O rap é a principal cultura de massa dentro do movimento hip hop? Certamente foi a que mais influenciou as gerações de jovens e adolescentes dos anos 2000 pra frente. Ainda que em 94 o Racionais MC’s inaugurasse sua primeira coletânea homônimo com o título de um dos discos mais famosos de Tim Maia, com hits que perduram até hoje no imaginário popular periférico como: ‘Homem na Estrada’, ‘Voz Ativa’ e ‘Fim de semana no Parque’, alguns outros fatores foram fundamentais para que essa cultura se espalhasse por todos os cantos da cidade e arredores.

Acima de tudo, a gravação em fita cassete para reproduzir e criar outras cópias já não era novidade quando o CD-ROM apareceu. Bastou alguns poucos anos para que essa cultura se massificasse potencializada pelo imaginário adolescente das trilhas sonoras de filmes, séries e vídeo games com a popularização do Taito. Se os primeiros álbuns de rap chegavam nas comunidades desassistidas por meio das fitas, o boom dos CD´s e, principalmente, a pirataria derramou sobre o subúrbio a mais sanguínea das poesias.

Essa ‘reprodução’ também era decorada, cantada, discutida e refletida. Alguns mais criativos do que outros, regravavam, recontavam histórias com as letras, remixavam, dançavam e acima de tudo, se enxergava nas representações. A música influenciava as gírias, gostos, jeito de andar e vestir, como se portar. Observar aquele álbum com uma figura escura ao fundo segurando em grades brancas em meio populares discos internacionais mostrava que o rap podia chegar em qualquer lugar.

A realidade cruel , sequer precisa ter sido vivenciada ou assistida, embora o seja, na maioria das vezes. A tragédia, política e poder, natureza humana e a violência e guerra nunca foram exclusividade dos considerados maiores autores da literatura ou de grandes e renomados artistas internacionais. O Brasil produziu e ainda produz essa linguagem com desenvoltura e uma inteligência brilhante.

Ouvir rap sempre foi sinônimo de rebeldia e transgressão. Em outros tempos, era torcer para um ou outra música conseguir alcançar as rádios FM´s ou ouvir no som do carro com os amigos. Esse imaginário do que era certo e das ciladas que a vida do crime poderia render deu força para muita gente honesta seguir de cabeça erguida orgulhoso depois de um dia de trabalho.

Quando Mano Brown fala do seu desconhecimento do que era internet quando lançou ‘Negro drama’, o grupo se guardava dos tradicionais holofotes. Raríssimas aparições públicas na TV e Rádio e uma chegada tímida nos primeiros anos na internet. Hoje, com o acesso um tanto quanto mais democratizado, as fronteiras para o Rap nunca foram intransponíveis. Basta ver produções locais e pioneiras de composição, gravação, filmagem e distribuição com relevância mundo afora.

O rap nasceu, ascendeu e se transformou para alcançar o Mainstream, descobrir novas fórmulas e encontrar novos ouvintes sem perder sua essência. Cabe dizer que o movimento não se ergueu e chegou ao topo sozinho. Toda a cultura hip hop, bem como a cultura pop exibida por décadas nas televisões brasileiras como um ‘Maluco no pedaço’ e ‘Todo Mundo Odeia o Chris, dimensionam todo o conjunto. Os B-boys/B-girling, os MC´s, grafiteiros e os Dj´s fazem são o rap.

Sobretudo, o rap fala sobre as religiões negras e abraça suas culturas e tradições, combate e grita contra o racismo, defende a liberdade do povo preto e luta pelo fim da marginalização e violência policial. Ele forma intelectuais brilhantes e é discutido na academia com os louros que os mais renomados compositores e artistas ainda não conquistaram.

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