Conservadores serão maioria nos conselhos tutelares do Brasil nos próximos quatro anos

06 outubro 2023 às 16h18

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De acordo com o Ministério dos Diretos Humanos e da Cidadania (MDHC), no último domingo,1º, mais de um milhão e meio de brasileiros foram às urnas para escolherem seus representantes nos conselhos tutelares em cerca de 5 mil municípios brasileiros. Um levantamento do MDHC revelou que, somente nas capitais, houve um acréscimo de 25% de eleitores. Ou seja, um número recorde de participação.
Para se ter uma ideia do tamanho dessa disputa, foram mais de 30 mil conselheiros escolhidos para defender os direitos das crianças e adolescentes. Eles serão responsáveis pelos conselhos tutelares, um órgão permanente e autônomo que zela pelo cumprimento desses direitos, conforma estabelecida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Filas enormes se formaram em quase todas as grandes cidades brasileiras, algo jamais visto. O uso das urnas eletrônicas foi uma novidade e ajudou a minimizar as filas: 56 mil equipamentos do tipo foram disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nos locais de votação.
O aumento expressivo de pessoas interessadas em sair de casa em um pleno domingo de calor na maioria das cidades do país, em uma votação não obrigatória, mostra a relevância que os brasileiros têm dado a esse tema. Desde 2018, é observado que a população tem se interessado mais pela escolha de quem deverá cuidar de um assunto que tem dominado os debates nas famílias.
Vale destacar que a campanha presidencial que elegeu Jair Bolsonaro (PL) presidente despertou em grande parte da população um interesse por temas pouco debatidos na sociedade, como os conselhos tutelares. Essa alta quantidade de eleitores entusiasmados com as eleições desse ano deixa claro que o assunto está ganhando notoriedade. Ademais, o pleito para a escolha dos conselheiros deu continuidade à polarização que se instalou no país desde então entre esquerda e direita.
O recorde na votação, no entanto, se deu, diga-se de passagem, pelo grande engajamento de políticos de direita – considerados conservadores – e, principalmente, das igrejas evangélicas. Por conta disso, alguns comentaristas políticos e parte da grande mídia têm repudiado essa suposta “má influência religiosa” nas eleições em questão.
Qualquer segmento pode pedir voto para quem quer que seja no âmbito dos conselhos tutelares. Dessa forma, um líder religioso, espírita, católico, de matrizes africanas, LGBTQIA+ ou qualquer outro tem o direito de fazer campanha para determinado (os) candidato que melhor representa seus valores e princípios, isso é natural. O que não pode acontecer é a coerção, isto é, obrigar o membro a votar sob pena de alguma punição.
O fato de a grande maioria dos conselheiros eleitos pelo Brasil a fora serem ligados a movimentos conservadores e religiosos parece não ter agradado algumas pessoas com viés esquerdista. Esse foi o caso do comentarista da Globo News, Octávio Guedes, que fez comentários preconceituosos contra os evangélicos.
O comentarista demonstra descontentamento pelo fato de mais de 70% dos eleitos serem de perfil conservador. Sob a alegação de que o Estado é laico, Guedes critica pastores que pediram votos para candidatos conservadores e rotulou o movimento evangélico como fundamentalista e perigoso. Mas o que é um Estado laico? Significa a separação administrativa entre Estado e Igreja, respeitando a liberdade e a proteção de crença e as liberdades religiosas em Estados não confessionais.
Dessa forma, um Estado laico jamais poderá adotar uma religião oficial ou obrigar o cidadão a seguir uma determinada religião, privilegiando uma em detrimento de outra. Ou seja, trata-se de garantias dadas pelo Estado para que o indivíduo cultue quem ele quiser sem a interferência do governo. E isso não tem a ver com as preferências políticas e ideológicas dos componentes de uma comunidade religiosa.
A grande verdade é que o avanço dos conservadores, mais especificamente os evangélicos, dentro dos conselhos tutelares está incomodando a ala progressista de intelectuais e políticos. No entanto, assim como os pastores e líderes religiosos pediram votos e incentivaram os fiéis a votarem em quem se identifica mais com os princípios defendidos por cada um deles, da mesma forma fizeram pessoas ligadas ao movimento LGBTQIA+ dentro de suas comunidades, por exemplo.
A pergunta que fica é: por que não rechaçam de igual modo essa influência? Assim como os líderes religiosos participaram ativamente da campanha de seus candidatos, do mesmo modo fizeram os líderes do segundo segmento citado. As liberdades conquistadas e garantidas pela democracia devem ser para todos, independentemente de sua fé, princípios, crença ou ideologia.
Em um país onde o cristianismo é maioria, não é novidade o que aconteceu. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 86% da população brasileira é cristã. Dentro desse número, 50% são católicos, porém, observa-se um crescente e significativo número de evangélicos, que somam 31% da população.
A eleição para conselheiro tutelar deste ano deixou uma pulga atrás da orelha da esquerda brasileira que sempre dominou esses órgãos e que pensava, desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que o movimento conservador chegaria ao fim. Todavia, ao que parece, a direita está mais viva do que nunca e evidência que virá forte nas próximas eleições, inclusive nas municipais do ano que vem.
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