Os desdobramentos da Operação Penalidade Máxima, que investiga a manipulação no futebol para ganho em apostas, pode piorar se chegar aos árbitros e dirigentes. Em meio a toda tramóia, minha preocupação é com as consequências disso para as maiores vítimas do escândalo: o torcedor.

Aquele que realmente gosta do esporte, aquele que aprende a torcer para o seu time desde criança, aquele que carrega uma paixão pelo seu time às vezes inexplicável para quem não gosta de futebol.

Como fica para esse torcedor? Qual impacto dessa descredibilização do esporte na paixão desse torcedor? São questionamentos importantes a se fazer a partir de agora. Quando seu time perder, o torcedor vai desconfiar de alguma manipulação ou confiará na lisura do futebol brasileiro?

Até o momento, 13 partidas estão sendo investigadas: oito do Brasileirão 2022, um da
Série B 2022 e quatro de campeonatos estaduais deste ano mesmo. E se comprovar interferência direta no título dessas competições? O time vai perder esse troféu? Como fica para aquele torcedor que, muitas vezes, enxerga na vitória, ou conquista de uma competição, motivo de felicidade daquele dia, semana ou momento?

Aquele que mais ama o jogo é desrespeitado a cada dia. Lembrando que não é a primeira vez que ocorre um escândalo semelhante, já que em 2005 estourou a “Máfia do Apito” no Brasil. Se o futebol perder sua credibilidade com o torcedor, não sei qual será o futuro desse esporte.

Fatos

O que é a Operação Penalidade Máxima?

A Operação Penalidade Máxima foi iniciada em fevereiro pelo Ministério Público de Goiás para investigar o suposto envolvimento de jogadores de futebol com quadrilhas que lucravam através de apostas esportivas online. De acordo com as investigações, os criminosos ofereciam aos jogadores quantias que chegavam a até R$ 100 mil para que realizassem lances específicos durante as partidas, como a cobrança de pênaltis ou o recebimento de cartões amarelos e vermelhos.

Quais jogos estão sendo analisados?

  • Palmeiras x Juventude – 10/09/2022 – Série A
  • Juventude x Fortaleza – 17/09/2022 – Série A
  • Goiás x Juventude – 05/11/2022 – Série A
  • Ceará x Cuiabá – 16/10/2022 – Série A
  • Sport x Operário-PR – 28/10/2022 – Série B
  • RB Bragantino x América-MG – 05/11/2022 – Série B
  • Santos x Avaí – 05/11/2022 – Série A
  • Botafogo x Santos – 10/11/2022 – Série A
  • Palmeiras x Cuiabá – 06/11/2022 – Série A
  • RB Bragantino x Portuguesa – 21/01/2023 – Paulistão
  • Guarani x Portuguesa – 08/02/2023 – Paulistão
  • Bento Gonçalves x Novo Hamburgo – 11/02/2023 – Gaúchão
  • Caxias x São Luiz-RS – 12/02/2023 – Gaúchão

Jogadores investigados:

  • Eduardo Bauermann (Santos)
  • Gabriel Tota (Ypiranga-RS)
  • Victor Ramos (Chapecoense)
  • Igor Cariús (Sport)
  • Paulo Miranda (Náutico)
  • Fernando Neto (São Bernardo)
  • Matheus Gomes (Sergipe)

Manipuladores investigados:

  • Bruno Lopez de Moura
  • Ícaro Fernando Calixto dos Santos
  • Luís Felipe Rodrigues de Castro
  • Victor Yamasaki Fernandes
  • Zildo Peixoto Neto
  • Thiago Chambó Andrade
  • Romário Hugo dos Santos
  • William de Oliveira Souza
  • Pedro Gama dos Santos Júnior

Jogadores citados no processo:

  • Vitor Mendes (Fluminense)
  • Richard (Cruzeiro)
  • Nino Paraíba (América-MG)
  • Dadá Belmonte (América-MG)
  • Kevin Lomonaco (Red Bull Bragantino)
  • Moraes Jr. (Juventude)
  • Nikolas Farias (Novo Hamburgo)
  • Jarro Pedroso (Inter de Santa Maria)
  • Nathan (Grêmio)
  • Pedrinho (Athletico-PR)

Houve prisão ou alguém ainda pode ser detido?

As autoridades de 16 municípios e seis estados realizaram uma operação em conjunto com o MPGO, executando 20 mandados de busca e apreensão. Foram encontradas granadas de efeito moral em um dos endereços e armas de fogo em outro, além de celulares e computadores.

Membros da organização criminosa foram presos preventivamente, mas os atletas envolvidos no esquema permanecem em liberdade. De acordo com o Estatuto do Torcedor, jogadores e apostadores podem ser condenados à pena de reclusão de dois a seis anos, além de multa.

Existe possibilidade de anulação das Séries A e B de 2022, além dos estaduais de 2023 investigados?

O artigo 1.69B do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBDJ) não prevê a possibilidade de alterações nos resultados ou anulações após o término de uma competição. De acordo com o artigo 243 deste dispositivo, as punições aplicáveis são multas e suspensões, que devem ter duração mínima de seis meses.

Por que a Polícia Federal entrou nas investigações?

“Diante de indícios de manipulação de resultados em competições esportivas, com repercussão interestadual e até internacional, estou determinando hoje que seja instaurado Inquérito na Polícia Federal para as investigações legalmente cabíveis”, explicou o ministro da Justiça, Flávio Dino, nas redes sociais.

E o posicionamento da CBF?

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) fez um apelo ao presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, e ao Ministério da Justiça em busca de ajuda no caso. Além disso, o presidente da entidade máxima do futebol, Ednaldo Rodrigues, está buscando colaboração da FIFA e de outros órgãos para padronizar o processo.

“Defendo a suspensão preventiva baseada em suspeitas concretas e até o banimento do esporte em casos comprovados. Quem comete crimes não deve fazer parte do futebol brasileiro e mundial”, ressaltou Rodrigues.

Como fica a regulamentação das apostas esportivas?

A resolução do caso pode acelerar a regulamentação das casas de apostas online no Brasil. O governo está trabalhando para editar uma medida provisória que trata da tributação das empresas desse ramo.

De acordo com o Ministério da Fazenda, a situação atual resulta em uma perda de arrecadação anual de R$ 12 milhões a R$ 15 milhões em impostos. No entanto, os quatro principais clubes do eixo Rio-São Paulo se opuseram à taxação, alegando que teria um impacto negativo em suas receitas.

De acordo com o mapa de patrocínio de uniformes no futebol brasileiro em 2022, o segmento de apostas esportivas aumentou sua presença na última temporada em 45%, passando de 11 contratos em 2021 para 16 em 2022.

O setor também liderou em volume de marcas e contratos de patrocínios-máster na Série A, com 11 patrocínios de sete marcas diferentes na propriedade mais nobre do uniforme.

Desde a liberação de atuação no país em 2019, os sites de apostas esportivas dobraram o número de marcas diferentes presentes nos uniformes das equipes participantes do Brasileirão.