Em um país que elegeu Bolsonaro, a estratégia Marçal funciona?
20 agosto 2024 às 18h41
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Desde o início dos debates, em 8 de agosto, o candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) tem adotado uma estratégia agressiva, atacando adversários, desrespeitando as regras dos programas e usando as discussões para gerar conteúdo para suas redes sociais. Essa postura provocou a ausência de alguns candidatos, como o prefeito Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Datena (PSDB), no último debate, realizado na segunda-feira, 19.
Tabata Amaral (PSB) aproveitou e foi para cima de Marçal, acusando-o de “descolamento da realidade” e afirmando que o adversário era como “um aluno que só faz prova com consulta”. Isso porque o ex-coaching disse que responderia aos questionamentos pelo instagram. A proposta de nova política, a crítica a ausência dos candidatos e as falas irreverentes estão presentes nos discursos dos candidatos “bolsonaristas”, por mais que nem mesmo Bolsonaro pareça gostar de alguns deles.
Estratégia parecida tem sido usada pelo candidato à prefeitura de Goiânia, Fred Rodrigues (PL) (aquele que entrou no lugar de Gustavo Gayer). No último debate, realizado nesta segunda-feira, 19, o candidato pouco falou sobre os projetos para a cidade e ficou mais focado em atacar os concorrentes: Vanderlan Cardoso (PSD), Adriana Accorsi (PT), Rogério Cruz (SD), Matheus Ribeiro (PSDB) e Sandro Mabel (UB).
Matheus usou estratégia semelhante a de Tabata e foi para cima de Fred. “Não tenha uma visão tão reducionista do debate não, Fred. Vamos falar de Goiânia. Quero governar com o Sandro Mabel, que é presidente da FIEG, com a Adriana, que é deputada federal, com o Vanderlan, que é senador, e você? Trabalha que de quê? Você acorda cedo e vai pra onde? Fala da sua história. Fala das suas ideias”, questionou Matheus Ribeiro. Fred Rodrigues, assim como Pablo Marçal, não respondeu às perguntas.
Seja como meme, crítica ou apoio, ambos os candidatos acabam citados por conta dos comportamentos inesperados. Não se pode desprezar a dimensão das redes sociais no mundo. Em levantamento feio pelo Jornal Opção, Fred Rodrigues é o segundo mais bem colocado em termos de engajamento na internet, com 165 mil seguidores no Instagram.
No último levantamento do Datafolha, Nunes e Boulos aparecem empatados com 22%, seguidos por Marçal e Datena, também empatados com 12%. Após o 1° debate, o nome de Pablo Marçal foi mencionado 326.043 vezes, representando um aumento de 1.204% em relação ao período anterior, que vai de 29 de julho a 4 de agosto. Desse total, 68% das menções ocorreram nos dias 8 e 9 de agosto, impulsionadas pela repercussão do debate.
A “velha política” pode levar os eleitores a escolher aquele que parece ser mais jovial, decolado e contra o sistema. É um método que produz Marçais, Gayers e Ferreiras [Nikolas]. Ao mesmo tempo que as atitudes são ridicuralizada por alguns, também são aplaudidas por outros. É tolice desprezar o passado e se esquecer que Jair Bolsonaro se elegeu, massivamente, com o apoio das redes sociais.
No cenário incerto da corrida eleitoral de Goiânia, os candidatos têm que lutar, primeiro, contra o desconhecimento. Nesse primeiro momento, eles devem, sobretudo, aparecer e se fazerem conhecidos. Grande parcela da população, onde o voto é obrigatório, escolhe o candidato no dia da votação. Muitos não sabem sequer o nome do atual prefeito de Goiânia, quem dirá dos candidatos.