão vilaboense em 09 de outubro de 1968, outorgado pela Câmara Municipal de Goiás. 

Foi presidente, por mais de uma vez, do gabinete literário goiano, da Cidade de Goiás, na sua fase áurea. Foi venerável na loja “Azilo da Razão” por mais de uma vez. Foi deputado junto a Assembleia Maçonica “Gal. Lauro Sodré” da cidade de Uruana-GO. 

Vida funcional de Goiás do Couto: Em 06-03-33 pelo decreto n° 3.033, foi nomeado sub promotor público da comarca da Capital de Goiás. Em 02.10.33 foi nomeado auxiliar da secretaria do Tribunal Regional Eleitoral. 

Em 08.10.35 foi nomeado auxiliar fiscal da Inspetoria Regional do Trabalho. Em 21.04.43 foi nomeado professor do Ginásio Oficial de Goiás. Em 23.11.47 foi eleito vereador pelo Município de Goiás (o mais votado). 

Em 03-10-58 foi eleito o vereador mais votado à Câmara Municipal de São Luiz de Montes Belos, da qual foi presidente até fevereiro de 1960, quando renunciou o mandato. Em 30-01-59 foi nomeado, por concurso, juiz de direito substituto da Comarca de Morrinhos. 

Em 01-04-60 foi promovido, por merecimento, a juiz de direito de 1º Entrância, da Comarca de Uruana. 18 Em 20-08-62 foi designado pelo Tribunal de Justiça de Goiás, para instalar a Comarca de Itaguaru.

 Em 27-11-63 foi promovido, por merecimento, a juiz de direito de 2° Entrância da Comarca de Pedro Afonso. Em 04-12-63 aposentou-se como Juiz de direito de 3° Entrância.

Sobre sua morte escreveu Modesto Gomes, também de saudosa memória: “Domingo último, de manhã, estive em Vila Boa. Sempre me aproximo do velho burgo sentindo aquela emoção particular de quem pisa o chão sagrado de nossas melhores tradições. Mas no domingo – eu que costumo me embriagar na paisagem da cidade que tanto amo – cheguei cabisbaixo e perdido inteiramente nos meus próprios pensamentos. E que eu chegava à Cidade de Goiás, antes de nove da manhã, para prestar a homenagem derradeira a um homem que levara bem alto o nome de nossa terra: Goiás do Couto. De Goiás do Couto, guardo uma visão agradável. O último contato que estabelecemos vem de uma carta que ele me escreveu. É que, em certa ocasião, descrevi, numa crônica, o tipo de feijoada que apreciava. Goiás, como bom entendido no assunto, fazia algumas correções no que eu dizia ao mesmo tempo em que oferecia sugestões preciosíssimas. Ilustre por todos os títulos – ilustre mais pela inteligência aberta – Goiás do Couto se deixou ficar no seu fantástico mundo de Vila Boa, cercado de seus livros, cercado de seus documentos, cercado por um passado maravilhoso e cheio de lições admiráveis. Ali o encontrei, feliz da vida, oferecendo licores temperados pelas mãos experientes de quem tem bom gosto. Goiás do Couto foi exemplo claro de homem que se tornou universal nos seus conceitos sem desprezar o seu chão de infância.”

Assim, os escritores Bento Fleury e Rogério Arédio Ferreira, em memória, organizaram, sob o selo da Editora Kelps, os escritos de Goiás do Couto numa coletânea intitulada “Goiás do Couto: Memórias e belezas da Cidade de Goiás e outros escritos”, em que aparecem os estudos, crônicas, palestras e reportagens do autor desde os 20 anos de idade, ainda na Cidade de Goiás, quando seu talento despontou.

Notícia da morte de Goiás do Couto | Foto: Acervo de Bento Fleury

A obra apresenta capa de Lizenor Lizete Meireles Lewergger, artista plástica trindadense, ao mostrar o Rio Vermelho, a ponte contemplativa, o velho casarão e a alma de Vila Boa de Goiás. A artista também tem destaque na carreira de assistente social, professora e coordenadora das atividades da Inclusão na Subsecretaria Regional de Educação de Trindade.

O goianiense Rogério Arédio Ferreira, de saudosa memória, graduado em Direito pela UFG, ingressou na magistratura há 48 anos passados, quando atuou nas comarcas de Planaltina, Mineiros, Catalão e Itumbiara. Em 2001, foi nomeado para o cargo de Desembargador pelo Tribunal de Justiça de Goiás. Foi Membro do IHGG e várias outras instituições culturais goianas. Bento Fleury é Graduado em Letras e Linguística pela UFG. Especialista e mestre em Literatura pela UFG. Mestre, Doutor em Geografia pela UFG. Pós-doutor em Geografia pela USP. Membro também do IHGG pertence a dezenas de outras instituições culturais.

A obra será distribuída pelas instituições culturais e aos interessados que desejarem conhecer a alma de Vila Boa, na impoluta figura de Goiás do Couto, seu filho dileto e amado.