O Oriente Médio é uma região marcada por profundas divisões religiosas, étnicas e políticas. A rivalidade entre Irã e Israel é uma manifestação dessas divisões, com raízes em questões de identidade nacional, poder regional e ideologia. O Irã, uma república islâmica xiita, vê Israel como uma ameaça existencial e um inimigo ideológico. Israel, por sua vez, considera o programa nuclear iraniano uma ameaça direta à sua sobrevivência.

Os Estados Unidos têm sido o principal aliado de Israel, oferecendo suporte militar e diplomático em diversos níveis. Entretanto, a Rússia e a China têm interesses estratégicos no Irã, principalmente no contexto de contenção da influência americana na região. A presença de bases militares americanas em países como Catar, Arábia Saudita e Iraque adiciona uma camada de complexidade a essa equação, pois esses locais poderiam ser alvos em um conflito entre Irã e Israel.

Um cenário possível é um ataque preventivo de Israel contra as instalações nucleares do Irã. Israel tem uma doutrina militar que favorece ações preventivas quando enfrenta ameaças existenciais. Nesse contexto, o Mossad, a agência de inteligência israelense, desempenharia um papel crucial em identificar e neutralizar alvos estratégicos dentro do Irã.

O Irã, por sua vez, provavelmente retaliaria com ataques diretos e indiretos. Isso poderia incluir o uso de mísseis balísticos contra cidades israelenses e bases americanas na região, além de ativar aliados como o Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iêmen. O Hezbollah, com seu vasto arsenal de foguetes, poderia lançar uma ofensiva massiva contra o norte de Israel, enquanto os Houthis poderiam atacar alvos estratégicos na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos.

Um ataque israelense ao Irã quase certamente levaria a uma escalada regional. A Síria, que abriga forças iranianas e milícias apoiadas por Teerã, poderia se tornar um campo de batalha secundário. As forças americanas na região, especialmente aquelas estacionadas no Iraque e no Golfo Pérsico, seriam vulneráveis a ataques de retaliação iranianos.

Neste cenário, a Rússia e a China poderiam desempenhar papéis ambíguos. A Rússia, que mantém uma presença militar significativa na Síria e uma aliança estratégica com o Irã, poderia optar por apoiar Teerã diplomaticamente e, possivelmente, fornecer assistência militar limitada. A China, focada em garantir seus interesses econômicos e energéticos na região, poderia tentar mediar uma solução, mas também poderia fornecer apoio logístico ao Irã se considerar que os Estados Unidos estão avançando demasiadamente em suas fronteiras de influência.

Em vez de uma guerra convencional, o conflito poderia se manifestar em uma série de ações assimétricas prolongadas. O Irã tem uma extensa rede de aliados não estatais que pode ser mobilizada para lançar ataques cibernéticos, sabotagens e operações de guerrilha. Grupos como o Hezbollah, os Houthis e o Hamas poderiam ser usados para desgastar Israel e seus aliados gradualmente.

Nesta guerra assimétrica, as bases americanas na região se tornariam alvos prioritários. O Golfo Pérsico, uma rota vital para o transporte de petróleo, poderia ser bloqueado por minas navais ou ataques a petroleiros, desencadeando uma crise energética global. Os Estados Unidos, para proteger seus interesses, teriam que investir pesadamente em operações de segurança marítima, enquanto tentariam manter uma coalizão internacional para isolar o Irã economicamente e diplomaticamente.

As grandes potências globais teriam papéis decisivos em qualquer conflito entre Irã e Israel | Foto: Antônio Caiado

-Estados Unidos: Sob uma administração favorável a Israel, os EUA provavelmente forneceriam apoio militar direto, incluindo defesa antimísseis, inteligência e, possivelmente, operações ofensivas conjuntas. No entanto, o envolvimento americano também dependeria do clima político interno, especialmente durante um ciclo eleitoral como o de 2024. Um conflito prolongado e de alto custo poderia alienar eleitores, pressionando a administração a buscar uma solução diplomática ou a limitar o envolvimento direto.

-Rússia: A Rússia, com suas bases na Síria e sua aliança com o Irã, poderia atuar como um baluarte contra as ações ocidentais na região. Moscou poderia fornecer armas e sistemas de defesa aérea ao Irã, além de usar sua influência diplomática para desafiar as ações americanas no Conselho de Segurança da ONU. Contudo, a Rússia também estaria interessada em evitar uma guerra total que pudesse destabilizar a região e prejudicar seus próprios interesses econômicos e militares.

-China: A China, embora não esteja diretamente envolvida militarmente na região, tem interesses econômicos significativos no Oriente Médio, especialmente em termos de energia. Pequim poderia usar sua influência para tentar mediar o conflito, ao mesmo tempo em que forneceria apoio ao Irã para contrabalançar a influência americana. A China, no entanto, evitaria um confronto direto, preferindo agir nos bastidores para proteger seus interesses estratégicos e comerciais.

A possibilidade de um conflito entre Irã e Israel é uma ameaça real e presente que poderia ter repercussões globais. A complexa teia de alianças, rivalidades e interesses geopolíticos no Oriente Médio torna essa situação extremamente volátil. Os Estados Unidos, a Rússia e a China, cada um com seus próprios interesses na região, desempenhariam papéis críticos na formação do curso de tal conflito. Além disso, a presença de atores não estatais como o Hezbollah, os Houthis e o Hamas adiciona uma camada adicional de complexidade e imprevisibilidade.

As eleições americanas de 2024 acrescentam outro elemento de incerteza. A administração que emergir dessas eleições terá que navegar cuidadosamente para evitar uma conflagração maior, equilibrando o apoio a Israel com a necessidade de evitar uma guerra prolongada e devastadora. Em última análise, o futuro da segurança no Oriente Médio depende de uma combinação de poder militar, diplomacia estratégica e a capacidade das grandes potências de gerenciar suas rivalidades na região sem precipitar uma guerra catastrófica.

Antônio Caiado | Foto: Acervo Pessoal

Antônio Caiado é brasileiro e atua nas forças armadas dos Estados Unidos desde 2009. Atualmente serve no 136º Maneuver Enhancement Brigade (MEB) senior advisor, analisando informações para proteger tropas americanas em solo estrangeiro.