Há mais de cem anos, durante a Primeira Guerra Mundial, soldados ingleses e alemães abandonaram as trincheiras durante o Natal. Só que não foi para uma nova ofensiva ou uma retirada, mas um breve período de paz em meio a carnificina. Um momento para trocar presentes e confraternizar com o “inimigo”.

Conhecida como “Trégua de Natal”, a pausa humanitária mostrou que há compaixão e humanidade, mesmo que breve, nos horrores da guerra. O evento permanece como um símbolo poderoso de esperança em tempos de conflito. Talvez um dos momentos mais benevolentes da história.

Realizada no início da guerra em 1914, infelizmente o evento não se repetiu no decorrer do conflito. Muito menos em outros confrontos no decorrer da história, como a Segunda Guerra Mundial. Muitos dizem que a escalada e uso de armas mais mortíferas foi um elemento chave para a desumanização dos militares.

Ao mesmo tempo, é inimaginável que tal evento de paz pudesse acontecer durante a Segunda Guerra. Principalmente após a descoberta de campos de concentração e dos horrores do Holocausto. Simplesmente seria impossível uma trégua daquele porte ocorrer.

Por isso, o evento de 1914 é tão especial. Algo que muito provavelmente nunca mais acontecerá, por conta do rumo que o mundo levou. A brutalidade das armas de destruição em massa e os crimes de guerra amplificaram o ódio de ambos os lados em cada conflito. As guerras já não são vistas mais como “gloriosas”, como nos tempos de Napoleão Bonaparte.

Não é possível imaginar croatas e bósnios em confraternização com sérvios durante a Guerra Civil da Iugoslávia, na década de 1990. Atualmente jamais soldados ucranianos aceitariam se confraternizar com russos. Muito menos nas inúmeras guerras civis que resultam em genocídios e limpezas étnicas na Ásia e África.

Restaram apenas alguns momentos breves de humanidade durante conflitos armados, como tratar bem um prisioneiro de guerra ou mobilizações com ajudas humanitárias para civis atingidos pelos horrores. Talvez o mínimo do mínimo previsto pelas Convenções de Genebra. E olhe lá.