Uma cena inusitada, estilo saia justa, teve como protagonistas, nesta segunda-feira, 24, na cidade de Goiás, dois deputados federais: Adriana Accorsi (PT) e Gustavo Gayer (PL), rivais políticos e, conforme queiram alguns, até inimigos ideológicos, ficaram lado a lado, cadeira com cadeira, durante a cerimônia de entrega da Comenda Anhanguera, a maior honraria concedida pelo Estado.

No primeiro clique registrado, da jornalista Stéfany Fonseca, do Jornal Opção, ambos estão em posição bem desconfortável em relação um ao outro, parecendo mesmo muito incomodados pela situação.

Já em outros flagrantes, do repórter fotográfico Leoiran, também do Jornal Opção, eles aparecem interagindo, conversando, sorridentes até. Em um dos cliques, Gayer mostra alguma coisa em seu celular para Adriana.

Não se sabe quem puxou papo com quem, nem se o teor era realmente amigável. As aparências podem dizer outra coisa, mas o fato é que um parlamentar radical de direita, da chamada ala “conservadora”, estava ali em trato bem diplomático com uma deputada do PT, partido abominado pelos bolsonaristas aliados de Gayer, que acusam os “esquerdistas” de “comunistas”, “bandidos”, “corruptos” etc.

Petistas e (muitos mais) bolsonaristas ficaram ou ficarão espantados ao ver a foto do que parece ser uma conversa cordial entre o que é considerado por muitos como uma luta do “bem” contra o “mal”.

Mas qual a mensagem que, em tese, é passada por meio da foto-flagra? Simples: a de que é preciso que a política aconteça. E a política é feita de políticos. E políticos são feitos de diálogo, até mesmo entre gente de lados opostos. Os exemplos são inúmeros e as exceções – o “modus operandi” de Jair Bolsonaro (PL) talvez seja uma – comprovam a regra.

Adriana Accorsi é e sempre foi mulher de conversar com todos. Aliás, a tradição é de família: seu pai, o saudoso ex-prefeito de Goiânia Darci Accorsi, também era extremamente aberto a uma boa prosa, fosse com quem fosse.

Os bons políticos se fazem dessa forma. É até curioso notar que, na linguagem popular, se refere a alguém que tenha boa convivência com todas as pessoas e que não pega birra de ninguém como uma pessoa “política”.

A ocasião em Goiás foi singular, fora do Congresso. Lá, em plenário, Gayer e Adriana ficam em arenas opostas. O flagrante é apenas um recorte do que ocorreu, mas acende-se a esperança de que o primeiro, neófito nos parlamentos, esteja aprendendo o que é ser político. E o clã Accorsi costuma ter bons professores nesse sentido.

Só quem é absolutamente intolerante pode ver o que condenar na foto entre os dois opostos. Que a coisa ultrapasse a aparência e que possa dar pistas de uma luz no fim do túnel para um Legislativo mais civilizado.