As eleições de 2024 revelam que o Brasil caminha ao centro. Durante as apurações, a jornalista Andréia Sadi comentou que o cenário neste ano era muito semelhante ao de 2018 e, inclusive, citou Mano Brown. O retrato do eleitorado mudou, mas uma coisa segue a mesma: a frustração de jovens das periferias com partidos de esquerda. Em reportagem do Intercept Brasil, Isaac de Souza Faria, líder comunitário, fala sobre o papel cada vez mais central das emendas parlamentares nos territórios e como a direita se beneficia do crescimento exponencial das emendas no orçamento público. Consequentemente, consegue liberar obras de forma mais rápida.

Em Goiânia, dos 37 vereadores eleitos em 2024, 27 são de centro, centro-direita ou direita. Em relação ao Executivo, um candidato de centro-direita foi eleito. No 1° turno, três candidatos obteram quase a mesma porcentagem de votos. O caso foi semelhante ao da capital paulista. Na capital goiana, o primeiro colocado recebeu 214.253 votos, o segundo 190.278 e o terceiro 168.145. Em São Paulo, a aproximação foi ainda maior e chegou a um empate técnico.

Adriana Accorsi largou na frente nas pesquisas, mas não conseguiu ir para o segundo turno, muito provavelmente por causa de seu partido. A disputa foi competitiva porque Accorsi, por sua trajetória, é maior que o PT. Fazendo uma política ampla, a delegada nunca foi extremista e sempre buscou dialogar com todos — com todos ainda levam o diálogo como único caminho possível.

As novas gerações querem ocupar espaços e a esquerda precisa renovar a maneira como se apresenta. Pablo Marçal entendeu isso e levou boa parte das zonas eleitorais localizadas nas periferias de São Paulo. Já no segundo turno, entre a centro-direita e a esquerda, os eleitores escolheram o centro. Em Goiânia também. Isaac, ao Intercept, diz que o centrão tem captado mais pessoas porque libera emendas com maior falicidade.

Não é difícil de entender que o eleitor está cada vez mais exigente, mas o clientelismo infelizmente ainda domina as eleições. As pessoas não desejam apenas uma cesta básica, elas querem comer picanha. Nunes tinha apoio político e, principalmente, suporte dos líderes comunitários, que é o que constrói uma eleição municipal.

Marçal estudou bem o eleitorado brasileiro e construiu sua persona. Criado em berço da teologia da prosperidade — Igreja Videira de Goiânia — o ex-coaching goiano entende que o Brasil caminha para o centro, mas a religiosidade puxa um pouco para a direita, o que torna a maioria centro-direita. Lula chamou Aava Santiago para ser sua conselheira porque tem falhado e sabe que tem falhado em dialogar com os evangélicos.

Em sua sabatina com Guilherme Boulos, Pablo Marçal perguntou como o psolista poderia ser próspero se mora na mesma casa há mais de 30 anos. Em sua resposta, Boulos deu uma aula para os pobres que só tem dinheiro. O discurso e as promessas de Marçal, no entanto, atraem mais pessoas.

Em 2026 Lula terá 81 anos, mesma idade de Biden, candidato democrata que foi afastado da corrida nos Estados Unidos por conta da idade. A esquerda precisa urgente olhar para si e voltar a falar com o seu público, porque o bolsonarismo se apressa em fazer filhos.