Considerado o “Rei da TV brasileira” e um dos maiores comunicadores de todos os tempos, Silvio Santos nos deixou na manhã do último sábado, 17, aos 93 anos. O país parou. Quem, a partir dos 20 anos de idade, não se lembra dos tradicionais domingos na frente da TV, com a família reunida e Silvio rindo e dizendo “Vem pra cá, vem pra cá!” para alguém de sua plateia? Os aviõezinhos de dinheiro, as pegadinhas, os jogos musicais. As tardes do domingo só existiam na frente da televisão.

Silvio era a cara de uma era da TV que não existe mais. O engajamento, a repercussão, a euforia, para o bem e para o mal, se foram. Desde ontem não faltou quem dissesse – o próprio Lula foi um desses – que a morte do Senor Abravanel marcava, também, o fim de uma era da comunicação. Não poderia ser resumido melhor.

Dados exclusivos de audiência divulgados pelo Uol, no início do ano passado, evidenciaram uma realidade que há tempos fica cada vez mais vívida: o brasileiro, de forma crescente, assiste menos TV aberta. Conforme os dados, o total de TVs ligadas sintonizando canais abertos (24h por dia) em 2022 caiu 4%. Ainda segundo o levantamento, o “share” conjunto dessas emissoras comerciais teve queda de 10%. Ao mesmo tempo, os serviços de streaming, assim como o YouTube, tiveram crescimento de mais de 16% em 2022.

Já um estudo do TIC Domicílios 2023, divulgado pelo jornal Estadão em junho deste ano, apontou que 63% dos jovens entre 16 e 24 anos usam internet pela televisão (para assistir streaming e conteúdos variados), enquanto 100% deles acabam optando pelo acesso em smartphones para acessar conteúdos de mídia.

Os levantamentos formalizam algo que é visível para qualquer brasileiro. A TV – sobretudo a TV aberta – há muito perdeu o poderio que tinha nas décadas passadas. Era um fato: até 10, 15 anos atrás, uma programação quase padrão das emissoras com desenhos pela manhã, novelas à tarde e o jornal à noite era responsável por manter a atenção das famílias sempre ligada na telinha. Hoje, a realidade é outra.

Cada vez mais em queda, os canais de TV aberta têm perdido espaço para redes sociais, sites de busca e streamings. A geração Z, então, nem se fala. Jovens e adolescentes cada vez mais se informam pelo TikTok do que pelos meios tradicionais. Se divertem na rolagem de vídeos, e não com programas de auditório. Assistem filmes e séries em seus streamings por assinatura, e não mais nas sessões programadas das emissoras de TV.

Assim como para Silvio Santos, as cortinas do reinado da TV também se fecharam. Ambos seguem vivos, mas não da mesma forma. Não sabemos se, algum dia, surgirá um novo ‘Silvio Santos’ em quesito de carisma, estratégia e genialidade comunicativa. Mas se isso acontecer, tudo indica que ele deve brilhar mais nas telas de celulares, em feeds de TikTok e Instagram do que em algum canal de televisão.

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