HAARP: Desvendando mitos e confrontando teorias da conspiração

04 junho 2024 às 17h05

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O High Frequency Active Auroral Research Program (HAARP) é frequentemente citado em debates científicos e teorias da conspiração. Este programa de pesquisa, focado no estudo da ionosfera, tem sido mal interpretado por segmentos do público, especialmente no contexto de desastres naturais, como recentemente no Rio Grande do Sul.
Criado nos anos 1990, o HAARP é uma instalação localizada em Gakona, Alasca, projetada para estudar a ionosfera terrestre. O principal objetivo do programa é compreender e melhorar as tecnologias de comunicação e vigilância, através da emissão de ondas de rádio de alta frequência na ionosfera. Ao fazê-lo, cientistas podem estudar as mudanças provocadas pelas ondas e aprender mais sobre este importante componente atmosférico.
Recentemente, após um desastre natural devastador no Rio Grande do Sul, teorias da conspiração ressurgiram alegando que o HAARP poderia estar envolvido. Este não é um fenômeno novo. No passado, desastres similares na Síria e na Turquia também foram injustamente atribuídos ao HAARP por teóricos da conspiração. Estas teorias muitas vezes sugerem que o programa tem a capacidade de manipular o clima e causar fenômenos meteorológicos extremos, o que é cientificamente infundado.
Segundo o Departamento de Estado dos EUA:
“A desinformação é uma das armas mais importantes e de maior alcance do Kremlin. A Rússia operacionalizou o conceito de competição adversarial perpétua no ambiente informacional, incentivando o desenvolvimento de um ecossistema de desinformação e propaganda. Esse ecossistema cria e dissemina narrativas falsas para avançar estrategicamente os objetivos de política do Kremlin. Não há tema que escape dessa torrente de falsidades. Desde direitos humanos e política ambiental até assassinatos e campanhas de bombardeio que matam civis, tudo é alvo legítimo no jogo maligno da Rússia.” (fonte: https://www.state.gov/disarming-disinformation/)
Há indicações de que essas teorias da conspiração possam ser fomentadas por campanhas de desinformação, como as conduzidas por entidades de inteligência estrangeiras. A inteligência russa, por exemplo, já foi acusada de espalhar falsas narrativas sobre o HAARP para criar desconfiança entre as populações em relação aos governos ocidentais e instituições científicas. Este método de guerra híbrida serve para desestabilizar e distrair, usando a desinformação como arma.
É crucial esclarecer que, cientificamente, o HAARP não possui a capacidade de influenciar grandes sistemas climáticos ou causar desastres naturais. A instalação foca em uma pequena parte da ionosfera por vez, muito acima da altitude onde o clima terrestre é formado. Além disso, a energia total manipulada pelo HAARP é minúscula comparada à energia necessária para alterar padrões climáticos significativos.
A American Geophysical Union e a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) têm refutado repetidamente as alegações de que ondas de rádio de alta frequência podem controlar o clima. A comunidade científica concorda que não há bases físicas ou observacionais para essas teorias da conspiração.
Enquanto o HAARP continua a ser um valioso recurso científico para o estudo da ionosfera, é importante combater a desinformação que circula a seu respeito. Ao enfrentar essas teorias com fatos e promover uma compreensão pública baseada na ciência, podemos minimizar o impacto nocivo dessas narrativas falsas e manter o foco no verdadeiro valor científico do HAARP. Assim, fica claro que atribuir a ele a responsabilidade por desastres naturais não é apenas infundado, mas também uma distração perigosa de verdadeiras questões ambientais e climáticas.
Por outro lado, a inteligência russa poderia ter interesses estratégicos em semear o caos no Rio Grande do Sul e atribuir a culpa aos Estados Unidos, especialmente considerando o contexto político recente no Brasil. Durante as últimas eleições presidenciais, Jair Bolsonaro, frequentemente visto como um aliado ideológico de líderes nacionalistas e de direita, recebeu uma forte maioria dos votos no estado. Ao fomentar teorias da conspiração que colocam os EUA como causadores de desastres naturais ou crises, a Rússia poderia buscar enfraquecer as relações entre Brasil e Estados Unidos, potencialmente dividindo ainda mais as opiniões políticas no Brasil e fortalecendo uma narrativa anti-ocidental.
É importante levarmos em consideração que apesar do Rio Grande do Sul ter uma economia diversificada em termos de importações, a Rússia figura entre seus principais parceiros comerciais. Entre os principais produtos importados do estado gaúcho estão os adubos ou fertilizantes, que são vitais para a agricultura, um setor chave da economia local. Além disso, a região também importa óleos combustíveis de petróleo e outros produtos químicos, que são essenciais para diversos setores industriais e de transporte (Fazcomex Technologies) (Comexland).
Ademais, ao criar desconfiança e instabilidade, a Rússia poderia explorar as divisões políticas para ampliar sua influência na América do Sul, uma região onde historicamente tem buscado expandir sua presença como contraponto à influência tradicional dos EUA. Desestabilizar um estado estratégico como o Rio Grande do Sul poderia, assim, ser parte de um jogo maior de poder global, onde desinformação e teorias da conspiração são utilizadas como ferramentas de política externa para alcançar objetivos geopolíticos mais amplos, especialmente em momentos de alinhamento ideológico com lideranças locais que possam simpatizar com a agenda russa.