Afonso Maria Francisco Costa Damião Miguel Angelo Gaspar de Ligório (ou Liguori – 1696-1787), conhecido por Santo Afonso Maria de Liguori, nasceu em Marianella, casa de campo em Scalla, situada entre as montanhas na Costa Amálfi, reino de Nápolis, filho do Capitão de Galeras na oligarquia dos Boursbons, Giuseppe de Ligório e de Ana Cavaliere, ambos fidalgos. Herdou a vocação sacerdotal do ascético tio materno Dom Emílio Cavaliere, bispo de Tróia e ordenou-se em 1726, com trinta anos de idade e fundou a “Congregação do Santíssimo Redentor”, depois Redentorista e deixou extensa obra publicada referente à doutrina católica, um doutor da Igreja.

Na Província de Goiás e na nascente República brasileira, a Igreja, nos últimos decênios do século XIX passava por reformas variadas em sua estrutura. Na administração eclesiástica de então, ocorreu a extinção do padroado e a consequente separação da Igreja e do Estado e a laicização administrativa em 07 de janeiro de 1890; a promulgação da Lei do Casamento Civil, em 24 de janeiro de 1890, a secularização dos cemitérios, em 17 de setembro de 1890. Por essa época, já haviam sido Bispos de Goiás, Dom Francisco Ferreira de Azevedo, Dom Domingos Quirino de Souza, Dom Joaquim Gonçalves Ponce de Leão.

Em 29 de setembro de 1891 chegava à capital goiana, Cidade de Goiás, proveniente do Rio de Janeiro, Dom Eduardo Duarte da Silva, que iria, daí por diante, enfrentar uma serie de problemas e obstáculos até o fim de sua gestão, que se daria em 23 de setembro de 1908, substituído por Dom Prudêncio Gomes da Silva. 

Dom Eduardo Duarte da Silva chegou à sede Episcopal sem ao menos uma simples recepção, devido ao conturbado instante político por que passava a Província e, também, a constante ascensão bulhônica deteriorava ainda mais a convivência entre o Estado e Igreja, no Goiás provinciano de então.

A primeira visita do Bispo Dom Eduardo Duarte da Silva ao Santuário da Santíssima Trindade do Barro Preto deu-se em agosto de 1891, e, as divergências acontecidas, foram por exclusiva falta de necessária prudência do mandatário eclesiástico; entrou em ferrenho atrito com os chefes políticos locais, que assumiram a administração do Santuário e não prestavam as devidas contas dos gastos e ganhos. 

Por esse motivo, concebeu o plano de entregar a administração do Santuário a uma Irmandade Religiosa, fator preponderante da vinda dos Redentoristas a Goiás e ao Brasil, e, antes disso, em 1881, já havia sido requerida pelo Bispo dom Cláudio José Gonçalves Ponce de Leão, uma Irmandade religiosa para Goiás, porém sem sucesso.

Dom Eduardo Duarte da Silva concebeu viagem rumo à Alemanha e chegou a Gars Am Inn, sede do Governo Episcopal em 12 de julho de 1894, e lá permaneceu por quatro dias até 16 de julho do mesmo ano, e obteve sucesso da vinda da Congregação do Santíssimo Redentor, depois Redentorista para o Brasil, não sem esforço e pertinência do valoroso Bispo. 

A Congregação partiu Gars Am Inn em 24 de setembro de 1894, por via Férrea e gastou 20 horas no trajeto de Paris à Bordéus, onde fizeram baldeação, indo, também, ao Santuário de Lourdes. Em Bordéus, embarcaram às duas horas da tarde de 05 de outubro de 1894 no vapor “Brésil”, que, por atraso, só partiu às 04 horas da tarde. Após 16 dias de viagem, com escala somente no Porto de Lisboa, chegaram ao Rio de Janeiro em 21 de outubro de 1894. 

Com receio da febre amarela que grassava a Capital Federal, deixaram o Rio de Janeiro por via férrea, às 06 e meia da manhã de 24 de outubro de 1894, pela Estrada de Ferro Central do Brasil e chegaram à capital Paulista pelas 20 horas do mesmo dia. Ali, foram hospedados no “Convento da Luz”, na Avenida Tiradentes, recepcionados com música e festas.

Em São Paulo aconteceu a separação dos sacerdotes que ficariam em Aparecida, que para ali seguiram viagem em 28 de outubro de 1894 e os que viriam a Goiás, que seguiram viagem em 05 de novembro de 1894. 

Partiram, pois, por via Férrea com tempo de dois dias e pernoitaram em Campinas e Ribeirão Preto, na Província paulista. Em 07 de novembro de 1894 chegaram à Uberaba, no Sertão do novo Sul, ou “Sertão da Farinha podre”,  recebidos solenemente com fogos, bandas de musicas e desfiles.

Ali ficaram por 10 dias à espera das tropas e guias que viriam de Campinas, então distante dali cerca de 80 léguas. Chegada a tropa, seguiram viagem às 13 horas do dia 17 de novembro de 1894, trajeto que se prolongou por penosíssimos 26 dias, onde os intrépidos padres passaram por toda sorte de sofrimento no inóspito sertão brasileiro.

Segundo a autobiografia do Bispo Dom Eduardo Duarte da Silva, os afoitos padres, não acostumados com tais viagens sofreram calamidades:… “Ás vezes estavam no pescoço do animal e outras vezes na retranca (…) andavam moídos e pisados com os próprios burros, sendo necessário preparar-lhes banhos de sal”. Chegaram moídos à Campinas debaixo de uma chuvarada em 12 de dezembro de 1894, vila perdida no sertão goiano, distante, “25 horas de Goyaz, capital, e 03 horas do Barro Preto”.

O objetivo inicial da vinda dos Redentoristas era a administração do Santuário da Santíssima Trindade do Barro Preto, subordinado á Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Campinas, mas por ordem do Bispo, segundo carta do Pe. Gebbardo Wiggernnann, de 15 de novembro de 1894, ainda em caminho, eles, os padre, instalariam-se em Campinas por motivos de ordem geográfica, pela má qualidade da água do Barro Preto e por motivos psicológicos, pois, o povo do Barro Preto não era ainda favorável à idéia e segundo ainda consta o Padre Wand, o Barro Preto era por essa época “uma dúzia de miseráveis choupanas e não oferecia condições sanitárias suficientes para os sacerdotes recém-chegados da Europa”.

Segundo carta do Padre Gebbardo Wiggermann, a primeira visita Redentorista à Vila do Barro Preto deu-se em 19 de dezembro de 1894, onde estava presente o relator da carta, acompanhado do Irmão Padre João da Matta Spath.

A segunda visita deu-se em 02 de fevereiro de 1895, oportunidade em que o Monsenhor Souza deu posse oficial do Santuário do Divino Pai Eterno aos Redentoristas e autorização para a aquisição de uma casa para os padres em Barro Preto, que foi adquirida na entrada da vila (hoje Rua Pereira Lima, nº 75). A segunda residência dos Padres Redentoristas foi pelo Padre José Wendell em 1899, que a eles serviu até 1915 e, hoje, é uma pizzaria.

Largo da matriz de Trindade em 1920. Óleo sobre tela de Lizenor Lewergger | Foto: Acervo Pessoal

Em 24 de junho de 1896, o prelado abandonou a capital de Goiás com destino a Uberaba, devido a uma série de fatores políticos, sociais e econômicos; o que colocou a capital e o restante do Estado em situação vexatória. 

A situação no Barro Preto tornou-se pouco a pouco insustentável, quando ocorreram frequentes desavenças entre os Redentoristas e as lideranças políticas locais, centradas na figura do Coronel Anacleto Gonçalves de Almeida, bulhonista convicto. Em provisão de 09 de dezembro de 1899 da autoridade diocesana autorizava a construção da nova matriz de Campinas, iniciada em setembro de 1900.

A festa da romaria do Divino Pai Eterno do Barro Preto, devido às insubordinações, foi transferida para o dia 15 de agosto de cada ano, mediante portaria de 05 de maio de 1900 determinando a transferência da imagem para Campinas, assim como as devoções e a permanência da data dos festejos da romaria no dia 15 de agosto.

Em 06 de agosto de 1901 benzeu-se o novo templo de Campinas o marcava o início dos festejos e novenas da romaria do Divino Pai Eterno do Barro Preto, então sediada em Campinas, onde, ainda, houve tentativa de mudar o título de Igreja Matriz de Campinas, para Igreja do Divino Pai Eterno de Campinas; o que não foi aceito pelo povo e nem aprovado em Roma. As autoridades do Barro Preto não aceitaram essa mudança e nem a transferência da imagem para Campinas.

Antiga Matriz de Campinas e ao fundo o Colégio Santa Clara | Foto: Acervo Pessoal

O Bispo Dom Eduardo Duarte da Silva, em vista do explicitado, suspendeu a romaria do Divino Pai Eterno do Barro Preto da administração Redentorista, que, se prolongou por um período de três anos, que findos estes, retornaram ao Barro Preto em 1903, fato narrado no Jornal O Lidador, de 30 de julho de 1907, que relatou os festejos da romaria no primeiro ano após a interdição do Bispo.

Em 23 de setembro de 1908, Dom Prudêncio Gomes da Silva (1868-1921) assumiu a direção do bispado, sendo recebido com festa na porta da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, então Catedral Interina da Capital de Goiás, e recebeu elogios do Presidente da Província Jerônimo Rodrigues de Morais e foi felicitado pelo novo clã político goiano os “xavieristas” por ele ter retornado a sede do bispado a Goiás e conseguiu  unificar a Igreja e o Estado como perene pacificador.

Bispo Dom Prudêncio e alguns padres goianos | Foto: Acervo Pessoal

Os detalhes de viagem dos redentoristas para Goiás foi relatado pelo Bispo om Eduardo, de forma bastante minuciosa, que, mais tarde, foi publicado pela PUC-GO como Passagens, título bastante interessante.

Relata o Bispo que estando ainda na Baviera, ele assistiu aos festejos de “Nossa Senhora das Mercês da Redenção dos Cativos” para qual vieram diversos irmãos provenientes de Duemburg. Nesse dia, o Padre Riedl foi acometido de pneumonia não foi possível seguir viagem, como era o seu desejo.

Foi então definido o dia da partida: 24 de setembro de 1894. Às três horas da manhã celebraram missa solene dedicada a Virgem de Santo Afonso e partiram por via férrea, indo de trem de correio de Gars Am Inn a Munique, de rápido de Munique até Paris, com escala em Stuttgart e Estraburgo.

Em Paris foram recebidos peles Padres Nusbaum (reitor) e o Padre Cygrand e o provincial Gavillet, e visitaram o Santuário de Paris como a Catedral, o Santuário de Nossa Senhora da Vitória, Sagrado Coração de Jesus, em Montmartre, a Igreja de São Vicente de Paulo e o Santuário dos Martírios. De Paris foram a Bordéus, e fizeram uma esticadinha até Lourdes. Às duas horas da tarde do dia 05 de outubro de 1894 embarcaram no “Vapor Brésil”, que só deixou o porto às 16:00 horas.

Após 16 dias de viagem, os Redentoristas chegaram ao Rio de Janeiro, isto em 21 de outubro de 1894, tendo feito escala em Lisboa, vista à luz crepuscular, viram as Ilhas Canárias, berço de Anchieta, pararam em vários portos à cata de imigrantes, pois no Brasil estava no auge a imigração.

No desembarque no Porto do Rio, foram isentados de Imposto Alfandegário, organização do Padre Francisco Ignácio de Souza, que obteve o exposto com o Ministro Costalat (gestão de 1894 a 1900) da Viação e Obras Públicas.

O Padre Souza, além de recebê-los encaminhou-os de bonde até o Seminário Episcopal do Rio de Janeiro dirigido pelos Lazaristas, onde foram acomodados. Esse mesmo Padre conseguiu ainda passe livre de primeira classe na Estrada de Ferro Central do Brasil e a isenção de tarifas para toda a bagagem na viagem até Uberaba. Tudo a custa de muita articulação.

Na Capital Federal os Redentoristas permaneceram por curto período, receosos da febre amarela que grassava o país e castigava os Fluminenses. Às seis horas da manhã de 24 de outubro de 1894, após os festejos de São Miguel Arcanjo, partiram do Rio de Janeiro por via férrea, e chegaram a São Paulo pelas vinte horas do mesmo dia.

Na capital paulista os Redentoristas foram hospedados no “Convento da Luz”, seminário Diocesano situado na Avenida Tiradentes, recebidos solenemente com Banda de Música e discursos. Ali houve a facção dos Redentoristas que seguiram para Aparecida, interior de São Paulo e os que viriam para Goiás. Os que seguiram para Aparecida partiram em 28 de outubro de 1894.

Os Redentoristas com destino a Goiás partiram de São Paulo por via férrea em 05 de novembro de 1894 com, viagem de dois dias com escala em Campinas e Ribeirão Preto. Às 17 horas do dia 07 de novembro de 1894 chegaram a Uberaba no sertão do Novo Sul ou antigo Sertão da Farinha Podre.

Em Uberaba, os Redentoristas foram recebidos com fogos e bandas de música, ali permaneceram por um período de 10 dias no aguardo das “Tropas e Guias” de Campinas, então distante 80 léguas. Em 17 de novembro de 1894 às treze horas partiram de Uberaba com a fragmentação da volumosa bagagem que era excessiva ao transporte muar.

 Foi uma verdadeira epopeia o caso das malas, sendo que algumas custaram meio ano para chegar a Campininha das Flores, já tidas por extraviadas; outras levaram três meses para chegar, perdendo muita coisa com a poeira, a umidade e os ratos.

No transcorrer da viagem passaram por Santa Rita do Paranaíba (Itumbiara), Bananeiras (Goiatuba), Morrinhos, Campo Alegre, Pouso Alto (Piracanjuba), Santo Antônio das Grimpas (Hidrolândia) e o último pouso foi na “Fazenda da Laje” (onde hoje se acha a cidade de Aparecida de Goiânia), onde foram recepcionados por Lucindo José Ribeiro e José Lúcio Ribeiro, fazendeiros da região. Debaixo de uma chuvarada chegaram a Campinas, em 12 de dezembro de 1894, depois de dois meses e 18 dias de viagem.

A principal tarefa dos missionários passou a ser a divulgação de disciplina litúrgica e educação dos romeiros segundo a doutrina católica romana e a organização administrativa e religiosa da romaria.

Antiga rua em Campinas onde aparecem os casarões centenários hoje desaparecidos | Foto: Acervo Pessoal

Em Campinas, os Redentoristas se alojaram na propriedade de Ana Rocha de Abreu situada onde hoje se acha o final da Avenida Rio Grande do Sul, próximo ao córrego Cascavel. Na residência dessa senhora, falecida em 1901, os Redentoristas moraram até 09 de dezembro de 1895.

O objetivo da vinda dos Redentoristas ao Brasil, prendia-se à administração do Santuário da Santíssima Trindade, subordinado à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Campininha das Flores. Fixaram residência em Campininha das Flores por vários motivos segundo carta de Pe. Gebbardo Wiggerman de 15 de novembro de 1894 (ainda no transcorrer da viagem). 

Consta da ordem do Bispo (já ciente da situação no Barro Preto, receoso de uma represália ou algum fato desagradável) de que os Redentoristas se fixassem em Campinas, “a 25 horas de Goyaz e 03 horas do Barro Preto” por motivos de ordem climática, geográfica e pela péssima qualidade da água do arraial do Barro Preto. O motivo principal, porém, fundamentava-se da não aceitação do povo do Barro Preto dos religiosos alemães, fato que mais tarde se verificou.

Porém o contrato celebrado com a Diocese de Goyaz em 1895 ficava no artigo 3 o estipulado o atendimento dos Redentoristas ao Arraial de Barro Preto: … “No Povoado do Barro Preto edificarão uma residência para que, pelo menos mensalmente ahi se celebre a missa e sejam administrados os sacramentos…”.

Também, na autobiografia do Bispo Dom Eduardo Duarte da Silva, aparece à descrição do Santuário do Divino Pai Eterno daquele tempo: … “As duas torres são cobertas de folhas de flandres, em alguns lugares dão vazão a muita água…”.

Padre Gebbardo Wiggerma em carta dirigida ao Provinciado, datada de 19 de dezembro de 1894, relata a primeira presença Redentorista em Trindade em caráter de visita: … “Segunda feira passada fui com o Padre Souza e o Pe. Spath a Barro Preto. Pousamos na Igreja, eu atraz do altar, e celebramos no dia seguinte. A Igreja é melhor que a de Campinas. Não possui vigário e pertence a Campinas. Há poucas romarias durante o ano, mas em julho é grande a festa de 08 dias com a “Gnade de Doggerdorf’. Terá a assistência de um Padre duas vezes ao mês, até se construir uma casa para um padre e um irmão.”

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Antiga Casa de Câmara e Cadeia de Trindade, hoje desaparecida | Foto: Acervo Pessoal

Em 20 de janeiro de 1895 o Padre Ignácio Antônio da Silva, então Vigário de Campinas fez a entrega oficial da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Campinas aos Redentoristas, durante o transcorrer dos festejos de São Sebastião. A posse oficial do Santuário do Divino Pai Eterno da Santíssima Trindade do Barro Preto se deu durante a segunda visita destes ao Arraial do Barro Preto acontecida em 02 de fevereiro de 1895, ato presidido pelo Monsenhor Souza que fez a entrega solene.

A autorização para a aquisição de uma residência para os Padres Redentoristas no Arraial do Barro Preto, deu-se por Carta Provincial de 17 de maio de 1895 e esta foi adquirida por 1:500$000 situada onde é hoje a Rua Pereira Lima n° 075, àquela época situada à entrada do Arraial. 

A Segunda residência dos Redentoristas em Trindade foi adquirida em 1899, pelo Padre Joseph Wendell, Superior de Campinas. Esta casa ficava aos fundos do Santuário, separada por uma travessa. Casa velha, de armação de taipa e aroeira, serviu aos padres até 1925. Com o crescimento da romaria a casa não foi mais suficiente para acolher os religiosos, a comitiva do Bispo, outros sacerdotes e músicos, fato que o Padre Antão Jorge Heckenbleichner, superior de Campininha, adquiriu residência de João Argenta Pereira Lima ao lado direito do Santuário de Trindade por 2:500$000, em 1914.

 As duas residências foram mais tarde trocadas para a construção de um sobrado que teve início em 1915, onde vieram oleiros e pedreiros de São Paulo, segundo apontamentos de Nestor de Souza. Nas crônicas de Convento de Trindade, há o registro da época: … “Abertura do convento de Trindade, só o futuro poderá dar o resultado…”

O primeiro convento Redentorista de Campininha das Flores foi habitado pelos padres alemães a partir de 1895, ali permaneceram até meados de fevereiro de 1945 quando se transferiram para outra residência na Praça da Matriz, deixando o velho Convento de 50 anos (1985 – 1945) para sediarem o primeiro Seminário de Formação Redentorista em Goiás que ali iria funcionar cerca de 20 anos até dezembro de 1964.

 O primeiro convento teve a planta elaborada pele Padre Gebbardo Wiggermann, feito de adobes, pois, segundo Licardino de Oliveira Ney, somente em 1920 apareceria a primeira olaria de Campinas. A construção teve início em setembro de 1895, com madeira extraída de uma fazenda onde hoje se acha a cidade de Aparecida de Goiânia, cal de Curralinho (Itaberaí) e adobe de uma olaria nas proximidades de Anicuns de propriedade de João Lobo.

Os Redentoristas alemães que aportaram em Campininha das Flores desde a primeira leva de 1894 até a última de 1934, foram os seguintes:

Primeira turma de 1894: Gebbardo Wiggermann, Lourenre Gabar (o mais velho, aportando no Brasil com mais de 65 anos, vindo a falecer em 1905), João da Mata Spath, Joseph Wendell, Miguel Siebler, Lourenço Hubauer. Segunda turma de 1895: Valentim Von Riedl, Eugênio Mahlbacker, Roberto Hausmair.Terceira turma de 1897: João Batista Kiemaier, Antônio Kammerer, Corbimiano Kiemier, Francisco Dambacker, Martinho Fomer. Quarta turma de 1902: Jorge Angerer, Carlos flildebrand, Afonso Zartmann, Estevão Heigenhauser, Francisco Halm. Quinta turma de 1903: João Schaumberg, Luiz Meyer, Clemente Heinrich. Sexta turma de 1904: Antão Jorge Heckemblaichner. Sétima turma de 1908: Francisco Wand, Luiz Was e Otto Bohn. Oitava turma de 1909: Pelágio Sauter, Conrado Kohlmann. Nona turma de 1910: Sebastião Schwartzmaier, Tiago Klinger. Décima turma de 1914: Eugênio Joner. Décima primeira turma de 1920: Miguel Jorge Eigl, Paulo Forster, Agostinho Polster. Décima Segunda turma de 1921: Luiz Ignácio Hertl. Décima terceira turma de 1922: Valentim Mooser. Décima quarta turma de 1923: José Louse, Pio Guggenburger, Jorge Leibold. Décima quinta turma de 1925: Germano Konig. Décima Sexta turma de 1930: Pedro Henrique Fla1chinger. Décima sétima turma de 1931: André Troiad. Décima oitava turma de 1934: Carlos Hollonder, Monso Hambuik. Décima nona turma de 1935: Leonardo Eckl. Vigésima turma de 1936: João Betting, Gabriel Gick e Fridolino Schleinkofer.

Destemidos aventureiros, todos de longes plagas, muito sofreram na ambientação no inóspito sertão central brasileiro. Custaram muito a conhecer de forma insuficiente a nossa língua, tendo por mestre da língua de Camões, o abnegado Monsenhor Francisco Ignácio de Souza.

Ante a própria aceitação episcopal muito batalharam os Redentoristas, senão vejamos no “Contrato entre a Mitra de Santana de Goyaz com a Congregação do Santíssimo Redentor da Província Bávara” que, em tom incisivo no mencionado “episcopal Sanctuário de Trindade” deixa evidente que o mesmo santuário era de definitiva propriedade da mitra. Vejamos nos Capítulos I e II:

“Capítulo I – A Mitra Diocesana de Goyaz continua a dar provisão aos Padres Redentoristas residentes em Campinas para a direcção da Parochia de Campinas e a administração espiritual e material do “Episcopado Sanctuário da Santíssima Trindade” na Vila do mesmo nome, nas condições do presente contracto.

Capítulo II – A Congregação do Santíssimo Redemptor terá usufruto dos Terrenos em que estão situados os seus conventos e dependências, na sede da Parochia de Campinas e na Vila de Trindade…”

A primeira turma de padres Redentoristas que chegou Campininha das Flores, muito batalhou em favor da edificação e solidificação da congregação em Goiás. O Padre Lourenço Gahsrs chegou a Campininha das Flores em 07 de outubro de 1895 substituindo o Pe. Gebbardo Wiggermann e dinamizou o término do Convento que em 09 de dezembro de 1895 passou a ser habitado pelos padres, onde fizeram o recebimento da segunda turma de Redentoristas, sendo eles, Gaspar, Aloísio, Felipe, Germano, Henrique e Simão, vindos para o auxílio do término do Convento, e chegaram a Campininha em 21 de dezembro de 1895.

Convento dos Redentoristas em Campinas, hoje desaparecido (só resta a Igreja, na Rua Padre Wendel) | Foto: Reprodução

 Eram, além dos coadjutores entre o número de dez, penas três padres: Joseph Wendell (foi superior do Convento de Campinas por duas vezes de 1898 a 1904 e 1906 a 1908), Miguel Siebler e o jovem Padre Lourenço Hubbauer, que, foi ordenado na Cidade de Goiás em 26 de julho de 1895, durante os festejos de Nossa Senhora de Santana.

O Irmão Gaspar Nursbart, da segunda turma dos Redentoristas, chegou a Campinas em 21 de dezembro de 1895 e foi o responsável pela montagem da serraria, de um moinho, de um engenho de cana e distribuição de água e uma ponte sobre o rio Cascavel. Em 1896 foi instalado um monjolo junto à serraria para limpar mantimentos.

Mesmo com todos os esforços dos padres Redentoristas em lutar pelo progresso de Campinas e Barro Preto, o meio era adverso. A sociedade goiana de final de século era ainda calcada no ruralismo. Segundo carta do Padre Gebbardo Wiggermann datada de 19 de dezembro de 1894, destinada ao provincial, relatava: … “Vem toda a gente, preto e branco, ficando de fora e pondo a cabeça para dentro, pela janela. Querem olhar santinhos, medalhas e terços que são preciosidades aqui…”

As dificuldades de acesso ao sertão goiano, o isolamento dos centros mais adiantados, a falta de uma estrutura administrativa, fatores sociais e políticos, eram questões que, no conjunto, impediam ao povo reconhecer, como devia os méritos altamente louváveis dos Redentoristas, que, ao deixarem a terra natal, em difícil viagem, sofriam toda sorte de agruras na inospidez do sertão. 

Segundo a autobiografia do Bispo Dom Eduardo Duarte da Silva, os romeiros, na simplicidade matuta, faziam como não poderia deixar de ser, confusões engraçadíssimas com os termos em latim pregados nos ofícios religiosos tais como: Deus, in adjuntorium meum intende – Diziam os romeiros: “Deus no oratório não me atende”. Mather Christi – Diziam os romeiros: “Matem o Cristo!”. “Virgo Praedicanda – Esgoelavam os romeiros: “Virgem pé de cana!”. “Virgo Potens – Gritavam os romeiros: “Vira o pote!”. Speculum Justitiae – Os romeiros: “Espetem a Justiça!”. Ao final o Bispo desabafou em sua autobiografia: “Quanta sadice!”.

Casa Comercial do Largo da Matriz de Trindade, do Coronel Ottoni (avô de Otavinho Arantes) | Foto: Acervo Pessoal

Em 01 de julho de 1928, foi criada a Paróquia Independente de Trindade, segundo o Livro de Tombo de Campinas n° 23, folha 05, mas o fato ocorreu apenas formalmente pela carência de pessoal. 

Somente em 31 de janeiro de 1948, com a ereção canônica do Convento de Trindade, o Pe. Arthur Bonnati foi nomeado primeiro superior e vigário da Paróquia de Trindade, subordinada a partir de então, diretamente ao Vice-provincialado de Aparecida, Estado de São Paulo.

Dom Prudêncio Gomes da Silva, 6° Bispo de Goiás faleceu em 09 de setembro de 1921, sendo substituído por Dom Emanuel Gomes de Oliveira, que assumiu o Cargo em 05 de agosto de 1923 um ano antes do falecimento de Dom Eduardo Gomes da Silva ocorrido em 16 de outubro de 1924. 

Dom Emanuel Gomes de Oliveira 7° Bispo de Goiás foi mola propulsora da movimentação de restauração católica em Goiás, e, segundo consta nos arquivos da Paróquia de Campinas não tinha a mesma visã odos bispos anteriores sobre a permanência dos Redentoristas em Goiás, e exigiu destes uma criteriosa prestação de contas em 16 de julho de 1924, a fiscalização da romaria de Trindade no ano de 1924, procedida pelo Monsenhor Confúcio e a mudança do teor do contrato com a Congregação Redentorista, firmado em 05 de dezembro de 1924 onde os redentoristas permaneceriam na direção do Santuário de Trindade na condição de assalariados com subordinações administrativas à mitra diocesana.

Outros desagradáveis problemas aconteceram aos Redentoristas em Goiás tais como no período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), onde o forte sentimento anti-germânico impulsionou a abstenção dos padres alemães das pregações dos ofícios religiosos e a apressada nomeação de Francisco Braz Alves, jovem redentorista brasileiro, como vigário de Campinas. 

A partir do ano de 1910, Trindade recebeu autorização para celebrar as festas do Natal por serem estas “mais devotas e menos rumorosas” segundo a crônica de 1923 do Arquivo de Campinas. As comemorações da Semana Santa em Trindade tiveram inicio no ano de 1915, também o Santuário de Trindade, passou a ser iluminado com acetileno ou “Luz-luar” como foi cognominado na época.

O famoso Beco dos Aflitos em dia de Romaria, nos anos 1930 | Foto: Acervo Pessoal

A energia elétrica a motor foi instalada em 27 de junho de 1920, sendo Trindade a 3ª cidade do estado a receber tal benefício, antecedia apenas pela Capital, Cidade de Goyaz e Entre-Rios, hoje Ipameri. Nesse mesmo ano, em 20 de julho, a cidade foi emancipada de Campinas.

Na Romaria de 1913 também teve início o uso de fogos de artifício que deixou boquiabertos os matutos romeiros de então. Os mesmos registros constam da criação de uma Banda de Música pelos redentoristas em Trindade no ano de 1918, assim como grande ajuda no setor educacional, com escolas e bibliotecas.

Dentre os redentoristas pioneiros em Trindade e em Campinas que vieram da Baviera, destacamos: Gebbardo Wiggermann, Lourenço Gahr, João da Matta Spath, José Wendell, Miguel Siebler, Lourenço Hubbour, Martinho Forner, Antão Jorge Heickenblaichner, Francisco Wand, Pelágio Sauter, Agostinho Polster e outros valorosos pioneiros que, apesar das desavenças, das críticas sempre ferrenhas, do provincianismo do povo goiano marcaram na terra da Santíssima Trindade com as lutas e labutas dos tempos pioneiros.