A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) informou, em seu site oficial, que alertas de pesquisadores da instituição sobre os riscos da localização de uma empresa de mineração numa área de restinga são registrados desde a década de 1980. A Ufal citou como exemplo o professor José Geraldo Marques, que enfrentou diversas críticas e reações por se posicionar contra a decisão do governo da época pela implantação da indústria Braskem na região de Maceió para a extração de sal-gema.

Cerca de 40 anos depois, com anos ininterruptos de extração desenfreada do minério no subsolo, a capital alagoana vive uma crise sem precedentes, com risco de um colapso que pode entrar para a história como um dos maiores desastres da história do Brasil.

Desde 2018, Maceió enfrenta, literalmente, um afundamento catastrófico de seu solo. Em alguns bairros, rachaduras surgiram nas casas e nas ruas, obrigando a Braskem a interromper a mineração e a evacuar os moradores das áreas mais afetadas. Centenas de pessoas foram retiradas de ruas, casas, lugares onde nasceram, cresceram e viveram, diante do cenário assolador: a terra, antes devorada, agora devora tudo ao seu redor, chegando a um nível de afundamento de mais de 2 metros na região explorada pela Braskem desde o último dia 30 de novembro.

O caso da Braskem em Maceió não é novidade no quesito “tragédias anunciadas”. Em abril de 2019, na CPI de Brumadinho no Senado, o senador Jorge Kajuru questionou o engenheiro Felipe Figueiredo Rocha, da área de Recursos Hídricos da Vale, se ele havia apresentado para a Vale a avaliação de risco das barragens. Felipe Rocha confirmou que foi feita uma apresentação sobre os riscos das barragens da empresa, que citava a barragem B1. Ele acrescentou, na época, que tinha até a lista de presença das reuniões.

A barragem em questão, em 25 de janeiro de 2019, rompeu na região de Brumadinho, deixando um rastro de lama, rejeitos de minério e destruição que se estendeu por mais de 300 quilômetros e causou a morte de 270 pessoas (272, se formos levar em conta as duas mulheres grávidas que morreram).

A lista de catástrofes que poderiam ter sido evitadas caso os alertas de especialistas tivessem sido ouvidos é assustadoramente longa – não só no Brasil, mas em todo mundo. E o pior dessa realidade é que ela não vai mudar.

Enquanto a voz de um pesquisador valer menos do que a de um herdeiro de multinacional em um conselho gestor, por exemplo, haverá mais gente embaixo da terra, vitimada por tragédias, do que em cima, sendo responsabilizadas por elas.