Ironia: Sergio Moro agora é vítima daquilo que cometeu
19 abril 2023 às 11h36
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Durante anos, a Operação Lava Jato promoveu, a partir da descoberta de um esquema de lavagem de dinheiro por meio de um posto de gasolina em Brasília, uma megainvestigação contra corrupção envolvendo políticos e empresários que, no fim, tornou-se basicamente uma caça às bruxas ao PT e seus líderes.
O impeachment de Dilma Rousseff (a presidente cuja idoneidade foi comprovada pelo fracasso da própria força-tarefa em incriminá-la) e a prisão eleitoreira de Luiz Inácio Lula da Silva (condenado sem prova objetiva pelo ex-juiz, ex-ministro de Jair Bolsonaro e hoje senador pelo UB-PR, Sergio Moro, baseado na denúncia por “convicção” do ex-procurador da República e hoje deputado federal pelo Podemos-PR, Deltan Dallagnol) foram os maiores objetivos de algo que poderia ter sido, sim, virtuoso: o combate à corrupção sistêmica no Brasil.
Além de ter maculado uma causa nobre com processos conduzidos ao arrepio da lei, Sergio Moro deixou como rastro de sua leviandade operacional do Direito a quebra das maiores empresas da indústria da construção civil nacional, gerando a perda de centenas de milhares de empregos diretos. Teve, portanto, parte na piora da crise econômica que a Nação ainda não superou.
Em um de seus depoimentos diante do então juiz, Lula fitou os olhos de Moro e lhe disse, em tom de desabafo:
– O vazamento de conversas com a minha mulher e dela com meus filhos foi o sr. quem autorizou. Eu não tinha o direito (sic) de ter minha casa molestada sem que eu fosse intimado para uma audiência, doutor, ninguém nunca me convidou! De repente, eu vejo um pelotão da Polícia Federal, quando eu saí levantaram até o colchão da minha casa, achando que eu tinha dinheiro, doutor! Então, deixa eu lhe falar uma coisa, doutor: eu espero que esta Nação nunca abdique de acreditar na Justiça. Agora, eu quero lhe avisar de uma coisa: esses mesmos que me atacam hoje, se tiverem sinais de que eu serei absolvido, prepare-se, porque os ataques ao sr. vai ser (sic) muito mais fortes.
O então ex-presidente falava do que vinha sofrendo da imprensa, que promovia uma campanha intensa pró-Lava Jato.
Agora, a mesma queixa vem de Sergio Moro, após ter sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por supostamente ter atentado contra a honra de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) por uma “brincadeira” dita durante uma festa junina fora de época. Moro, veja só, teme até ser preso ou perder o mandato.
Nesta segunda-feira, 17, o agora senador se viu obrigado a gravar um pronunciamento, divulgado em suas redes sociais, por causa da piada que havia feito e que repercutiu sobre comprar uma sentença do ministro Gilmar Mendes. Ele disse que os vídeos foram editados e “retirados do contexto”, que o espantava ter sido denunciado em três dias “sem sequer ter sido ouvido previamente”. “Estamos em tempos sombrios nos quais a liberdade e o devido processo estão sendo deixados de lado”, concluiu.
Se colocar as mesmas falas na boca do Lula de seis ou sete anos atrás, se perceberá como se encaixam perfeitamente.
Sergio Moro não merece ser condenado por uma piada de mau gosto feita durante uma festa. Assim como a então presidente Dilma não merecia ter tido exposta uma conversa particular editada após um grampo ilegal e liberada para a imprensa por Sergio Moro. Nem Lula sofrer a invasão de sua casa ou uma coerção coercitiva sem nenhum motivo que não fosse uma exposição midiática. O mundo dá voltas e o algoz virou a vítima do expediente que utilizava.