Religião e Política: até onde a fé deve influenciar um Estado Laico?
03 dezembro 2024 às 19h16
COMPARTILHAR
A crescente influência de grupos religiosos na política brasileira levanta questionamentos importantes sobre os limites entre fé e governança em um estado laico. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou a vereadora goianiense Aava Santiago como conselheira para facilitar o diálogo com os evangélicos, sinalizando a relevância desse segmento em sua estratégia política. Em Goiás, a presença evangélica também desponta como força decisiva nas disputas eleitorais de 2024 e 2026, com lideranças buscando indicar o vice na chapa de Daniel Vilela, pré-candidato ao governo estadual.
Esse contexto evidencia uma questão central: até que ponto é saudável que uma religião influencie decisões políticas? Em uma democracia plural, o estado laico existe justamente para assegurar a liberdade de crença e a neutralidade do governo diante das diversas manifestações religiosas. Quando grupos religiosos passam a dominar as agendas políticas, corre-se o risco de comprometer esse equilíbrio, deixando de lado os interesses de outras comunidades e minorias que compõem a sociedade.
A influência evangélica na política não é novidade, mas seu crescimento traz desafios. Por um lado, é legítimo que cidadãos, independentemente de sua crença, participem da vida pública e representem suas visões no debate político. Por outro, quando demandas religiosas específicas orientam políticas públicas que deveriam beneficiar a coletividade, o princípio da laicidade é colocado em xeque.
O caso de Goiás é emblemático. A tentativa de lideranças evangélicas de ocupar um espaço estratégico na chapa de Daniel Vilela reflete a consolidação de um poder político baseado em preceitos religiosos. Mas como equilibrar essa força com a necessidade de governar para todos, independentemente de crenças? A política deve priorizar pautas que representem o interesse público, como educação, saúde e infraestrutura, sem se submeter a pressões de grupos religiosos que desejam impor sua moralidade ou visão de mundo.
Além disso, a instrumentalização da religião na política pode abrir caminho para divisões sociais. Quando candidatos ou governantes buscam apoio explícito de igrejas, arriscam transformar o espaço público em campo de batalha ideológico-religioso, onde cidadãos são definidos não por suas propostas ou valores, mas por sua filiação religiosa.
É crucial que o debate sobre a influência religiosa na política brasileira avance para fortalecer a laicidade do estado. Isso não significa excluir a religião do debate público, mas garantir que as decisões políticas sejam guiadas pelo bem comum, e não por interesses sectários. O desafio é encontrar um equilíbrio que respeite a pluralidade da sociedade brasileira, assegurando que o estado continue laico e comprometido com todos os seus cidadãos, independentemente de sua fé.