Brasil +40 graus: o calor extremo se cria na extrema desigualdade
19 setembro 2023 às 11h20
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O inverno no Brasil não é aquele dos filmes de Hollywood. Especificamente em Goiás, há algumas semanas de frio que um russo avaliaria como temperatura amena, boa para um banho de rio ou de mar.
Quando se fala em inverno por aqui, se pensa também em tempo seco (com o combo ausência de chuvas + baixa umidade do ar), grande amplitude térmica, céu enfumaçado por queimadas e… calor. Às vezes, muito calor. E, às vezes – e cada vez mais frequentemente –, quebra de recorde de temperatura máxima.
Os próximos dias serão de termômetros em pontos extremos não só no Estado, mas em grande parte do Brasil, do Pará ao Paraná, como é a previsão das autoridades meteorológicas. Alguns Estados estarão totalmente “cobertos” pela onda de calor, como é o caso de São Paulo e Mato Grosso do Sul; outros serão afetados em grande parte, como Mato Grosso, Paraná e Goiás, onde os riscos maiores estarão nas regiões Sul, Sudoeste, Oeste, Noroeste, Norte e na parte ocidental do chamado Mato Grosso Goiano.
Pela imagem (acima) divulgada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Goiânia e sua região metropolitana serão pegas de “raspão” pela massa de ar quente – o que, literalmente, não significa nenhum refresco.
O calor é típico da região na transição para a primavera – estação que, por aqui, também tem pouco a ver com o cenário florido das paisagens europeias. Só que, no caso presente, climatologistas e meteorologistas relatam um quadro fora do habitual: uma bolha de ar quente que envolve boa parte do continente sul-americano, “engolindo” todo o Paraguai – que sofrerá ainda mais, por ser algo como o “epicentro” do fenômeno.
A dissipação dessa bolha – ou “cúpula”, como também é chamada – pode variar entre dias e semanas. Dois fatores colaboram para agravar a situação. Um é conjuntural e fenômeno da natureza: a atuação do El Niño, que faz subir a temperatura das águas do Oceano Pacífico. Outro é estrutural e provocado pela atuação humana: as mudanças climáticas.
Não é de hoje que especialistas apontam que a intensidade dos eventos, cada vez mais forte, está ligada à emissão de gases e ao consumo dos recursos naturais do planeta.
O aquecimento global e as mudanças climáticas estão, cada vez mais, testando a resistência do corpo humano
O que vem acontecendo não tem como deixar de afetar o ciclo hidrológico, bem como todas as espécies vegetais e animais, inclusive na cadeia natural, em que umas dependem de outras. Se essa cadeia se quebra em alguma parte, cria-se um terrível efeito dominó reverso, já que a sequência desenhada pela natureza é interrompida.
Da mesma maneira, o aquecimento global e as mudanças climáticas estão, cada vez mais, testando a resistência do corpo humano. Penam sempre os mais frágeis física (crianças, idosos e doentes) e financeiramente (pobres e indigentes). Em suma, as catástrofes que afetam a vida são o resultado de um alentado “progresso” desenfreado, pelo qual poucos milhares ganham fortunas e bilhões de pessoas vivem em condições precárias.
Sintomático, então, que os negacionistas climáticos sejam seres empoderados e, como os negacionistas na pandemia, digam “a economia não pode parar”, porque não podem parar de lucrar. Seu álibi é sempre o de gerar riquezas. Em sua arrogância adquirida, quem tem dinheiro pensa que, em último caso, poder viver em Marte ou ao menos dentro de um bunker climático. Talvez vivam, na verdade, em Nárnia ou outra ambiência de ilusões criada pelas telas dos cinemas.
Os próximos dias no Brasil serão recheados de notícias sobre altas temperaturas e suas consequências. Que relatemos, Deus queira, fatos os menos graves possíveis. Até passar, a receita do que podemos e devemos fazer é, literalmente, muita sombra e água fresca.