Diante das ameaças sofridas e dos ataques concretizados em instituições de ensino nos últimos meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outras figuras públicas ignoram um fato: os jogos não transformam as crianças em pessoas violentas. Aliás, o videogame pode auxiliar no aprendizado e no desenvolvimento de habilidades, mas deve ser acompanhado de perto por pais e educadores.

Um dos grupos que mais crescem, especialmente entre os jovens, é o dos gamers. A comunidade foi utilizada de forma assertiva pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na campanha eleitoral de 2018, que voltou a flertar com o grupo em busca da reeleição em 2022. Ignorada por parte significativa da esquerda, essa camada da sociedade exerce uma influência ativa no eleitorado mais jovem e conta com grande capacidade de mobilização graças à internet.

A comunidade gamer tornou-se tão importante nas últimas eleições que os três principais candidatos voltaram suas campanhas em busca deste voto. Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes (PDT) lançaram campanhas com a estética, comunicação e idiossincrasias dessa parcela de eleitores.

Apesar desse jogo de marketing, os políticos pouco sabem ou pouco se importam em conhecer a realidade da comunidade. Bolsonaro e Lula já criticaram o fato dos jogos serem violentos e já chegaram a sugerir que fossem proibidos por estimular a violência entre os mais jovens.

O pânico sobre declarações acusatórias como essa, é claro, não afeta diretamente a comunidade. Elas costumam ser direcionadas aos pais, especialmente em momentos de violências como os vividos pelo Brasil em abril.

As ameaças e ataques às escolas, quase sempre, têm encontrado o mesmo responsável: jogos violentos. Em 2013, um adolescente teria assassinado a própria família, inclusive os pais que eram policiais. Na época, imprensa, OAB, delegado e policiais do caso foram enfáticos na culpabilização dos games, já que o garoto exibia, nas redes sociais, a imagem do jogo Assassin’s Creed. O enredo principal da série gira em torno de uma antiga rivalidade entre a Ordem dos Assassinos e a Ordem dos Templários.

Controvérsias
Diversos estudos científicos buscam compreender os impactos de jogos violentos no comportamento das crianças e adolescentes. Não existe, porém, um consenso na comunidade acadêmica sobre o assunto. A Associação Americana de Psicologia concluiu em 2015 que a pesquisa sobre o impacto dos jogos violentos é consistente em mostrar que jogos violentos aumentam o comportamento agressivo e diminuem o comportamento pró-social.

Por outro lado, um paper de 2019 (Przybylski, A. K., & Weinstein, N. (2019)) mostra que não há evidências significativas de que o engajamento em jogos eletrônicos esteja associado a comportamentos agressivos em adolescentes.

No entanto, o estudo reconhece que a pesquisa anterior sugere que jogos violentos podem influenciar outros aspectos do comportamento, como o humor e a cognição social. Portanto, os autores enfatizam que é importante considerar esses resultados em relação às outras evidências disponíveis sobre o tema.