Na guerra dos wafers, bolsonarismo não pede Bis

18 outubro 2023 às 16h15

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Nos últimos dias, circulam nas redes sociais diversos vídeos em que bolsonaristas recomendam o boicoite ao Bis, da Lacta. E o motivo não é a descoberta de que o produto não é chocolate, como muitos ainda pensam, mas sim wafer. A verdadeira razão para a revolta dos cidadãos é o garoto propaganda escolhido pela marca: o youtuber Felipe Neto.
Nessa cruzada contra o wafer, o alvo é o influenciador que não costuma esconder sua posição política nas redes sociais. Poucos sabem, mas Felipe já foi antipetista radical. Isso mudou apenas depois de 2018, quando voltou suas críticas para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesse momento, ele passou a defender causas progressistas em sua luta contra o ultraconservadorismo. Essa razão é o bastante, na visão dos bolsonaristas, para boicotar qualquer marca que alie sua imagem a ele.
Diversos nomes conhecidos do bolsonarismo aderiram à campanha do “Bis nunca mais”. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e o ex-presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo (PL-SP), são apenas alguns dos que também fizeram coro contra a marca. Na guerra dos wafers, o bolsonarismo não pede Bis.
Ao tirar o doce da mão das criancinhas, houve quem defendesse a substituição pela marca concorrente. Não durou muito. Rapidamente, os mais radicais já levantaram todo o histórico do KitKat, da Nestlé, que também foi “cancelado” pelos apoiadores de Bolsonaro. O motivo? O apoio à diversidade. Uma campanha de 2021 comemorou o orgulho LGBTQIA+ e os internautas da direita não perdoaram e já rotularam a marca como “lacradora”, como foi o caso do influenciador Monark.
Enquanto isso, nas redes sociais, KitKat segue apoiando a diversidade. A campanha de Bis com Felipe Neto também continua no ar. Em comunicado enviado à imprensa, a Lacta/Mondelez declarou que a contratação do influenciador está relacionada “unicamente a sua relevância no universo gamer e de entretenimento, sem qualquer vínculo ou apoio político de qualquer natureza”, reforçando o compromisso com as múltiplas opiniões.
Já Felipe Neto chegou a pedir uma trégua aos críticos na busca de um diálogo saudável e respeitoso. “Entendo todo o ódio que eu causei nas pessoas que defendem esse regime, mas que tal agora a gente tentar seguir com as nossas vidas, tentar diminuir essa intensidade de ódio. Eu agradeceria muito se a gente pudesse encontrar um equilíbrio”, sugeriu o youtuber. E talvez nem o influenciador acredite ser possível que seus algozes adotem essa postura – digamos – mais diplomática.
Toda a polêmica em torno do assunto é apenas mais uma prova de que a direita e suas pautas conservadoras permanecem viva. Ao radicalizar, ganham holofote e seu discurso ganha destaque, o que polariza ainda mais o debate. E assim o diálogo se torna cada vez mais impossível. Isso porque quando os polos estão tão distantes, não há ponto de contato, não tem meio termo, ninguém cede. Receita para que a conversa não exista e a comunicação, no sentido de troca de ideias, também seja inexistente.