O Programa de Requalificação do Centro de Goiânia, o “Centraliza”, ainda não foi aprovado pelos vereadores na Câmara Municipal. No entanto, outras regiões da capital também precisam de planos específicos e não podem aguardar. Além do Setor Central, bairros como Campinas, Setor Sul e Setor Leste Universitário são exemplos de áreas que necessitam de atenção.

Mais especificamente, o caso de Campinas é “semelhante” ao do Setor Central, não apenas pela proximidade geográfica. O local, que antes era um município e depois se tornou um dos bairros mais importantes de Goiânia, é, por isso, mais antigo que a própria capital. Assim como o Centro, a região está abandonada e à mercê da criminalidade.

Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio histórico e cultural, o local é de grande importância para a arquitetura da cidade. Assim como o Setor Central, Campinas abriga várias edificações no estilo art déco, que influenciou a capital nas décadas de 1930 e 1940. Exemplos disso são o Goiânia Palace Hotel e o Antigo Fórum e Tribunal de Justiça.

Décadas atrás, o bairro de Campinas era um dos principais polos comerciais de Goiânia. No entanto, com o tempo, a região, que tem mais de 200 anos, passou por um processo de gentrificação – impulsionado pela especulação imobiliária. Atualmente, o bairro também enfrenta problemas como “cracolândias” e lixões a céu aberto.

Anteriormente, o Jornal Opção publicou a denúncia de moradores da região sobre as praças Joaquim Lúcio e da Matriz, que se tornaram “cracolândias”. Com o abandono por parte do poder público e frequentes assaltos, tanto de dia quanto à noite, os moradores descrevem uma situação de violência e tráfico de drogas, mencionando até assassinatos relacionados ao comércio ilegal. Diversos dependentes de álcool e drogas, além de traficantes, circulam pela região

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Ou seja, qualquer iniciativa voltada para o bairro de Campinas também deve abranger a saúde pública e outras questões multidisciplinares. É impossível recuperar a região sem oferecer o tratamento adequado aos dependentes químicos.

Outro exemplo que comprova o abandono é a situação do Cemitério Santana, de responsabilidade da Prefeitura de Goiânia. Matérias veiculadas na imprensa mostram que as lápides disputam espaço com o mato, isso quando não são depredadas ou furtadas. Além dos moradores, nem aqueles que ali jazem podem descansar em paz eternamente.

Campinas também enfrenta problemas. Além de denúncias de falta de mantimentos e de pouca conservação no local, o espaço também apresenta demora no atendimento, além de relatos de cortes no abastecimento de energia em outubro.

Circular por Campinas à noite também é complicado, a região é deserta e poucos comércios funcionam durante esse período. Assim como o Centro, não há mais vida na região depois que o sol se põe, apenas o medo da criminalidade.

Por isso, o prefeito eleito e os futuros representantes da Câmara Municipal não podem virar as costas para Campinas. O bairro mais antigo de Goiânia, que já foi o coração pulsante da cidade, precisa de uma iniciativa própria de requalificação e revitalização para devolver àquela região a dignidade e o respeito que merece.

Lembrando que, em uma das discussões anteriores sobre o “Centraliza”, durante a tramitação pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) da Câmara, os vereadores chegaram a sugerir incluir o bairro no próprio plano para o Centro. Porém, isso foi considerado inviável, pois o projeto foi elaborado especificamente para o Setor Central devido às questões tributárias. No entanto, nada impede que uma nova proposta seja redigida.

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