Essa semana foi marcada por duas tragédias ambientais. Na segunda-feira, 4, o Rio Grande do Sul começou a sofrer com chuvas intensas, que ganharam intensidade e formaram um ciclone. Além dos 85 municípios arrasados, morreram 41 pessoas e 46 ainda seguem desaparecidas. Segundo a defesa civil, 147 mil pessoas foram afetadas. Em Marrocos, no norte da África, mais de 2000 pessoas já morreram após um forte terremoto atingir o país na sexta-feira, 8.  

O mundo é acometido por diversas tragédias diariamente, mas a maioria delas são tragédias anunciadas. A gestão de riscos mais rasa consegue prever que áreas de risco serão afetadas com as fortes chuvas de janeiro, por exemplo.

No entanto, todos os anos acompanhamos os noticiários das tragédias de começo de ano. Pessoas ficam desabrigadas, perdem seus entes queridos e tudo o que levaram uma vida inteira para construir. Anualmente no Brasil, a defesa civil, em suas esferas municipais, estaduais e federais, faz inúmeros relatórios e pesquisas para mapear os problemas que podem vir a se tornar catastróficos. Cientistas e estudiosos apontam, há décadas, que o aumento do aquecimento global iria intensificar a incidência de chuvas e secas extremas. 

O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) trabalham para detectar riscos e ameaças no país. De acordo com o governo federal, o maior desafio relacionado à governança é fiscalizar e coibir as ocupações e construções em áreas de risco. Em segundo lugar, vem a atuação com outras secretarias municipais fora de um contexto emergencial.

Além do trabalho preventivo com a população, outra dificuldade enfrentada é o reconhecimento do papel da defesa civil pela gestão municipal. No Centro-Oeste, os defensores relataram que a principal dificuldade enfrentada é mostrar a importância do trabalho da defesa civil aos gestores e à comunidade quando não há desastres. Por que a atuação do governo é sempre reativa e não preventiva? Por que alguma atitude só é tomada após a ocorrência do desastre? “Trabalha-se ao máximo com o mínimo que se tem”, relatou um dos servidores da defesa em Goiânia. 

Muitos desastres ambientais no país sao causados pela falta de gestão sustentável de  grandes empresas que não se atentam para seus processos operatórios e para o descartes de resíduos. Quase dez anos após o desastre de Brumadinho e Mariana, a Vale do Rio Doce continua funcionando normalmente. O que mudou no país desde o incidêncio na Vila Socó, na São Paulo de 1984? Desde a contaminação do Césio 137 em 1987, do vazamento de óleo na Baía de Guanabara, da barragem de Cataguases em 2003.

Mais de 800 pessoas morreram em deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro em 2011. Outras 20 pessoas morreram com o rompimento da barragem de Mariana, em 2015. Quatro anos depois, veio Brumadinho. Não são tragédias isoladas, são tragédias anunciadas e tragédias ignoradas. Até quando o governo continuará adotando a medida reativa? A causa ambiental sempre foi colocada de escanteio no país. A expectativa é que nesse governo ela não seja apenas mais uma aposta diplomática do presidente. 

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