Logo após o bombardeio israelense que matou Sayyed Hassan Nasrallah, figura número um do Hezbollah, nos subúrbios ao sul de Beirute, no Líbano, na última sexta-feira, autoridades libanesas já estimam que cerca de 1 milhão de pessoas foram deslocadas internamente devido às ofensivas ordenadas por Netanyahu. A Agência da ONU para Refugiados, por sua vez, afirma que em torno em 70 mil pessoas já cruzaram a fronteira do Líbano.

Já na madrugada desta segunda-feira, 30 – noite de domingo, 29, pelo horário de Brasília – Israel promoveu seu primeiro ataque ao centro de Beirute. O ataque, conforme agências internacionais, mirou um prédio residencial de vários andares. Vídeos que já circulam em sites de notícias mostram caos e pânico, com ambulâncias passando às pressas e um grupo reunido em torno dos destroços.

Líder máximo da Igreja Católica, o Papa Francisco foi questionado neste domingo por jornalistas, durante um voo de volta para Roma da Bélgica, sua posição sobre os recentes ataques de Israel. Respondeu o sumo pontífice: “Mesmo na guerra, há uma moralidade a salvaguardar. A guerra é imoral. Mas as regras da guerra dão a ela alguma moralidade […]. A defesa deve ser sempre proporcional ao ataque. Quando há algo desproporcional, você vê uma tendência de dominar que vai além da moralidade”.

Há tempos não só Francisco, como líderes outros religiosos, políticos e diplomáticos alertam para os horrores da guerra e qual é o real propósito de Netanyahu com ela. Só que, desta vez, o pontífice precisou ser mais contundente, didático, digo, para fazer vir à luz tal realidade.

Acontece que, desde outubro de 2023, quando Israel foi alvo de ataques com foguetes do grupo terrorista Hamas, Netanyahu parece ter ganhado o pretexto perfeito e adquiriu a convicção de que passara a ter, a partir dali, a salvaguarda para colocar em curso uma incursão de caos pelo Oriente Médio.

Não se trata, aqui, de combate ao terrorismo como Bibi e líderes sionistas tentam fazer crer. Mas sim, como bem desenhou o Papa, de uma estratégia de dominação baseada em carnificina. É consenso entre especialistas: terrorismo se combate eficientemente com estratégia, operações especiais e inteligência de guerra. No entanto, o que se projeta diante de nossos olhos é uma mortandade sem igual, na qual não mais se distingue civis de terroristas, crianças de criminosos, idosos de assassinos.

Segundo dados do Ministério da Saúde palestino de agosto deste ano , cerca de 40 mil palestinos foram mortos em Gaza desde que a guerra – que já vem de décadas – se intensificou. Isso, sem contar os milhares que precisaram deixar suas casas e marchar sem rumo para não serem assassinados nos contínuos bombardeiros israelenses.

Agora, Netanyahu parece estar disposto a replicar o cenário de terra arrasada no país vizinho. Os efeitos disso só parecem ganhar cores para alguns quando a tragédia se traduz em nomes e rostos, como as vidas perdidas de Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, e Mirna Raef Nasser, de 16, adolescentes brasileiros mortos no Líbano no ataque israelense, e que entraram para as estatísticas dos assassinados em nome desse “combate ao terrorismo” que se mostra mais terrorista do que se possa imaginar.

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