Goiânia por um fio: as estratégias no jogo político das Eleições de 2024
16 outubro 2024 às 19h51
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Com o término do primeiro turno das eleições em Goiânia, o cenário político se delineia em uma luta acirrada entre dois postulantes de direita: Fred Rodrigues (PL) e Sandro Mabel (UB). Ambos trouxeram à tona a polarização que vem caracterizando o cenário político brasileiro, mas é a dinâmica de alianças e a falta de apoio formal entre os candidatos que merecem uma análise mais profunda.
O candidato de Bolsonaro, Fred Rodrigues se destacou com 214.253 votos, somando 31,14% dos votos válidos, enquanto Sandro Mabel, apoiado pelo governador Ronaldo Caiado, veio logo atrás com 190.278 votos (27,66%). Em um momento em que a extrema-direita parece ganhar força, Mabel tenta se apresentar como uma alternativa mais “polida”, embora sua origem política e valores pessoais também o vinculam a um espectro conservador. Apesar disso, o candidato da base governista, assim como o goverador Ronaldo Caiado, é republicano e sabe dialogar com todos.
Já a posição dos candidatos Adriana Accorsi (PT) e Matheus Ribeiro (PSDB) é intrigante. Ambos não se aliaram a nenhum dos dois candidatos no segundo turno, o que, à primeira vista, pode parecer uma neutralidade estratégica, mas que, na prática, pode resultar em uma fragmentação do eleitorado.
Adriana, com 168.145 votos (24,44%), representa uma oposição forte à direita, mas sua falta de apoio a Mabel pode ser um indicativo de uma tentativa de preservar sua base de eleitores mais à esquerda. Nas eleições municipais, apesar do forte anti-petismo em Goiânia, Adriana conseguiu ser maior que o partido. Matheus, por outro lado, com 46.875 votos (6,81%), demonstra um alinhamento tático à sua legenda, mas é evidente que sua postura neutra não favorece um diálogo mais amplo em busca de uma união contra os candidatos que foram para o segundo turno.
O cientista social Guilherme Carvalho compartilhou suas reflexões sobre o cenário com o Jornal Opção. Ele ressalta que declarações de apoio, sem a correspondente estrutura institucional de mobilização, não se traduzem em um impacto eleitoral significativo. E é aqui que reside a fragilidade das alianças formadas até o momento.
Apesar de os partidos possuírem recursos, a ausência de uma militância engajada que atue de forma efetiva durante a campanha pode enfraquecer essas movimentações. A impressão é de que muitos atores políticos estão reticentes, cientes de que o segundo turno representa uma nova batalha, onde o eleitorado, por sua vez, pode estar alheio aos desdobramentos recentes.
Eleições em 2026
A questão das alianças é complexa. Ronaldo Caiado, em sua estratégia, já sinalizou que não buscaria apoio do PT, enquanto a reciprocidade também parece ser evidente. Essa dinâmica pode ser um indicativo da possibilidade de uma guerra de desgaste nas redes sociais e no discurso, mas não necessariamente de um fortalecimento nas urnas. O fato de que tanto Adriana quanto Matheus optaram pela neutralidade mostra uma estratégia de resguardo, possivelmente pensando em 2026, quando novas disputas estarão em jogo.
Por fim, o panorama político em Goiânia se revela como um verdadeiro jogo de xadrez, onde cada movimento é crucial para a vitória. A ausência de apoio formal, a polarização entre direita e esquerda, o racha na direita e a possibilidade de que os eleitores se reengajem apenas na reta final da campanha trazem incertezas. Assim como começou, o cenário continua amplo.
Além da disputa pela presidência, a definição do sucessor de Caiado para o Governo de Goiás também está em jogo. O PL pretende lançar o Senador Wilder Moraes na disputa. O governador deve apoiar o seu atual vice, Daniel Vilela (MDB), filho do falecido Maguito Vilela. Para o senado, um nome que rola nos bastidores para candidatura bolsonarista é o da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. Já o União Brasil contaria com o nome da primeira-dama de Goiás Gracinha Caiado.
Resta saber se Fred Rodrigues ou Sandro Mabel conseguirão mobilizar não apenas votos, mas também a base de apoio necessária para garantir uma vitória sólida em um cenário eleitoral tão dividido e imprevisível. A contagem regressiva já começou e, com ela, a expectativa de que as dinâmicas de apoio possam finalmente se concretizar em algo que vá além de meras declarações.