Por Cynthia Pastor (Editora do Jornal Opção Entorno)

Meus saudosos avós tinham o carnê do Baú da Felicidade e se emocionavam como todo o país se emocionava com as “Portas da Esperança”. E quem nunca curtiu o resmungão Pedro de Lara ou Elke Maravilha sempre montada (quase uma entidade em cena) e a chatíssima e temida Aracy de Almeida, que acabou ficando muito mais famosa como jurada do programa de auditório do Silvio, do que como a grande “Dama do Encantado” e principal intérprete da obra de Noel Rosa?

Qual é a música, Pablo? Quem nunca? Domingo no Parque era programa obrigatório das famílias de classe média como a minha. E o foguetinho? Que eu chamava de foguetinho “maldito” e ficava tentando entender (quando tinha entre 6 e 8 anos de idade) se havia alguma lógica estatística “do sim e do não” que te fazia ganhar uma TV ou perder tudo e sair dali com uma caixinha de fósforos. Sim, minhas “colegas de trabalho”, o cara era sensacional e conseguia abranger e prender na frente da TV todos os públicos.

Silvio tinha esse poder de criação e de entretenimento. Um sujeito que veio de família pobre, começou como camelô e tornou-se um dos maiores empresários da comunicação brasileira, mas que nunca perdeu a autenticidade, a originalidade e, sobretudo, sua essência.

Como judeu, trazia a superação no DNA, o que entendo porque a família de meu pai também ascende de judeus sefarditas da Península Ibérica. Senor Abravanel cresceu em uma família de imigrantes sefarditas, que aportaram no Rio de Janeiro em 1924. Passou a infância na Lapa e na adolescência já vendia muito, como todo judeu que se preze. Formou-se em contabilidade técnica, obviamente, e trabalhava no horário do almoço, enquanto as pessoas comuns simplesmente almoçavam. Comunicativo, vendia bem e muito!

Começou na Comunicação na Rádio Guanabara, concorrendo à vaga de locutor com Chico Anysio e José Vasconcelos. Claro que ele pesou e mediu, porque o salário de locutor não cobria o que ele lucrava como camelô. Esse espírito comercial que só judeus e árabes entendem, que tem uma essência quase espiritual, fez com que Silvio montasse seu império.

Passou pela Tupi, pela Rádio Continental, sempre com grandes ideias comerciais e de propaganda. Foi corretor de anúncios (o que seria a publicidade, atualmente), teve um bingo na barca Rio-Paquetá, foi locutor na Rádio Nacional e complementava a renda como animador até ser chamado por Manoel de Nóbrega para administrar o Baú da Felicidade. Por reerguer o projeto, foi presenteado por Nóbrega e, em 1959, tem início o império que hoje é o SBT.

Sábio e excepcionalmente amoroso, distribuiu sua fortuna entre suas filhas ainda em vida, para evitar possíveis disputas futuras. Siga em paz, Silvio. Shalom Aleichem!

Relembre o Foguetinho pelo link: https://www.facebook.com/watch/?v=373131467871288