A saga da Americanas e das fraudes contábeis da organização se tornou uma verdadeira novela. Ganhou tanto engajamento do público que agora é tradição passar em alguma loja do grupo uma vez por semana para dar uma “ajudinha” com as contas da empresa.

A Americanas se tornou algo comum e corriqueiro na rotina do brasileiro. Antes do cinema é obrigatório dar uma passadinha na loja para comprar um chocolate e talvez uma bebida para o consumidor sair ganhando no preço. Eu confesso que sempre compro um chocolatinho, às vezes por puro altruísmo.

Mas não são os chocolatinhos antes do cinema que vão tapar o rombo de R$ 4,6 bilhões. No início do ano passado a empresa anunciou a descoberta de inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões, o que levou à renúncia de seu CEO e a um pedido de recuperação judicial.

As irregularidades estavam relacionadas a operações de financiamento e dívidas não registradas corretamente, resultando em um rombo significativo nas finanças da empresa. Esse evento abalou a confiança de investidores e credores, provocando uma desvalorização acentuada das ações da companhia e levantando dúvidas sobre sua governança e transparência.

A situação da Americanas também afetou o mercado financeiro brasileiro de maneira mais ampla. Diversos bancos, que tinham exposição significativa à empresa, registraram prejuízos devido ao não pagamento de dívidas. Além disso, a crise na Americanas levantou questões sobre a eficácia das auditorias financeiras e o papel dos reguladores no monitoramento das grandes corporações.

O futuro da empresa ficou incerto, com muitos especialistas especulando sobre a possibilidade de uma reestruturação completa ou até mesmo de uma venda para salvar a operação e proteger os empregos dos milhares de funcionários da companhia.

Agora, o ex-CEO da empresa, Miguel Gutierrez, foi preso em Madri. Ele prestou depoimento e foi solto, porém seu passaporte ficou retido e ele não pode sair do país. Até o momento a ex-diretora da companhia, Anna Christina Ramos Saicali, teve seu nome incluído na lista de procurados da Polícia Internacional (Interpol) e segue foragida.

O prejuízo foi grande para muita gente que concentra muito poder e influência do mercado financeiro. Dadas as devidas proporções da empresa o impacto no varejo nacional também foi significativo. Segundo dados levantados pelo jornal Valor Econômico a Americanas tem 32.536 funcionários sob regime CLT. São, no mínimo, 97 mil pessoas que dependem dessa renda. No final das contas o que se espera é que a perda dos mais pobres, de quem está na base do processo de trabalho e que faz, de fato, a Americanas acontecer sejam considerados e saiam ilesos. 

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