O que é necessário para termos uma boa política em 2026
27 dezembro 2025 às 18h00

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Uma das características do Estado brasileiro que sobrepõe as atuais discussões – ao menos no geral – de esquerda e direita no Brasil, é o persistente patrimonialismo, que apesar de ser apontado como cultural, há padrões bem estabelecidos que provam não ser simples assim. Quero dizer, pode ser que seja inerente as nossas instituições estatais também. O que causa a política na prática: a cultura ou as instituições? É a discussão do que veio primeiro, “o ovo ou a galinha”.
A cultura é um dos principais motores da política, sem dúvida, mas há provas que indicam que as instituições estatais modelam a sociedade. Não por acaso o institucionalismo se tornou uma corrente tão poderosa na academia. Nesse sentido, uma boa política perpassa em combater os vícios de nossas instituições do Estado – o aparelho coercitivo, o que tem o monopólio da violência… ou que devia ter.
Raymundo Faoro, em os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro, um clássico da sociologia nacional afirma que “o patrimonialismo, patriarcal ou de quadro, ter o poder de regulamentar materialmente a economia, desviando-se do seu leito próprio e orientando-a para os fins do Estado, fins e ideais utilitários, de guerras, ético-sociais ou culturais. Esta, em todas, é a circunstância principal, marcante; em virtude dela, a atividade econômica é afastada da racionalidade formal para subordinar-se às necessidades e ao ocasional arbítrio do príncipe”.
O autor aponta que trata-se de uma forma de dominação que separa Estado e nação, conferindo ao primeiro, o Estado, a exclusividade sobre as iniciativas sociais, econômicas e políticas, enquanto reduz a segunda, a nação, à posição passiva de espectadora, incapaz de intervir diante dos efeitos destrutivos de um capitalismo conduzido por interesses políticos. A parte interessante é que essa interpretação nos coloca como sujeitos passivos da história, condizendo não apenas com o Faoro, mas com diversos outros fatores.
Mas o que seria esse famoso patrimonialismo em termos claros: segundo Raymundo Faoro, é um modelo de organização política em que o Estado se confunde com os interesses privados das elites, funcionando como se fosse propriedade de grupos dominantes.
Nesse sistema, não há distinção clara entre o público e o privado: cargos, recursos e decisões políticas são apropriados como bens pessoais, perpetuando privilégios e limitando a participação autônoma da sociedade. Assim, o Estado torna-se instrumento de manutenção de poder e desigualdade, em vez de representar a coletividade.
Portanto, para que em 2026 possamos vislumbrar uma boa política, torna-se indispensável enfrentar de maneira estrutural o patrimonialismo que ainda permeia nossas instituições. Isso significa romper com a lógica que confunde o público com o privado, fortalecendo mecanismos de transparência, participação social e autonomia da nação frente ao Estado.
Somente ao superar esses vícios históricos e ao consolidar instituições capazes de servir ao interesse coletivo, será possível construir um projeto político que não reproduza privilégios, mas que promova justiça, igualdade e desenvolvimento sustentável para toda a sociedade brasileira.
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