Bashar al-Assad chegou ao poder em 2000, sucedendo seu pai, Hafez al-Assad, em um momento de transição para a Síria. Jovem, com formação em medicina e influências ocidentais, Bashar foi recebido com esperança de reformas políticas e econômicas. Contudo, o que parecia uma abertura inicial rapidamente se transformou em repressão e autoritarismo. Sob seu comando, a Síria enfrentou protestos internos, uma guerra civil devastadora e crescente isolamento internacional. A queda de seu regime em 2024 encerra mais de cinco décadas de domínio da família Assad e deixa uma nação profundamente marcada por destruição e divisões.

Ao assumir a presidência, Bashar al-Assad prometeu modernizar a Síria, despertando esperança entre intelectuais e ativistas. Conhecido como a Primavera de Damasco, esse breve período inicial foi marcado por uma abertura política limitada, com reuniões de grupos cívicos e debates sobre direitos humanos. Muitos acreditavam que Bashar, influenciado por sua educação no Ocidente, poderia romper com as políticas repressivas de seu pai.

No entanto, a tentativa de liberalização enfrentou resistência da elite política e militar, que temia perder privilégios. Bashar recuou rapidamente, restaurando a repressão e silenciando críticos. Este episódio demonstrou a fragilidade de sua liderança e a força das estruturas autoritárias herdadas do regime de Hafez al-Assad. A Primavera de Damasco foi um prenúncio da abordagem implacável que Bashar adotaria diante de desafios futuros.

A Primavera Árabe de 2011 foi um divisor de águas para o regime de Bashar al-Assad. O movimento, que começou com protestos pacíficos exigindo reformas democráticas, foi recebido com violência brutal pelas forças de segurança. A repressão desencadeou uma guerra civil, com a oposição armada enfrentando o exército sírio em um conflito que devastou o país.

O regime de Bashar foi acusado de crimes de guerra, incluindo o uso de armas químicas contra civis, ataques indiscriminados a áreas residenciais e tortura sistemática de prisioneiros. Esses atos atraíram condenação internacional, mas Bashar permaneceu no poder graças ao apoio de aliados estratégicos, como a Rússia e o Irã.

A guerra civil também transformou a Síria em um campo de batalha para potências estrangeiras. Enquanto os EUA e seus aliados apoiavam grupos rebeldes e forças curdas, a Rússia e o Irã garantiam suporte militar e econômico ao regime de Assad. Este conflito proxy exacerbou a destruição da Síria e dificultou qualquer resolução pacífica.

Sob Bashar al-Assad, a Síria desempenhou um papel central em conflitos regionais, servindo como uma plataforma para as ambições geopolíticas do Irã e da Rússia. A aliança entre Síria e Irã fortaleceu grupos militantes como o Hezbollah, que utilizavam o território sírio para lançar ataques contra Israel. Essa parceria consolidou a Síria como um eixo de resistência no Oriente Médio, mas também intensificou sua rivalidade com países como Arábia Saudita e Israel.

O envolvimento da Síria no contencioso regional ampliou seu isolamento diplomático. O apoio de Assad a grupos como Hamas e Hezbollah atraiu sanções e condenações internacionais, enquanto suas ações na guerra civil afastaram até aliados árabes tradicionais. A política externa síria sob Bashar foi definida por sua dependência de potências externas e sua incapacidade de construir alianças regionais duradouras.

A Rússia emergiu como o principal aliado de Bashar al-Assad durante a guerra civil, fornecendo armas, suporte diplomático e intervenções militares diretas. Moscou justificava sua posição como uma defesa da soberania síria e da estabilidade regional, ignorando as evidências de atrocidades cometidas pelo regime.

No entanto, a relação entre Assad e seus aliados foi marcada por tensões. Enquanto o apoio russo garantiu a sobrevivência de Bashar por anos, a crescente pressão internacional e o desgaste interno tornaram seu governo insustentável. Em 2024, uma coalizão de grupos rebeldes, apoiada pela Turquia e Israel, lançou uma ofensiva decisiva que resultou na queda do regime.

A queda de Assad foi um momento simbólico, marcando o fim de mais de cinco décadas de domínio da família Assad e alterando o equilíbrio de poder no Oriente Médio. A destruição do túmulo de Hafez al-Assad por forças rebeldes representou o desmantelamento do legado autoritário construído pela dinastia.

O governo de Bashar al-Assad começou com promessas de reforma e modernização, mas rapidamente se transformou em um dos regimes mais repressivos do século XXI. Sua queda em 2024 encerra um capítulo sombrio na história da Síria, mas deixa o país em ruínas, enfrentando desafios enormes para reconstruir sua sociedade e sistema político.

Fontes:

  1. Leverett, Flynt. Inheriting Syria: Bashar’s Trial by Fire. Brookings Institution Press, 2005.
  2. Phillips, Christopher. The Battle for Syria: International Rivalry in the New Middle East. Yale University Press, 2016.
Antônio Caiado | Foto: Acervo Pessoal

*Antônio Caiado é brasileiro e atua nas forças armadas dos Estados Unidos desde 2009. Atualmente serve no 102º Batalhão de Operações de Informação como Primeiro Sargento (1SG), liderando grupos de soldados em busca de informações que possam facilitar as estratetgias militares americanas em solo estrangeiro.