Para quem não se recorda, discursivamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou e reafirmou, em várias oportunidades e com veemência, a necessidade de se formular alternativas ao dólar, assim como a criação de mercados alternativos. Além disso, adotou um discurso em que, supostamente, o Brics faria frente aos Estados Unidos.

Da mesma forma, atacou diretamente Israel, um importante aliado dos norte-americanos no Oriente Médio, que agora está em guerra contra um grupo de extremistas que assassinou e estuprou parte de seus cidadãos em um ataque terrorista que chocou o mundo. O líder da esquerda brasileira fez questão de reforçar o “nós contra eles” e, por fim, agiu como se não tivesse contribuído para o resultado — uma das mais severas sanções tarifárias sofridas pelo Brasil, especialmente quando comparadas às sanções recentes orquestradas por Donald Trump.

Enquanto elevava suas demagogias sem sentido contra o comércio com os EUA, Lula ouviu aplausos dos setores mais progressistas da sociedade brasileira e de seus aliados autocratas em seus respectivos países. Como se, de repente, o comércio com a China — que há muitos anos já é expressivamente maior do que com os EUA — fosse uma novidade ou solução mágica.

Nesse sentido, em um momento em que o presidente Trump empenhava-se em sua trama nacionalista, o discurso oposicionista fez pouco sentido pragmático. Afinal, em um momento de alta tensão, a solução seria itensificar a tensão já existente?

Além disso, nesta segunda-feira, 18, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo federal está empenhado em proteger o Brasil da “agressão externa” representada pelo tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A declaração foi feita durante participação em um evento promovido pela CNBC e pelo Financial Times, realizado em São Paulo.

Ou seja, o discurso continua sendo beligerante. Os representantes do governo aparentam não se importar com a escalada do conflito. Haddad também voltou a criticar a atuação da família do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusando-a de tentar obstruir as negociações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos. “[A família Bolsonaro] está agindo para que as negociações não se estabeleçam”, declarou, sem entrar em detalhes sobre as ações específicas.

Como se o contexto da sanção não tivesse relação com a nova Guerra Fria entre os EUA e a China, e como se o Brasil, na figura de Lula, não tivesse feito questão de pressionar essa ferida que se abriu no mundo.

As declarações de Haddad ocorrem em um momento de tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos, e de expectativa sobre avanços nas relações internacionais que podem impactar diretamente o desempenho da economia brasileira nos próximos anos.

Assim, o que se esperava de um líder, e dos membros de sua gestão, que disse, durante as eleições, que não faria essa escalada ideológica, agora se vê imerso em trocas de farpas que, apesar de gerar capital político para o Partido dos Trabalhadores (PT), têm consequências cruéis para o Brasil.

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